VIII. Elos

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Julho de 2022

Naos


— O suicídio, para Durkheim, pode ser subdividido em três tipos: o egoísta, o altruísta e o anômico... — A voz de Seojoon ecoou pelo auditório da Universidade de Kamu enquanto caminhava pelo palco iluminado.

A aula de sociologia estava com metade de sua lotação e o ritmo da disciplina corria lentamente naquela tarde monótona. Jungkook, escondido em uma das poltronas do fundo, acompanhava o pai com um olhar sonolento.

Estava naquele auditório como mero observador, correspondendo à tentativa desesperada de Seojoon fazê-lo sair do quarto e ter algum contato com o mundo exterior. Jungkook não queria nada disso, preferia ficar deitado em sua cama, lendo seus livros e mergulhando ainda mais em um processo intenso de dissociação.

Depois de muita insistência, resolveu ceder. Então, lá estava ele, infiltrado entre os demais, afundado naquele marasmo, esperando o tempo passar para poder voltar para casa e retomar seu ciclo autodestrutivo.

O som de uma notificação atraiu a atenção dele para o celular. Eram mensagens de Jimin, contando coisas que aconteceram na escola. Ele tinha o costume de fazer atualizações diárias sobre tudo o que acontecia em seu dia a dia, como forma de distrair Jungkook, e sempre funcionava. Falava sobre as intrigas que percorriam os corredores, as provas difíceis, os garotos pelos quais nutria paixões relâmpago, e tudo mais que pudesse tornar a vida de antes mais atrativa.

Jungkook sorriu ao ler as mensagens, depois bloqueou o aparelho para retornar ao seu exercício de espera. No entanto, percebeu rapidamente que estava sendo observado por alguns pares de olhos indiscretos. "Ele é mesmo filho do professor Jeon", ouviu alguém cochichar. "Parece diferente na televisão", disse outra pessoa. "Esse moleque não deveria estar aqui", outro comentário sussurrado.

Sua discrição foi breve, havia sido notado. Sentiu falta de ar, palpitação e vertigem, mas procurou disfarçar o pânico abaixando o olhar e fingindo estar concentrado em outra coisa. Mentalmente, tentou se distrair e esquecer que estava exposto em uma vitrine, mas a sensação era incontrolável e desesperadora.

De repente, a luz de um flash penetrou suas vistas. Olhou para o lado e flagrou alguém que fracassou na tentativa de tirar fotos suas discretamente.

O corpo de Jungkook congelou e um calafrio intenso percorreu a extensão de sua pele. Ele era um animal engaiolado, exibido em um zoológico para as pessoas apontarem e fotografarem. Não havia nada mais em sua existência protegido por valores humanos, tornou-se simplesmente uma atração.

— Ei, eu vi isso! — Seojoon interrompeu a aula para repreender. — Por favor, tenham respeito pela disciplina e pelo espaço pessoal das pessoas. Larguem os celulares imediatamente.

Naquele instante, todos os olhares se voltaram para Jungkook e o murmurinho se tornou maior. Sentia que cada uma daquelas pessoas estava cochichando em seu ouvido e agarrando seu pescoço até que estivesse asfixiado. Era irônico que justo ele, que procurou sempre por holofotes e visibilidade para suas palavras, estivesse tão intimidado diante de pessoas comuns. Desde aquela época, já não era mais o mesmo.

Levantou-se e saiu do auditório sem dizer uma palavra, nem olhou para trás. Ao atravessar as grandes portas duplas, deparou-se com um corredor vazio e silencioso, para sua sorte. Caminhou desnorteado por alguns metros, até se render à fraqueza do corpo e escorar em uma parede para recuperar o fôlego e apaziguar o ritmo do coração.

Talvez estivesse desenvolvendo algum tipo de fobia social, ele chegou a cogitar. Talvez ficar tanto tempo mergulhado em introspecção realmente o estivesse prejudicando, como Seojoon tantas vezes alertou. Fosse como fosse, o fato era que se sentia apavorado diante de pessoas estranhas, e o seu antigo fervor em desbravar o mundo estava adormecido. Então, de que valia sua existência, se tudo aquilo que o movia enfraqueceu?

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