Escuro, imóvel e raivoso, este era o estado daquele grande tubarão branco, tentando se livrar das amarras, mordaça e saco de batatas o qual foi capturado. Sentia-se puxado por algo maior que ele, parecia não pestanejar com a movimentação do irritado. Derrepente, seu captor o lançou no ar, demorou pouco mais de dois segundos para atingir o duro solo, escutava xingamentos e risadas abafadas, o cheiro de álcool e suor invadiu suas narinas e, enquanto rolava com dificuldade, percebeu que o chão parecia madeira.
Por fim, alguém cortou o saco com uma faca, um velho lagosta partiu suas amarras com as pinças e um sorriso nojento no rosto. Instintivamente levantou-se, lhe dando um soco bem dado na fuça que o fez cair, Samekichi então viu suas vestes, olhou para os lados e se deparou com inúmeras criaturas do Mar Azul bebendo e rindo como degenerados, mas havia uma parte dedicada somente a um indivíduo. Este se mostrava de roupas mais sofisticadas que a luz da lua refletindo o mar negro azulado da noite, um único olho morto de tédio, na cabeça um chapéu mais parecido com coroa, sentado de pernas cruzadas num trono improvisado com tábuas, barris, um leme adornado em ouro e um longo mastro o qual portava uma bandeira negra com um crânio, uma âncora e corais nela desenhados.
Ali o Tubarão percebera o que houve após nadar para tão longe, o grande navio pertencia aos imundos piratas do Mar Sem Lei, e agora não passava de um mero gladiador em seus jogos sanguinários. Velozmente, o velho caranguejo o atacou novamente com uma espada curta e curvada, por sorte Aonami apenas ganhou um corte abaixo do olho direito. A casca do inimigo era dura ainda que antiga, nada que um tubarão não pudesse destruir com barbatanas e socos.
Já estava cansado, outros três desafiantes tentaram a sorte e sairam desmembrados, via a plateia aumentar as apostas, ouvia uns acreditando em sua vitoria, ganhando bebidas, joias roubadas e xingamentos de perdedores. Passou por sua mente a idéia, se ganhasse fama o bastante, o tratariam como celebridade, dando chance para uma fuga, o objetivo era claro nos seus olhos, não poderia descansar enquanto aquele albino desgraçado estivesse no Mar Azul. O silêncio da legião fedorenta anunciava o próximo desafiante, do escuro abaixo dos portões surgiu um lampejo de luz, foi apenas piscar os olhos e um anzol serrilhado pescou sua clavícula.
O rosto se avermelhou, com veias saltando para a pele e dentes bloqueavam os gritos de dor. Em um momento de lucidez, Samekichi puxou a linha, assim pescando o pescador; aquele do outro lado era um pequeno demônio, de roupas borrachudas e chifres curvados como anzóis. Apesar de pouco ameaçador, foi capaz de assustar o tubarão, voando até sua cabeça com o impulso, lhe dando um forte chute.
"A sola dessas botas são feitas de FERRO?!" De fato eram de ferro e não eram a única arma que o Pescador tinha. Além de armas tradicionais, escondia ganchos, redes e até gaiolas se escondiam na capa de chuva, como todo demônio, não exitava em usar truques mágicos sujos. Mas claro, Samekichi não se deixaria vencer tão facilmente, não se faz um grande tubarão branco apenas com força bruta, mesmo fora da água, mudava sua forma para escapar e aguentar certas ofensas, cortava linhas com seus dentes e barbatanas.
De um lado, Aonami com severas feridas e do outro, um Pescador já sem truques, ambos partiram em um tudo ou nada, cutelos batiam e barbatanas, a plateia perdeu o fôlego, foi a loucura, tal embate parecia não ter fim.
Felizmente, algo chamou a atenção de todos, uma grande âncora caiu sobre os dois, afastaram antes que fosse tarde, quem estava na âncora era aquele que sentava no trono improvisado. Samekichi se arrepiou ao ver aquele homem cujo o tamanho humilhava o seu, parecia que esse "Rei dos Piratas" lhe daria um soco tão forte que atravessaria todas as paredes da embarcação. Tal presença silenciou até a ensandecida tripulação chapada de rum, ele girou o rosto para o Pescador.
- Como queira... Capitão - diferente do resto, sua voz não era trêmula.
- Escuta aqui! "Capitão", eu não sei o que quer comigo, mas se eu tiver que estripar você pra sair daqui! Eu vo -
Antes que terminasse a ameaça, o conteúdo vermelho e fedido de um balde foi jogado nele pelo pescador. Sentiu a visão escurecer e uma raiva o cosumir, mesmo em frenesi percebeu que o Capitão arregaçou uma das mangas, estendendo seu braço em um ato de zombaria. Samekichi não resistiu e abocanhou aquele braço com toda a força, o resultado surpreendeu apenas ao guerreiro.
Voltando a si, Aonami estava urrando no chão, as mãos vermelhas de sangue seguravam sua bocarra desprovida de dentes. Dentes estes que estavam espalhados nas tábuas da arena, não pode evitar lágrimas de dor pelos olhos. Mesmo com visão borrada, uma imagem o deixou trêmulo, o braço do Capitão permanecia firme e forte, apenas um de seus dentes perfurou aquela pele dura feito coral, o único dente que não se estilhaçou, o dente que ele pegou em suas mãos.
- Heehe... hahahaha! Gostei de você dentinho - se aproximou, ajudou Samekichi a se levantar, pegou uma de suas mãos e a ergueu - Um novo membro para a Tripulação!
Todos foram a loucura, aqueles que o xingavam, agora o amavam.
Ele estava sem forças.
Apenas aceite.
Você está cercado...
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Kadmon AU/One Shots De Okegom
FanficAqui escreverei algumas histórias que se passam no Verso criado por Funamusea. Os acontecimentos aqui descritos apresentam um leve vislumbre dos eventos distintos dessa AU