Parte 1 de 2: O Orfanato Bornritter

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I


Ano 1309

O vento soprando entre a pequena abertura de uma janela completamente suja de poeira, incapaz de se ver seu interior quanto mais seu lado de fora. Um quarto coberto por uma enorme nuvem de poeira tocando o teto após a mobília do lugar ser revirada toda. Esse era o estado daquele quarto tão sujo e de móveis velhos, um lugar que anos atrás foi responsável pelo nascimento do conhecido Kai Demônio do Gelo.

Kai, esse não era seu nome verdadeiro, mas preferia ser chamado assim já que era esse o nome que lhe foi dado no orfanato. Ele era um jovem homem de cabelo curto castanho e olhos cor de avelã, não aparentava ter mais do que 26 anos, seu rosto estava coberto de cicatrizes que pareciam terem sido feitas em muitos campos de batalha.

Ele olhava fixamente para a janela suja como se ela mostrasse a visão mais linda de colinas e pinheiros, porém, ainda era aquela janela que não se via o outro lado. O som de ratos correndo abaixo do assoalho podre lhe trazia um certo sentimento estranho junto ao lugar, aquele era o quarto que um dia fora seu em um orfanato.

Ele finalmente abre aquela janela olhando com expressão apavorada através dela enquanto o ar gélido atravessava a abertura iluminando melhor e movimentando a poeira do chão em pequenas espirais com o vento. Quando a luz por fim foi acostumada a seus olhos, ele finalmente vê o que tanto o apavorava, os restos de uma pequena cabana que ainda estava em pé. Seu olhar começa a mudar quando enfim percebe que havia ido para um lugar que jurou nunca mais voltar.

II

Ano 1290

O cheiro de torta de maçã, um alto som de crianças correndo e rindo alto. Aquele órfão se encontrava sentado em sua cama com a janela aberta, admirava o jardim da diretora que amava suas plantas como filhas, uma enorme quantidade de rosas e tulipas era separadas em certas partes do jardim. Uma pequena menina que mais aparentava ser um garoto por seu cabelo curto liso cor loira, um sorriso gigante que parecia iluminar qualquer escuridão de um ser, esta era Sarah. A única pessoa que aquele órfão conseguia ter o respeito.

Sarah, enquanto corria pelo jardim com uma rede telescópica atrás de uma borboleta azul, notou a passagem de Preston com sua vassoura em cima de seu ombro direito, ele era zelador daquele prédio e sempre fora odiado pelas crianças por sempre agir de modo agressivo.

— Cuidado, moleca, não corra por aí como uma tola — falou com seu olhar rígido enquanto se dirigia a cabana enfiando sua mão esquerda no bolso, logo retirando as chaves e abrindo a porta com um enorme rangido das dobradiças enferrujadas.

Sarah apenas passou devagar por um momento olhando para o velho homem quieta, o observando abrir a porta e entrando de imediato fazendo com que ela se fechasse fortemente causando um som alto com a batida. A menina vira seu rosto a procura da borboleta azul, mas não conseguia de modo algum a achar com a cabeça virando de um lado para o outro.

O garoto da janela que a observava sorrindo admirava a expressão inocente de uma pequena garota que só queria brincar, ele nota a borboleta a baixo se destacando agora do telhado daquela cabana, o pequeno inseto levanta vôo indo pelo ar acima da garota que ainda não a via, ela pousa no jardim de rosas ao lado e fica em cima de uma das flores.

— Ela está em uma das rosas Sarah — disse não muito alto o garoto com os braços se cruzando deitados a janela e com sua cabeça para fora.

A pequena ergue seu rosto olhando para o alto, sorrindo levemente de canto quando encontra o olhar de Kai. Ela vira-se para o pequeno jardim de rosas e tenta procurar o azul a se destacar, segurando firme a rede em duas mãos levantadas ao lado do rosto.

O Choro dos Órfãos Onde histórias criam vida. Descubra agora