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matemático
16 anos atrás...

Jean: Ô Luan, tua mãe tá te chamando muleque.

Luan: Ah, tô jogando bola carai - passei a mão no joelho ralado.

Jean: Se eu fosse tu, ia logo - acendeu o cigarro - tu vai apanhar se não chegar lá em dois minutos.

Luan: Chato pra caralho - peguei a camisa do Flamengo jogada no chão.

Jean: Mete o pé, moleque - me deu um tapão rindo.

Luan: Aê, vou descontar seu filha da puta - joguei a pedra e corri.

Meti o pé pra casa, a mãe já tinha avisado que não era pra jogar bola dia de semana mas é mais forte que eu. Meu sobrenome deveria ser bola e meu nome futebol, dou aulas, tá maluco.

Foi papo de cinco minutos e eu escutei as rajadas, fogos no céu e os crias descendo a favela com a peça na mão. Me enfiei em um beco qualquer e de lá corri o mais rápido que pude pra casa.

Renata: Porra Luan, você quer matar sua do coração, caralho? - ela colocou as mãos em mim como se estivesse verificando se eu estava bem.

Luan: Cadê o pai, mãe? - ela suspirou.

Renata: Seu pai foi ver o que é que tá acontecendo, vou acender uma vela e fazer uma oração - foi pra cozinha.

Meu pai é dono disso tudo aqui, a favela toda ama o Neguinho. E desde quando eu nasci isso tudo isso já estava no meu nome mas nem é o que eu quero tá ligado, meu sonho mesmo é jogar bola e jogar pelo Flamengo.

A cada minuto que se passava mais tiros eram escutados e mainha tava aflita, aflita pra caralho, acho que no fundo ela sente que alguma coisa pode acontecer.

E realmente pode, já aprendi que essa vida é incerta e por isso mesmo eu não quero viver disso. Foram muitas as vezes que nós teve que fugir daqui e se esconder em algum lugar longe, já troquei tantas vezes de colegio em um único ano que acabei tendo que repetir o mesmo ano duas vezes.

Bateram na porta e eu não me levantei pra abrir, minha mãe veio até a sala e olhou pra porta.

Renata: Se esconde, Luan, se esconde e não sai até eu ir te chamar.

Eu saí correndo pro meu quarto e me escondi em uma espécie de despensa atrás do guarda roupa.

A frequência dos tiros diminuíram mas isso talvez não seja algo bom, nada significava algo bom até que eu e eles dois estivéssemos juntos novamente, o medo e a morte perseguiam minha família todos os dias.

Escutei um estrondo lá em baixo e caralho, meu coração apertou, não conseguir me controlar e aí tentei sair daquele mesmo lugar mas não tive sucesso, a porra da porta empurrou.

Os gritos de desespero dela só me deixavam mais nervoso e porra eu tava me sentindo incapaz, foi só um chute e a porra empenou. De alguma maneira eu conseguir empurrar, tinha algo atrapalhando a abertura dela mas caiu.

Quando eu finalmente cheguei na sala, tinha algumas coisas no chão. O celular da minha mãe estava despedaçado e a porta estava aberta.

Com o coração acelerado a minha mente estava mil, eu não tinha nenhuma noção do que podia estar acontendo naquele momento. Calcei o chinelo e corri pela favela, os cartuchos de bala pelo chão e alguns corpos já me davam uma ideia do que tinha acontecido, a minha favela tinha perdido e agora nós estávamos nas mãos deles.

Eu tinha que fazer alguma coisa pra impedir eles, ou pelo menos tentar. E eu só tinha um lugar em mente, o galpão.

Meu coração tava sentindo e ele acertou, uma tropa inteira fazendo a segurança do galpão e não tinha nenhum conhecido. Eu sentia que meus pais estavam lá dentro.

Dei a volta no matagal e quando tentei pular a porra da janela alguém me puxou.

Desconhecido: Pegamos o moleque - um cara alto e loiro me segurou pela camisa.

Fui sendo puxado pra dentro e minha mãe começou a gritar pedindo pra me deixarem em paz.

Renata: Larga ele, deixem o meu filho em paz! - gritou desesperada - Ele não tem nada a ver com isso.

Desconhecido: Cala a boca, vagabunda - bateu na cara dela e eu tentei correr.

Renata: Você já teve o que você queria, Naldo, o morro já é seu.

Naldo: E você acha mesmo que é só isso que eu quero? Vocês vão pagar por tudo o que aconteceu comigo. - tira a roupa dela.

Meu pai nessa altura não tinha mais forças pra nada, o coroa estava ensanguentado estirado no chão, ainda estava vivo mas estava fraco.

Me chutaram pelas costas e eu cai de cara no chão.

Naldo: Agora você vai aprender como se trata uma puta.

Os gritos dela ecoavam na minha mente e por mais que eu tentasse não olhar o que estava acontecendo o cara fazia questão de segurar meu rosto com força.

Eu era um fraco, não podia fazer nada pra ajudar a minha própria mãe.

Quando eles terminaram de violentar ela eu sentir que naquele momento era o fim, três tiros disparados na cabeça. A dor era tanta que eu não conseguia expressar mais nenhum tipo de sentimento, aquele cara tinha acabado de matar os meus pais e como ele achou pouco, mandou queimar.

Desconhecido: E esse muleque aqui? - me tirou do chão apertando meu pescoço.

Naldo: Como eu sou bastante compreensivo, vou deixar você sobreviver - pegou no meu queixo - você vai sair da favela e não vai pisar aqui nunca mais.

Desconhecido: Você vai mesmo deixar essa cobra se criar? Quem bate esquece mas quem apanha não.

Naldo: Tu acha mesmo que essa espécie de playboy da favela vai sobreviver na rua? Dou duas semanas no máximo.

Desconhecido: Você gosta de pagar pra ver, Naldo.

Naldo: Hoje é aniversário da minha filha, não quero ser responsável pela morte de uma criança bem no dia que ela nasceu, mas vou te deixar uma lição e você nunca mais vai esquecer de mim - pegou uma espécie de canivete e cortou a minha mão.

Desconhecido: Quando esse garoto tentar te matar eu vou dizer que te avisei.

E ele estava totalmente errado, eu não iria só tentar, um dia eu ainda iria matar esse cara.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora