Cap.4: Amor de Bruxa

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Eu te amo. Oh meu tão adorado príncipe, tão encantado, estou encantada com sua tão viril beleza, tão imponente! Ele caça, ele pesca; ele monta a cavalo. Surreal! E está solteiríssimo e a minha espera. Ele só não sabe ainda que me quer; que me deseja. Que anseia por mim, que não viverá realmente se não ao meu lado. Mas eu sei que ele precisa de uma ajudinha minha pra se ligar. Para cair em si. Se entregar a mim! Oh! Sim, eu aceito meu doce cavaleiro me leve cavalgando no por do sol, me encante mais ainda com seus horizontes. Chega de vassoura! Agora é cavalo. Ou  melhor carruagem; imagine eu numa daquelas finíssimas carruagens, oh; não posso com tanto luxo, as festas reais, o casamento real, a benção da realeza! Não terei tempo algum pra ser uma bruxa, serei por destino e obrigação uma princesa. Uma linda princesa sim eu serei!

Oh! Cadê o livro? Estava aqui! Ele continha a receita da poção! Eu não posso me desesperar agora, sou quase uma princesa, uma dama em ascenção. Que deselegante demonstrar desespero não é mesmo? Isso é coisa da ralé. Meus fiéis súditos aqui está sua princesa, sua futura rainha! Imagino o peso da coroa, terei que ter compostura! Esse chapéu pontudo será esquecido... Ou talvez não, eu cravejo ele com pedras preciosas e pronto. Um novo tipo de coroa pra um novo tipo de realeza! Receio não poder abandona-lo ele caí tão bem em mim! Vivi tanta coisa usando ele, ele era da minha tataravó, uma relíquia de família! Impagável e insubstituível! É... Farei uma magia pra esqueçam do meu passado de bruxa. Aonde está esse livro? Oh! Emprestei pra Ofélia! Agora lembrei, não é costume dela devolver nada; vou até lá e pego. Necessito desse livro. Meu príncipe não pode esperar mais! Cadê a vassoura, achei! Vou pro lado de fora, alço vôo.

Que ventania é essa? Muito ruim de voar assim. Mas até que emocionante ao seu modo. Sem dúvidas. Tem um pássaro na minha frente, vou mudar de direção, puxa vida, essa tonta mora no norte, dá onde vem exatamente  toda essa ventania. Ali, ora essa um jardim? Ofélia agora é mãe de plantas? Vou estacionar no meio dessa baderna mesmo, até que estão bem cuidadas, quanto tempo não venho aqui não?

- Quem está no meu lindo jardim?!

- Sou eu Ofélia, Margenta!

- Margenta?! Ora entre! A porta está aberta! Só empurrar!

Quantas flores! Que agonia tanta cor. Me entro, ela está cozinhando algo no caldeirão:

- Estou fazendo um chá de erva cidreira, é bom pros nervos. Servida?

- Não obrigada, meus nervos são de ferro... Você virou jardineira é?

- Se viu menina?! Como o tempo faz a gente fazer coisas né? Temos que inovar sempre!

- É. Mas e o trabalho que dá né?

- Menina, eu nem vejo o trabalho. Exige esforço sim. Mas é mais um passatempo mesmo.

- Assim...

- O que te trás aqui menina?

- O livro de poções que te emprestei cadê?

- Oh... Oh... Livro? Ele tá... Aonde ele tá? Ele tá... Hummmm, é ele, tá ali! Naquela prateleira, perto dos demais livros, bem ali, vê?

- Sim, eu vou procurar aqui então.

- À vontade menina! Eu só não procuro porquê estou com as mãos ocupadas!

Ocupada? Quem é que mexe chá de erva cidreira? Não importa, estou procurando meu livro:

- Menina! Você vai voltar a ativa é? Aprontar né? Ou vai vender mesmo?

Achei!

- Nem um, nem outro. Adeus!

Saí sem remorso. Todo tempo é precioso, preciso do meu príncipe! Não de conversa fiada. Aí essa ventania, de frente ou de trás me incomoda. Ah não! Uma passarada! Eu vou mudar o percurso. Quase Chegando. Cheguei. Qual a página mesmo? Estava bem aqui... Ele pesa um pouco. Muita poção. Achei! Hora de fazer, vou esquentar essa água que já está no caldeirão. Que lindo caldeirão! Minha mãe que me deu, aí mamãe o que você pensaria se soubesse que estou quase me casando, e pior! Serei da realeza. Mamãe tem preconceito com o sangue azul... Já foi o terror de várias princesas; mas comigo não! Comigo será diferente! Ela amará a ideia! Sim amará. Todos os ingredientes aqui. Só precisa fazer mesmo, nossa faz tempo que não faço uma poção hein? Tem ingrediente de sobra! Estava num bloqueio de bruxa. Nossa como é legal preparar uma poção, tô me sentindo elétrica! Bota isso! Um pouquinho daquilo... Uma pitadinha disso, um pedaço daquilo outro, uh! O vapor está me matando! Mas preciso arregaçar às mangas. Cadê a colher? Vou usar a colher que a minha prima Indigente me deu, saudades da Indigente ela contava às melhores piadas. Imagina ela me vendo de véu e grinalda. Uma noiva real. De certo ia morrer de inveja. Ou ia ficar indiferente sei lá. Ela é muito doida não dá pra prever. Bum! Uma fumaça espessa em forma de coração se formou, vou ter que deixar a poção descansar uns vinte minutos.

Já tenho um plano pra fazer o príncipe beber todinho. Ele vai me amar mais tanto mais tanto que... Vai esquecer de amar a si mesmo! É! Perdidamente apaixonado por mim! É... Não serei uma solteirona que namora flores, eu não! Como Ofélia é burra. Podia ter feito uma poção pra agarrar um príncipe mas não "eu amo a plantas". É mas que flores bonitinhas... Será que dá trabalho mesmo? No castelo eles tem jardineiros... Nossa, o príncipe, será que ele gosta de flores? E meu buquê? Hummmm eu vou encher o salão real de festas de flores! Vou chamar a Ofélia pra ajudar né, já que gosta tanto né? Deve ser uma loucura ser uma princesa! Cheia de regras e deveres reais. As bruxas fazem o que querem, até cultivar flores sem motivo aparente. Nunca ouvi falar de uma princesa que trabalhava num Jardim. Os jardineiros seus servos fazem tudo... Eu não gosto muito da ideia de gente me servindo, queria todo mundo livre como às bruxas, é. Será que eu me amo? Tipo, por que de um príncipe? Deveres reais? Serei uma princesa com liberdade de bruxa? Isso existe? Então serei uma bruxa de qualquer maneira, porquê as princesas não são livres, elas estão presas num castelo aleatório esperando um príncipe aí! Que burras precisam de um homem pra se salvarem! Eu que não quero ser dependente assim... Ser bruxa é liberdade e independência... Isso não é coisa dessas princesas regradas, pra que um príncipe mesmo? Eu me sinto tão completa comigo mesma. Sempre fui eu, eu e eu mesma. Abrir mão da minha liberdade por causa de um homem!?

Deu um chute no caldeirão, e o líquido de um rosado fluorecente, se espalhou pelo chão...

Mosca Morta No Asfalto Onde histórias criam vida. Descubra agora