CAPÍTULO 2

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VIOLETA SALLES

O domingo havia chegado mais rápido do que eu previa e desejava.

A sensação persistente de que havia algo pútrido por trás de toda essa coisa não ia embora, mas outra das coisas que eu também havia aprendido com o passar do tempo sobre o sobrenome Salles, mais precisamente para as mulheres, era que jamais deveríamos questionar nada. E sendo meu pai o líder desta, já era motivo o suficiente para eu me sentir apavorada, já que nada de bom vinha dele. Mesmo sendo nas boas intenções.

Deveríamos ser como bonecas: bonitas, quietas e caladas.

Desde o momento em que acordei, o resto da manhã passou calma. Saltei da minha cama e fiz a rotina higiênica matinal de sempre e depois disparei para a biblioteca e me inundei ainda mais no universo sensual e erótico que o livro que ainda estava lendo me proporcionava. Max, como sempre, me dava o prazer de sua companhia, jogado no chão lendo suas inseparáveis HQs, esfregando o dedão do pé frio em meu tornozelo. Se recusando, mais uma vez, a me deixar sozinha. Como se o fizesse, algo de muito ruim fosse acontecer.

Depois do almoço foi que a agitação começou de verdade, mesmo durante a refeição podíamos ver e ouvir a agitação do lado de fora da casa. Os empregados correndo contra o tempo pelos jardins e pela primeira vez na vida meu pai pareceu não se incomodar com o caos quando tudo que prezava na vida era um almoço silencioso e em paz.

Seja lá o que signifique o jantar desta noite, é importante.

As empregadas limpavam o mesmo canto tantas vezes que, em certo momento, quando desci às quinze da tarde e toquei o corrimão da escada, jurei que realmente estava brilhando. O cheiro enjoativo de lavanda e flores do campo exalando por toda a casa.

Caminhei com uma das mãos na barriga e a outra tapando o nariz e a boca, enjoada, até a ala dos empregados, em direção a cozinha. Ada – a cozinheira chefe – não me permitiu entrar, mesmo eu dizendo que estava com fome e que queria apenas pegar algo para comer. Ao mesmo tempo em que ela guiava com maestria o restante dos cozinheiros auxiliares. A cozinha estava um caos e cheirosa.

Fui expulsa aos empurrões, Ada jurando de dedo mindinho que Irene iria me levar algo para comer em alguns minutos, um lanche rápido, e eu cedi, não querendo atrapalhar mais do que com certeza estava fazendo.

Voltei para a biblioteca, onde a mesma nesse exato momento era somente minha. Sentei e me encostei no divã, olhando para o teto abobadado e a enorme quantidade de livros perfeitamente enfileirados nas altas estantes que iam do chão até quase o teto. Não eram todos meus, claro, mas a maioria sim. Cada estante com placas douradas entalhada com o gênero.

Suspirei e abri o livro mais uma vez, faltava pouco e havia começado há dois dias. Entorpecida em cada página que pareciam não ter fim e na tensão crescente entre os personagens que não sabe se se amam ou se odeiam. Pulei para fora do livro quando a porta foi repentinamente aberta e Irene apareceu, segurando uma bandeja de prata com uma tigela média de porcelana branca. Próxima o suficiente, vi que estava cheia de várias frutas vermelhas.

Irene repousou a bandeja na mesinha do lado do divã e saiu sem dizer mais nenhuma palavra. Olhei para a tigela e revirei os olhos. Que ótimo lanche! Um mix de frutas vermelhas. Teria de servir até o jantar.

Eu não precisava de muito para adivinhar que Ada e Irene estava simplesmente acatando as vontades do meu pai e que se dane o que Violeta Salles pensa ou quer. Segundo ele, eu estou gorda demais para uma mulher Salles, mesmo com os ossos da costela mascando a pele.

Depois de comer e ler um pouco mais, a noite enfim havia chegado.

Meu pai havia ido ao meu encontro pessoalmente, pisando novamente na biblioteca em menos de um mês, o que é considerado um recorde, já que se recusava a entrar ali. Pois sentia-se sufocado com tantos livros inúteis – palavras dele.

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⏰ Última atualização: Apr 21, 2022 ⏰

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