capítulo 1

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Era por volta do meio-dia e Severino estava sentado ao redor de uma fogueira em brasas junto de seus companheiros de confiança Paulo e André . Paulo passava a língua nos dentes tentando remover os pedaços de carne de tatu que restavam em sua boca. André dava os últimos goles em sua bebida; os outros integrantes do bando estavam sentados em um lugar um pouco mais afastado, cerca de dois metros. Poucos eram os que tinham coragem de sentar-se ao lado de Severino, não que ele se importasse muito.

Fazia três meses que a estação de chuvas havia terminado o que deixava o ar completamente seco tornando-o difícil de respirar, aos menos para aqueles não acostumados à região, o sol estava aterrador e sem nuvens no céu ou folhagem das plantas para se ter alguma sombra poucas eram as pessoas que tinham coragem de sair de suas casas ou de suas tendas. O grupo de Severino era composto por cangaceiros, um grupo de saqueadores e mercenários que transitava pela terra vermelha pilhando e assaltando vilarejos e outros assentamentos.

O lugar estaria em completo silêncio não fosse pelos ventos ocasionais que balançavam os galhos retorcidos. Severino enconsta-se em uma pequena árvore seca e começa a enrolar um pequeno maço de cigarro. Logo o acende e dá lentas e profundas tragadas em seu fumo. Logo depois começa a cantarolar uma cantiga.

Toda aquela calmaria é interrompida pelo som de passos apressados vindo na direção do trio. Um homem alto e moreno salta de dentro dos arbustos secos. Ele está ofegante e fala com dificuldade. Severino logo o reconheceu e com um movimento rápido sacou sua pistola e apontou para ele fazendo-o recuar um passo:

-- Thiago, me dê uma boa razão para eu num te enchê de chumbo! Ocê sabe que quando eu tô dormindo num é pra me atrapaiar? -- Severino estava profundamente irritado com tudo isso o que deixava o pobre Thiago muito assustado.

-- Calma seu Severino, num queria atrapaiar não... Foi só que eu ví uma carroça presa no barranco do outro lado dos gaio seco, ela era branquinha como as nuve e tem umas coisa dorada no lado. Acho que se fomo agora da pra pegar muita coisa boa.

-- Isso num é que nem aquele bicho branco que tu disse que viu antes né? -- inquiriu André meio desconfiado.

-- Oia eu confesso que já fiz coisa errada , mas tamo perdendo uma chance boa, vamo logo! -- disse Thiago tentando passar um pouco de empolgação para seus companheiros.

Severino pensou um pouco, realmente parecia uma oportunidade boa demais para se perder, isso tinha cheiro de de armadilha, ele disse:

-- André, chama o Timóteo e o Carlos, vamo dá uma olhada, mas se essa coisa for otra noia tua, eu puxo duas tiras do teu couro e uso pra ajeitar minhas botas, de acordo?

-- Tá bom, mas vamo logo! -- respondeu Thiago

-- Ih rapaiz pela animação dele o baguio é sério -- ironizou Paulo

-- Ou isso ou ele já tá mais pra lá do que pra cá nessa cabeça dele. Vou chamar os caras -- André saiu para chamar os homens, e logo voltou com Timoteo e Carlos.

Thiago levou Severino, André, Timoteo e Carlos até o local onde a carroça estava. Era uma carruagem, embora nenhum deles soubesse disso. Os cinco homens se posicionaram de trás do barranco e observaram atentos. Não avistaram qualquer sinal de movimento, logo mais começaram a debater sobre quem deveria se aproximar:

-- Manda o Thiago, foi ele que encontrou esse joça, intão manda le lá ver. -- disse Timóteo

-- Você ta louco?! E se for uma armadilha? -- protestou Thiago

-- Quietos!-- interrompeu Severino -- Thiago, se acha que não consegue vorta pru acampamento. Agora, se for pra ficar escundido aqui feito frouxo , é melhor desenterrar essa coragem ou eu desenterro pra tu. -- todos sabem que Severino não é um homem de meias palavras e que não gostava de covardes, se ele diz para fazer ou que irá fazer algo ele realmente faz, e isso preocupava demais Thiago. Severino se volta para a carruagem e faz um sinal de mão para Carlos ficar de vigia; com outro sinal ele diz para o resto do grupo que o siga. Thiago é o único que fica relutante mas logo se junta ao grupo. Severino sacou seu facão e lentamente se aproximou da carruagem, ela estava presa em uma pedra no meio do descampado, a única proteção mais próxima era uma outra pedra maior, o que fazia aquela cena toda ficar com mais cara de armadilha.

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