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nathalia

Nathalia: Eu já falei e espero estar repetindo pela última vez, eu não quero nada que venha dele, não quero o mínimo de contato com esse homem, manda ele enfiar esses presentes na casa do caralho.

Orelha: Porra Morena, não complica minha vida não.

Nathalia: É a última vez que eu aviso que não quero nada que venha dele, da próxima vez eu mesma vou lá devolver tudo! - joguei a sacola nos braços dele.

Tranquei a porra da porta o mais rápido que eu pude, o Dibala mesmo de longe tinha conseguido acabar com a porra minha paz. Ele nunca foi um pai de verdade, muito menos um marido pra minha mãe.

O ódio que eu tenho desse homem é imenso e eu não sei porquê na cabeça dele ele acha que com esses presentes ele vai me comprar.

Eu vi, eu vi minha própria mãe morrendo aos poucos enquanto ele fazia bailes, festas e desfilava pela favela com uma das inúmeras amantes dele. Nunca participou de nada na minha vida, nunca me perguntou se eu estava bem e acha que eu vou acreditar na evolução dele só porquê ele ficou um tempo atrás das grades.

Minha mãe era apaixonada por ele, totalmente submissa. Perdeu boa parte da vida dela porquê amou aquele homem, amou um homem que não merecia o amor dela.

O primeiro câncer dela eu tinha dez anos e eu ainda tinha uma visão de que o Dibala era um homem bom por dentro, eu queria acreditar naquilo. Com o tempo passando o primeiro tratamento dela fez efeito e ela foi curada mas ela não tinha um dos seios e eu me lembro muito bem dele rejeitando ela e fazendo piada, aquilo doeu em mim, mesmo eu sendo apenas uma criança.

Dois depois o câncer passou para o outro seio, o outro seio foi retirado. Ao meus quinze anos mamãe descobriu que tinha câncer no pulmão e com o tempo ele se espalhou pelo corpo, não podíamos fazer mais nada para salva-la. Ele como marido e como meu pai nunca foi visitar a minha mãe ou pelo menos mandar algum recado, éramos só eu e ela.

Quando eu completei dezesseis anos ela faleceu e ele foi preso dias depois e eu fiquei sozinha. Não vou mentir, ele tentou sim me ajudar financeiramente mesmo lá de dentro mas eu não quis, eu não queria nada que viesse dele, não queria nada do homem que matou minha mãe.

Porque pra mim, ela morreu por sofrer por ele.

Então eu comecei a me virar, fazia uma unha aqui e ali, trabalhava em um mercadinho e sempre conseguir sobreviver.

Hoje já tenho vinte e um anos, estou cursando administração pela noite e pela manhã eu trabalho em uma espécie de estágio, por fora ainda trabalho em salão como cabeleireira algumas vezes na semana. Faltam apenas dois meses e aí eu vou estar oficialmente formada, como minha mãe sempre sonhou.

Tudo o que eu sempre fiz foi pensando nela, ela que sempre me incentivou a estudar pois ela dizia que uma mulher que tinha estudo não iria depender de homem pra nada.

E eu quero viver bem, quero sair desse lugar e esquecer que um dia esse homem foi o meu pai.

E bom, eu tinha esquecido mas amanhã é o meu aniversário.

Milena: Eu sendo você aceitaria sim os presentes do Dibala e ainda iria extorquir ele até ele ficar pobre.

Nathalia: Não quero o dinheiro sujo dele pra nada, nunca me serviu e não vai ser agora que vai me servir. Quando menos vínculo com esse homem, melhor.

Milena: Bom, cada uma com sua opinião, né? - eu dei de ombros - vamos comemorar esse bday aonde?

Nathalia: Na casa do caralho, Milena. Esse mês eu tô sem dinheiro nenhum.

Milena: E mesmo assim não aceita o dinheiro do seu pai, eu vi, a sacola da Apple.

Nathalia: Tenho minha dignidade e outra, adoro meu Samsung e nem terminei de pagar. Ainda faltam mais duas parcelas e eu tô livre.

Milena: Eu vou pagar tudinho, hoje é no meu arroba amor.

Nathalia: Depois você tá aí me pedindo dinheiro emprestado, dinheiro que nem eu mesma tenho.

Milena: Eu em Morena, a vida não é só trabalhar não. Não vou me matar pra deixar seu Sinval mais rico não.

Sinval é o patrão dela, dono de uma rede de supermercados. Todo dia ela chega com uma pérola reclamando dele mas o velho é apaixonado por ela e eu sei que rola alguma coisa, Milena recebe menos que um salário mínimo e anda em um luxo que só.

Mas quem sou eu pra falar alguma coisa? Errada ela não está.

Milena: Hoje vamos comemorar seu dia no baile, o negócio lá vai estar gostosinho.

Nathalia: Aff, você me inventa cada coisa - deu língua.

Eu e Milena temos alguns anos de amizade, nós estudamos juntas durante o fundamental e o ensino médio. Éramos aquela duplinha inseparável, fazíamos tudo juntinhas e desde então nossa amizade permanece.

É a única que eu ainda consigo confiar um pouco.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora