CAPÍTULO 1

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Gabriela Martínez 

Eu sei. Eu sei que você está acostumado com livros clichês onde tem uma mocinha de vinte e poucos anos, que estuda e se apaixona por um homem lindo de morrer…

Eu sei. Eu também estou - afinal eu reviso e traduzo vários desse tipo - e confesso que prefiro bem mais essas histórias, pois nelas temos um final feliz não importa o que aconteça.

Mas aqui a história é diferente. Eu já estava na casa dos trinta, para ser mais exata no próximo mês eu faria trinta e um anos. 

Já era casada, e estava farta da vida que levava, queria mudar.

Desde os vinte anos casada e tendo o mesmo homem, não deixei de amar meu marido, mas sim, a vida que eu estava levando. Tudo monótono, parado... 

Eu caçava algo que me prendesse nessa "vida", mas na real, não tinha.

As crianças que poderiam ser o motivo, já estavam crescidas, entrando na adolescência. 

Milena, a mais velha, estava com quase onze anos e Eduardo, o caçula, já tinha nove. Eduardo era mais criança, mas mesmo assim não era impedimento.

Durante esses anos de casamento fomos muito felizes, construímos muitas coisas juntos, ficamos realizados com nossos filhos, mas alguma coisa se perdeu no meio do caminho. 

É lógico que eu não vivia no século passado, onde os casais não poderiam se separar, mas também acreditava que eu não poderia jogar fora mais de dez anos de casamento sem antes ter certeza de que era isso que eu queria de verdade.

Eu vinha pensando sobre isso há muitos meses. Eu era realizada na área materna, amava meus filhos, amava cuidar deles, fazer as coisas por eles. Na área profissional ia de vento em popa, eu revisava textos e também era tradutora, então de casa mesmo eu trabalhava para pessoas de todos os cantos do mundo.

Financeiramente não podia reclamar de jeito nenhum. 

Eu morava em uma fazenda, poucos quilômetros da cidade, eu adorava aquele lugar, aquela calmaria que o interior trás. 

Minha casa era enorme, fizemos pensando em nossos filhos e na nossa velhice. 

Mas minha vida conjugal, amorosa...

Eu lia tantos livros com cenas eróticas,  revisava tantos textos a respeito desse assunto, mas fazer, que era bom... Não me lembrava da última vez, talvez duas ou três semanas atrás...

Eu estava disposta a recomeçar, me descobrir novamente, procurar dentro de mim aquela Gabriela que eu não encontrava a algum tempo… Tempo demais.

Meus cabelos, não me lembrava quando tinha sido arrumado em um salão, as unhas então... Minhas roupas eram sempre horríveis, rasgadas, velhas...

Não queria mais isso! Estava decidido!

Parada em frente ao espelho do meu enorme banheiro, eu tinha tomado minha decisão: Eu iria mudar.

●●●●

Decidida com o rumo que eu iria tomar, primeiro eu teria que conversar com Vicente. O coitado nem imaginava o que se passava na minha cabeça, mas talvez se ele prestasse um pouco de atenção iria ver que nós dois estamos indo em caminhos opostos.

Depois de dar janta para as crianças eu fui tomar um banho e me preparar para a conversa que viria a seguir. 

Vicente continuava o mesmo desde o início do nosso relacionamento. Tão bonito, amoroso, brincalhão... Talvez ou com certeza a única pessoa que mudou nesses anos foi eu. Eu queria mais. Queria que Vicente fosse mais sério em alguns momentos… Ele tinha um coração mole, - para não dizer trouxa - que às vezes irritava. 

Ele vinha daquelas famílias que fazem o que querem com os filhos e quando erram ainda os culpam. Ele sabia disso, mas sempre perdoava e depois levava a culpa das coisas de novo. 

Eu nem sabia como nós tínhamos conseguido conquistar algo para nossa família, por que tudo os outros queria pegar e mandar, sem nunca ter ajudado.

O único defeito de Vicente era ter aquela família. Mas família a gente não escolhe né?!

Se ele me ouvisse, talvez nosso relacionamento não tivesse  esfriado, mas não aguentava mais.

Eu sempre avisava, e no final eu estava certa, mas ele não ouvia. Era cego.

De mim ninguém nunca gostou, hoje tenho completa certeza que era porque eu sempre enxerguei como eles são de verdade.

Vicente que me desculpasse, mas não queria mais isso para mim. Me sentia sufocada. 

Eu o amava, mas amava mais a mim mesma. E estava na hora de me dar esse amor, eu suplicava por atenção. 

Queria ser eu mesma, rir e falar alto.   Vestir o que me desse vontade, sair e voltar quando desse na telha. Gabriela, eu iria te trazer de volta!

DONA DE MIM - [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora