A mente humana é uma coisa engraçada. Ela distorce as coisas. Distorce os sentimentos. Ou talvez os sentimentos sempre tenham estado ali, aguardando uma distração da nossa parte para tomarem conta dos sentidos.
Severo não sabia dizer. Ele odiava Os Marotos. E Lupin era parte deles. Logo, Severo Snape odiava Remus Lupin. Ou será que não?
Tudo começou a mudar com a pegadinha de Black. Estava claro para qualquer pessoa mais observadora que Lupin era um lobisomem, por Merlin! Snape só precisava de uma desculpa para pedir a expulsão da criatura. Ele só não esperava quase ser morto e ainda por cima ser resgatado pelo Potter. Snape odiava James Potter.
Lupin passou semanas implorando o perdão de Severo. Dia e noite. O esperava antes do início das aulas, enviava corujas com cartas pedindo desculpas, estava sempre encurralando o garoto quando ele estava sozinho, parece que adivinhava. E Snape, lógico, fugia dele como o visgo-do-diabo fugia da luz.
Até que fugir não deu mais certo.
Em uma noite agradável, com céu estrelado e sem lua, Snape saiu escondido do salão comunal da Sonserina para espairecer na torre de astronomia. Lucius só sabia falar sobre o Lorde das Trevas e ele precisava pensar em outra coisa. Foi olhando para o céu, em silêncio, com a mente longe dali que Lupin o encontrou. E não havia para onde fugir.
- O que quer, Lupin? Terminar o que você começou?
- Snape, por favor, me escute. Estou tentando falar com você há semanas!
- Eu sei. Só que eu não quero falar com você. Já não basta o inferno que você e seus amiguinhos fazem comigo?
- Eu nunca participei de nenhuma pegadinha!
- Mas também nunca me defendeu! Sempre ficou de longe, rindo, ou distraindo os professores. Isso faz de você tão ruim quanto eles.
A expressão do garoto de cabelos castanhos e cicatrizes no rosto mudou. Era possível enxergar um misto de tristeza e vergonha.
- Você está certo. Me desculpa. Por tudo.
- E por que eu deveria perdoá-lo?
- Você está na sua razão para não perdoar. Eu sei. Só preciso que você saiba que não fiz parte de toda essa armadilha armada por Sirius. Inclusive não estamos nos falando. Eu ainda não o perdoei. Ele sabia que meu maior medo era atacar alguém, matar ou infectar outra pessoa. Ele não pensou em mim quando fez o que fez.
Isso era verdade. Os Marotos não eram mais os mesmos depois daquele dia. Pedro parecia não notar nada, James estava perdido, não sabia se ficava do lado de Sirius ou do lado de Remus. Esses dois mal se olhavam. O clima na Grifinória não era dos melhores.
- Olhe, Lupin... eu não gosto de você nem de seus amiguinhos. Confesso que eu não sou idiota, sabia muito bem que você é um lobisomem, e minha intenção era provocar sua expulsão. Não sou nenhum santo nessa história toda. Então, vamos fingir que nada aconteceu. Eu te deixo em paz, você me deixa em paz, e seguimos nossas vidas.
- Tudo bem... obrigada, Severo.
Com isso, um ignorava a existência do outro. Ou assim parecia. Severo passou a ver Remus com outros olhos. O rapaz realmente não estava falando com Black, então podia ter um pouco de honra ali. Já o lobo de Remus estava intrigada com o rapaz de pele branca, cabelo preto e nariz adunco; era como se alguma coisa tivesse mudado quando encontrou os olhos dele no túnel da Casa dos Gritos. O lobo não queria se afastar.
Porém, o lobo não tinha tanto poder sobre um adolescente motivado. Assim, com o tempo, Black foi perdoado e Snape achou que estava errado. Ele não parou pra pensar sobre Lupin por alguns anos, até uma noite de Halloween em Godric's Hollow.