Capítulo 2 - A descoberta de uma lenda urbana

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Ao chegar em casa, saí atropelando tudo pelo caminho e apenas joguei a mochila para um lado e os sapatos para o outro para me deitar com urgência na cama, afundando como uma pedra no colchão, sem sequer tomar um banho e trocar as roupas escolares. O meu corpo pedia por várias horas de sono, talvez até por uma hibernação, mas ao mesmo tempo a minha barriga roncava de fome.

— Sasha, não chegue em casa como um tufão indo direto para a cama! — reclamou minha mãe, que entrava em meu quarto locomovendo-se em sua cadeira de rodas e recolhendo os objetos que espalhei pelo chão. — Se deixar tudo bagunçado, irá dificultar o meu acesso ao seu quarto, ou é essa a sua intenção: se isolar?

Ela era uma bela mulher na faixa dos quarenta anos de idade, tendo um cabelo comprido e tão sem melanina quanto o meu, assim como a sua pele branca leitosa. O seu rosto era bem largo, com destaque para o maxilar redondo, bem diferente do meu. Não tínhamos traços tão próximos além do albinismo, pois eu herdei mais características físicas de meu pai, apesar disso, ainda possuía os mesmos olhos em formato amendoado e nariz pequeno e fino de minha mãe.

— Desculpe, mãe, mas eu sinto como se fosse desmaiar de sono a qualquer momento, porém, a fome não me permite apagar e o cansaço não me deixa levantar um dedo para pegar algo para comer... — disse com a voz abafada, pois tinha afundado a cara no travesseiro.

— Seu pai lhe advertiu que, caso alcançasse o nível de uma super aniquiliana um dia, a transformação rubra deveria ser usada com muita cautela, pois ela exige demais do corpo e pode até mesmo te matar! — relembrou minha mãe uma das lições proferidas pelo meu falecido pai.

— Eu uso a transformação rubra apenas por alguns minutos quando vou ajudar as pessoas em perigo e volto ao meu estado normal quando saio de ação. Passo a maior parte do tempo no alto de prédios observando a cidade à noite, atenta a qualquer coisa suspeita, perturbação da paz ou um pedido de socorro. Eu sei o que estou fazendo, mãe! — retruquei, revoltada por ela não confiar na minha prudência em lidar com aqueles poderes especiais.

— Eu não entendo o porquê de usar a transformação rubra contra os terráqueos. Nossa espécie é naturalmente mais forte e mais rápida do que o melhor atleta deles no auge de seu vigor físico. Até mesmo as armas que eles utilizam, em sua maioria, não são capazes nem de nos fazer cócegas. — comentou minha mãe.

— Eu uso a transformação rubra pelo impacto visual que ela causa! Todo aquele brilho escarlate emanando de meu cabelo quando me transformo faz a maioria dos bandidos correrem no ato! Além disso, as cores mais vibrantes da transformação ajudam a disfarçar bem as minhas características albinas raras, caso contrário, seria fácil descobrirem quem está por debaixo da indumentária de heroína! — expliquei o meu ponto, erguendo meu corpo e ficando sentada na cama enquanto encarava minha mãe. — Muitas vezes nem preciso atacar diretamente os bandidos, na verdade, só uma vez eu acertei um sujeito em cheio com um chute na boca, porque ele tentou estuprar uma mulher num beco! — esbocei uma expressão furiosa ao lembrar do caso.

— Foi muita sorte se ele não morreu com o seu ataque... — ponderou minha mãe, fitando-me seriamente com seus olhos tão translúcidos, que os vasos sanguíneos localizados na parte de trás do globo ocular eram visíveis, dando a impressão de que eram rosados.

— Eu sei controlar a minha força, mesmo com a transformação rubra, mãe! No máximo arranquei alguns dentes daquele traste! — informei, convicta.

— Entenda que os terráqueos são mais frágeis do que nós aniquilianos. Você foi criada na Terra, mas seu corpo, sua genética, é diferente de todos eles, mesmo que externamente sejamos parecidos, nunca serão equivalentes a nós. Portanto, minha filha, você pode acabar matando alguém, mesmo que sem querer, além de chamar muita atenção para nossa família novamente. Nosso foco deveria ser viver em paz neste planeta, como seu pai também queria! — alegou minha mãe, censurando-me com seu olhar.

Providência Indomável (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora