Prólogo.

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"O Jardineira por que estais tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
Vem Jardineira!
Vem meu amor!
Não fique triste, que este mundo é todo teu. Tu és muito mais bonita que a camélia que morreu."
- Marchinha " A Jardineira."


                        
A quanto tempo estava ali? Parada em frente aquele espelho. Observando calmamente como seu reflexo lhe mostrava algo belo mas, sem vida e sem alegria. Ela mesma.

Nunca tinha se visto tão bonita antes. Aquele vestido branco, adornando seu corpo do pescoço aos pés delicadamente incrustado de pérolas e bordados nas camadas sobrepostas de tule da saia. Isso sem falar do toque pueril daquela fina e charmosa musselina completando assim a saia de seu vestido. Ao subir um pouco o olhar não podia ignorar como aquela renda envolvia gentilmente seu busto e ombros até mais o menos um palmo de seu  antebraço. Logo abaixo, as luvas escondendo suas mãos, pulsos e cotovelos como o mais precioso segredo. E o motivo delas estarem ali lhe lembravam justamente o por quê dessa comparação. Afinal, teria desrespeito pior do que um homem encostar suas mãos em uma moça sem suas luvas? Ainda mais ela sendo sua noiva? Ele só poderia fazer tal coisa depois do "sim". Onde tiraria a luva para enfim colocar a aliança e beijar a noiva. Só de pensar nessa parte estremeceu por dentro. E claro, o toque final: o véu. Sim, o véu. Adornado e confortado caprichosamente por aquela linda grinalda que assim como o seu vestido estava decorada por lindas pérolas.

Estava linda de fato. Mas, por que não conseguia sorrir? Ou simplesmente esboçar qualquer ânimo? Qualquer sinal de vida que fosse?
Bem, a verdade era: não queria aquilo. Nada daquilo! Só queria poder fechar os olhos e ao abrir estar de novo na biblioteca do Sr. Button. Olharia em volta e notaria que ao canto de sua boca restara apenas um pequeno filete de baba denunciando a soneca ressente pela rotina de trabalho agitada que levava desde os 18 anos. Foi assim desde que se mudou para a Inglaterra. Quando sua mãe morreu a deixando órfã, afinal seu pai era um completo traste imprestável que traiu sua mãe e a deixou sozinha com um bebê para criar. Olharia para o relógio e veria que faltava apenas 15 minutos para bater o seu ponto, e então seguir para a Sra. Blanchet onde era costureira e fazia bainhas tão rápido quanto a fofoca que corria solta lá dentro entre sua Chefe e as clientes. Todas curiosas e alvoroçadas com as fofocas quentes da temporada que imperava já há cinco meses na Inglaterra tendo seu início em janeiro. O burburinho de qual senhorita se casaria e qual deixaria para conseguir um pretendente só na próxima temporada. Quem iria debutar e quem iria ficar para "titia".

Mas, foi então que em umas dessas conversas soube de um novo convidado ilustre que estava a visitar a corte da Rainha Vitória e até então não se sabia nem de sua aparência física ou seu nome. Tudo o que pude ouvir das clientes fofoqueiras era que ele era um Arquiduque e que tanto as suas terras quanto seu dono eram da Escócia. E claro, deram um jeito e descobriram o que mais queriam saber: ele era solteiro e iria fixar sua estadia na Inglaterra pelo último mês que  da temporada que se aproximava na semana seguinte.
Nisso passou-se uma semana e para sua surpresa não é que elas conseguiram descobrir outras informações e até seu nome? Arquiduque Thomas Elliot Graham. Se soubesse o que esse nome faria para ela hoje... teria fugido. Mas é aquela velha história: nem tudo é como a gente quer.

Ele era muito reservado, tanto que mesmo nos Bailes mal sabiam a sua aparência! Ele não queria que soubessem, e a rainha como grande amiga o ajudou muito bem, pois sabia que Thomas era na dele e não estava nem um pouco afim de ter mães escandalosas atrás de si com suas filhas solteiras em seus encalços dispostas a tudo para casá-las com alguém de prestígio e acima de tudo, rico.
Esse foi o grande mistério que todos queriam saber. Quem era esse Arquiduque? Como era seu rosto? Será que realmente existia? Ou foi só um boato inventado para instigar a todos e salpicar ainda mais a curiosidade dos fofoqueiros nessa temporada?
A verdade era: ele existia. E agora estava a olhar para mim do mesmo modo que olhou a primeira vez que nos vimos a três anos atrás naquela temporada, quando em um dia normal de trabalho na biblioteca do Sr. Button eu estava a organizar os livros sobre mitologia grega, romana, nórdica e egípcia em seus devidos lugares. Nunca vou esquecer seu olhar. Aqueles olhos verdes, escuros como as folhas de chá de guaco que minha avó cultivava e usava para fazer chá para mim quando eu estava doente. Que diga-se de passagem era muito ruim! Eu nunca gostei de chá. Mas a lembrança da minha avó era muito boa. Ou então, seus cabelos ruivos como os pelos de uma raposa. Mas eu deveria saber que ele não iria embora tão cedo só pelo jeito que me olhava, ou como falava ou só pelo jeito delicado que segurou a  minha mão e a beijou mesmo eu tendo explicado que estava até agora a mexer e a  revirar livros velhos, o que eu particularmente adoro mas outros não pelo cheiro de velho, e me dizer "está tudo bem ".

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