Desejo ( Livro1)

Um possível recomeço

Fiquei  completamente abalada com aquele terrível acontecimento, não consegui assimilar o fato de Jason ter sido assassinado, a ficha demorava para cair.

Apesar de tudo de ruim que ele já fez, não merecia um final assim. Sinto que se eu não tivesse o perdoado nunca teria vivido em paz.

Cristian por outro lado, estava sentado no sofá com uma expressão de desespero paralisada em seu rosto.

Tudo que tínhamos que fazer era esperar o pior.

—– Mamãe?

Olhei para trás e vi que a Maria estava no pé da escada esfregando os olhos um pouco sonolenta abraçada a sua boneca favorita.

O medo voltou a assombrar o meu coração de mãe.

Olhei para a boneca em suas mãos e vi que ela me encarava com os olhos vidrados.

Maldita boneca, tenho que ver se não tem nenhuma escuta nela, algum chip que consiga nos rastrear.

—–Vem cá, meu amor — Chamei — Senta aqui com a gente.

Ela se assustou completamente quando se deparou com Cristian do meu lado.

—– Está tudo bem, querida, pode vir —  Assegurei estendendo a mão pra ela.

Ela ficou um pouco relutante, mas depois acabou vindo até mim, em seguida escondendo o rosto na minha barriga.

Cristian estendeu a mão e alisou os seus cabelos, fazendo ela levantar a cabeça, e encarar com receio.

—– Olá, Maria — Disse ele com um breve sorriso

Ele voltou a esconder o rosto, e apertou firme o tecido da minha blusa.

—– Eu vim aqui pedir desculpas pela forma como te tratei outro dia, você e sua mãe — Ele direcionou os olhos pra mim, e eu automaticamente abaixei a cabeça, mas depois que ele voltou a direcionar os olhos para Maria, eu aproveitei para estudar as suas feições.

Ele parecia realmente arrependido.

—– Bom, como só as minhas palavras não vão adiantar, eu...trouxe uma coisa pra você — Ele completou levando a mão até o bolso e retirando de dentro dele uma pequena caixa.

Maria novamente levantou a rosto e o encarou, para depois olhar para a caixinha com detalhes infantis e brilhantes.

Cristian a olhava com um olhar esperançoso e um sorriso largo, expressando sua satisfação, apesar de por dentro está destruído pela morte do irmão, mas ele estava disposto conquistar confiança dela a qualquer custo.

Aos poucos ela foi se desprendendo de mim olhando atentamente para Cristian, como se avaliasse a fundo sua intenção. Por fim, ela acabou pegando o presente. Mas se afastou rapidamente quando Cristian fez menção de toca-la.

E isso o fez ficar triste e ressentido, mas mesmo assim ele se tratou de pôr um  sorriso no rosto para esconder.

—– Pode abrir — Disse amoroso

Por um instante eu olhei para ele e lembrei de quando ele comprava presentes para mim, era o mesmo olhar de satisfação. Ele não queria compra-la e sim agrada-la. Queria vê-la sorrir.

Sorri emocionada com a sua linda atitude.

Maria desatou cuidadosamente o nó do  laço, mas antes de abrir a caixa, ela olhou para mim como se precisasse da minha confirmação de que aquilo não era o armadilha.

Balancei positivamente a cabeça sem consegui conter as lágrimas.

Ao abrir a caixa, sua expressão se suavizou por um momento e ela deixou escapar um meio sorriso, puxando de dentro um pequeno e singelo colar, dourado e com um lindo pingente com formato de pássaro.

—– Mamãe, olha...

Ela ergueu o colar na minha direção, com uma alegria imensa. Eu fiquei feliz e comovida ao mesmo tempo pelo gesto tão simples de Cristian. Maria adorava pássaros, ela saltitava de alegria sempre quando via as pequenas aves sobrevoando o céu.

Com certeza ela estava muito contente com o presente.

Ela voltou seus olhos azuis para o pai e o questionou:

—– Como você descobriu que eu gosto de pássaros?

—– Um passarinho me contou? Cristian respondeu, e depois olhou pra mim e sorriu.

Aquele sim era o sorriso pelo qual eu busquei todo esse tempo que passei sem ele.

—– É mentira, passarinhos não conversam

—– O passarinho que me contou era diferente, esse era mágico.

Os olhos de Maria se arregalaram, fascinados.

Cristian se ofereceu para colocar o colar em seu pescoço e ela aceitou sem hesitar.

Segurei os cabelos dela para ajudá-lo, e nesse meio tempo nossos olhos se encontraram. Me fazendo sentir um familiar frio na barriga.

—– Pronto — Ele assentiu ainda com os olhos fixos nos meus, desviei o olhar para Maria.

—– Vamos ver como fica no espelho filha? — Perguntei a ela, animada.

—– VAMOS! — Gritou empolgada.

Peguei em sua mão e a levei para um grande espelho que tinha ali mesmo na sala.

Afastei os seus cabelos para trás e encarei seu reflexo no espelho. O colar tinha ficado lindo nela.

Ela também adorou, ficou muito contente com o presente. Eu olhei para o reflexo de Cristian e demonstrei  preocupação com o nosso futuro daqui pra frente.

Inesperadamente, Maria passou por mim e foi até ele, ela gritou por alguns instantes, mas depois o abraçou.

A princípio ele ficou reação, depois se agarrou firme a ela como se não fosse mais soltar.

Como se o abraço dela fosse a coisa mais importante do mundo pra ele.

Fiquei olhando aquela cena comovida, depois me juntei a eles em um abraço coletivo.

Será esse, um possível recomeço?