Barulhos.
Nada mais além de barulhos.
Caixas abriam, caixas fechavam. Uma voz cantando Candy da Doja Cat dava voltas pelo quarto todo colocando coisas nas prateleiras. E fotos do Harry Styles.
Cabelos longos e moletom largo, era meu único foco no campo de visão após uma noite de sono terrível. A garota elétrica não parece se importar muito com a minha presença, o que não é nada surpreendente pra mim que fui excluída durante quanto tempo mesmo? Ah! 19 anos.
- Que horas são ? - Pergunto. E não tenho resposta. Ela continua pegando coisas nas caixas e colocando em sua frente, como opções. As cores pretas sempre ganhavam independente de qual fosse o objeto que ela tirava no baú de tesouros, não era um gosto ruim.
Gosto ruim era o que estava na minha boca. (Piadista)
O banheiro que eu acabara de entrar, cheirava a gatos. E um perfume doce. Era bem estranho na verdade, mas não estava incomodada. Escovei os dentes, e fiquei ali. Parada.
Chega de se esconder...
Acho que isso numa mais ia sair da minha cabeça, preciso enfrentar minha realidade e seguir em frente. É uma nova fase, todos nós estamos destinados a passar por coisas assim, escola, faculdade, trabalho e depois...e depois?
Um banho de agua gelada naquela manhã, que eu mal sabia direito qual era mesmo o horário. Sequei meu cabelo só com a toalha, e sai do banheiro com um moletom cinza, único acessório necessário hoje. E sempre.
- Droga. - Resmunguei tentando encontrar meu celular, ainda não sabia o horário.
- 8:45. - Respondeu a garota. Tão fria quando uma nevasca, era engraçado como sua aparência doce enganava muito - 10 minutos pro café da manhã acabar na cafeteria.
- Merda.
Coloquei um par de tênis aleatório que estavam debaixo da minha cama, a qual eu não me recordo de ter largado eles lá. Os dormitórios não eram tão longe do refeitório, era uma vantagem pra todos os atrasados e sem relógios como eu.
A movimentação em pleno sábado 8 da manhã me assustava.
E é claro que não posso deixar de me deparar bem com um grupinho inusitado, junto com as meninas super poderosas. Elas estão arrumadas, com roupas esportivas e maquiagem mantendo um aspecto natural, embora eu nunca achei que elas precisassem mesmo de tanta maquiagem.
O garoto do outro dia, eu me lembrava dele. Me lembrava muito bem. Seus cabelos enrolados eram tão chamativos quanto o tom verde dos seus olhos, chegava a ser irritante a quantidade de qualidades que eu podia citar. Mas, estava ao lado de Aurora. Pareciam um casal, eram um casal?
Eu não sei. Tudo que eu sei é que preciso passar despercebida por esse corredor doloroso de pessoas estranhas. Sim, estranhas. Senti alguns olhares do grupinho vindo até mim, mas não me esforcei pra ter certeza.
Refeitorio praticamente vazio, já começamos bem.
Faltando apenas alguns minutos pra se encerrar o café da manhã, enchi minha bandeja com morangos e tortilhas. Só. Eu nunca tive tanto costume de comer coisas muito pesadas de manhã, me deixavam ainda mais cansada.
****
Recebi a chave do meu armário.
Ainda bem que aqui ainda tinham esse costume de utilizarem armários. Eu voltei pro quarto pra me trocar depois que sai do refeitório, e atravessei o campus com alguns livros, seria mais fácil tê-los no armário antes de começarem as aulas. Ou então seria uma tortura andar todos os dias de um lado pro outro com uma dúzia de livros nos braços.
Colei 3 polaroids na porta, e meus adesivos de grafite. Eu nunca desisti do grafite, era sempre minha forma de distração, mas eu virei adulta e fiquei sem tempo nem pra respirar. Seria bom se todos nós pudéssemos acrescentar mais algumas horas nos nossos dias.
- Armário legal, novata. - Disse o garoto de cabelos enrolados, abrindo seu armário do meu lado.
- Obrigada?... - Respondi. Totalmente sem graça.
- E então, em qual corredor você está? - Perguntou, interessado.
- Como vou saber se não estou falando com um serial killer escondido entre um uniforme de universidade?
- Seria sem graça e você soubesse, fofinha. - Disse, passando a língua entre os lábios. - Posso saber o nome da senhorita desconfiada?
- Prefiro me manter anônima, assim faz mais sentido o suspense entre uma vitima e o serial killer misterioso. - Isso que eu disse fez mais sentido na minha cabeça, no entanto agora soava patético.
- Um serial killer pode se apaixonar por uma vitima ?
- Bom, analisando as hipóteses, o filme não duraria 10 minut...
- Timothée. - Ele me interrompe. - Esse é o meu nome, a não ser que queira continuar me chamando de serial killer.
- É eu não acho que vou ter muitas oportunidades de te chamar assim.
- E o seu nome, senhorita? - Ele insiste em saber.
- Prefiro continuar anônim...
- Fleur, você viu a minha gata antes de sair do dormitório? - Surgiu Julie de repente.
Maldita Julie Karls, maldita.
- Fleur, xeque-mate. - Comentou Timothée se afastando, mas sem tirar os olhos dos meus - Não foi difícil achar o nome da minha vitima, acrescenta mais 10 minutos no nosso filme.
E ele some de vista.
Agora oficialmente eu sou vitima de um serial killer inexistente.
- Alô, eu ainda tô aqui - Tinha me esquecido de Julie.
- Eu não sabia que você tinha um gato, Julie.
- Uma gata, Fleur - Corrigiu - Mas, esse garoto que saiu daqui é um gato mesmo. Seu namorado ?
- Não, é claro que não, jamais, não ele não é... - Gaguejei - Acabamos de nos conhecer, acho que ele tem namorada. Sei lá, vive andando com uma garota do lado dele.
- 10 minutos de conversa e você não perguntou se ele tem uma namorada ? - Deu um passo em direção ao lado dos dormitórios
- E nem o nome dele. - Acompanhei.
- Você só pode tá de brin...
- É eu tô brincando - Minha vez de interromper - Ele que não sabia o meu, e nem iria saber até você aparecer quase anunciando pro mundo todo.
- Queria que eu te chamasse de que? Estranha dos cards de One Direction? - Sugeriu.
- Shhh! Tá bisbilhotando minhas coisas ? - Sussurei - Xereta.
- Fã de banda morta. - Ela revidou. Poderia acabar com ela em 10 minutos só pelas fotos do Harry Styles na prateleira.
Pelo visto não seria nada fácil lidar com uma colega de quarto como Julie. Ela era tão misteriosa quanto qualquer pessoa, não tinha como diferenciar suas emoções, é a mesma cara de seca de sempre. Uma seca bonita.
Ela continuava andando até o dormitório, não era um dos meus planos voltar pra lá, mas eu só a acompanhei. Ela ainda precisava de ajuda com a gata? eu não sei.
Timothée.
Ainda era curioso o fato dele ter puxado uma conversa comigo. E por que ele queria tanto saber quem eu sou?
Suspeito.
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Love you, fãs. :)
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Bitches After Midnight
FanficUnidas por uma faculdade disputada e seus talentos distintos, a vida adulta dessas garotas está prestes a começar. Só o amor é capaz de manter esse vinculo tão forte, mas será que é o suficiente? Relacionamentos, traições, segredos... Tudo pode aco...