Prólogo

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Ana era uma menina comum. Não havia nada de extraordinário nela, exceto talvez sua inocência e paixão pelos animais. A primeira herdada de seu pai, que sempre fora inocente demais para o próprio bem. A segunda de sua mãe, que parecia ter uma estranha ligação e influência sob a maioria dos bichos da floresta. Eles viviam em um reino que Ana acreditava ser pacato. Seguro. Seu pai, o rei, supostamente garantia essa segurança.

Tudo era normal. Tudo era tranquilo. E foi assim por muitos anos. Até aquele fatídico dia.

Ana não entendeu como aconteceu. Ninguém explicou. Subitamente sua mãe estava em uma cama, incapaz de levantar. Seu pai a mandou ir conversar com ela, se despedir. Ana não entendeu nada, mas fez o que foi pedido. Sua mãe parecia ainda mais pálida que o normal, ela sempre teve a pele do tom da neve, era de um branco assustador, Ana nunca tinha visto  ninguém assim, e agora estava ainda pior. Seu cabelo, sempre tão preto quanto carvão, agora estava desbotado e seus lábios vermelhos da cor de rosas estavam sem vida alguma. Ela gesticulou para que Ana se aproximasse. 

- Escute bem o que eu tenho a dizer, minha cara Ana. - Ela disse, mais baixo que um sussurro. - É seu dever proteger esse reino. Seu. Nunca se esqueça disso. Foi meu dever por muitos anos. Da minha mãe. E da mãe dela. E agora que chegou a minha hora, esse fardo se torna seu. Nós somos as guardiãs dessa terra Ana. Lembre-se disso. Há muitos perigos fora dos muros desse reino, perigos dos quais você foi mantida a salvo. - Sua mãe interrompeu a fala com um acesso de tosse, as veias dos seus braços aparentavam estar adquirindo um tom escuro. - Não foi escolha minha deixá-la ignorante às trevas que rondam esse castelo, mas seu pai achou que era o melhor. Ele teve que lidar com muitas coisas ao longo dos anos, então eu cedi. - Ela acariciou o rosto de Ana, que estava completamente perdida, só podia supor que sua mãe estava delirando. - No seu caso, a ignorância não foi uma benção. Você cresceu inocente demais, pura demais. Seu futuro será um choque. Você se encontrará no ápice de uma guerra que nem sabia existir. E sinto muito que não estarei aqui para guiá-la. Mas haverão outros. Eles vão encontrá-la. Até lá, lembre-se do que lhe falei, é seu dever proteger essa terra, nunca deixe ninguém fazê-la se esquecer disso. - Ela abriu um sorriso fraco. - Você será incrivelmente poderosa, espero que para onde eu for, ao menos possa assistir. Eu amo você Ana. 

A mãe de Ana pegou sua mão e a aproximou dos lábios, ela pensou que sua mãe fosse lhe dar um beijo, mas com um choque ela assistiu enquanto a mãe cravava os dentes em seu pulso. Foi sua última visão antes de desmaiar.

Sono Eterno - A GuardiãOnde histórias criam vida. Descubra agora