Do Céu Ao Inferno

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- Enfim, sós! Diz Pedro com um sorriso malicioso, com os olhos em Larissa e desabotoando os botões da sua camisa.
- Eu sabia que não devia ter te convidado para um jantar de negócios. Retruca Anitta enquanto observa-se no espelho e tira seus brincos.
- Por que não? Eu sou um perfeito Assistente De Negócios. Fiz de um jantar chato, um jantar descontraído. Sou o mais divertido, pode assumir. E sou gostoso também. Não negue Larissa, vai... Sei que você também acha isso.
Ela revirou os olhos.
- Você constrangeu a menina com suas piadas, isso pra você é "ser divertido"?
- Todos da mesa riram. E ela também e...
- Mas eu não! Interrompe Anitta. -Não gostei da piada. A parceira dela também ficou super sem graça com o comentário.
- Amor, eu só não entendo muito bem esse lance de sapatão, sabe?!
- Nem intimidade com ela você tinha para brincar daquela forma Pedro!
- Ahh, Senhora Certinha, me desculpe! Eu achei que apesar de ser um jantar de negócios, estávamos entre amigos. - ele andou alguns passos até ficar por trás dela, levou o rosto até seu pescoço e o beijou, depois disse - E claro que você não ri das minhas piadinhas. Comigo você anda sem humor, não é? Diz Pedro passando seu queixo pelo pescoço dela, que se arrepia ao sentir sua barba a arranhando.
- Pedro...
Ele sobe a mão direita pela barriga de Anitta por baixo de sua camiseta enquanto distribui beijos pelo ombro dela. Agarra seu quadril com a outra mão e puxa um pouco mais para ele, deixando todo seu corpo colado no dela.
Ela se vira e empurra seu peito.
- Não.
- Sim.
- Não. Hoje não.
Ele se afasta, mesmo contrariado.
- Por qual motivo?
- Hoje não, ué!
- Certo...
Ele deita na cama, coloca as mãos atrás do pescoço e a observa se preparando para deitar.
- Para de me encarar - ela disse.
- Não tô encarando - se defendeu.
- Eu não gosto quando você faz isso.
- Tô só... Admirando.
- Tá encarando.
- Ok, talvez eu esteja. Encarando com admiração, o que não justifica você me tratar dessa forma.
- Que forma?
- É muito complicado de te entender, sabe? Você poderia me ajudar... Sei que seu cérebro parou de se desenvolver aos 13 anos, mas cara...
Ela o olhou de canto.
- Cala a boca, Pedro.
Ela tenta segurar o riso e ele gargalha.
- Não dá pra adivinhar, Larissa! Você esses dias só sabe brigar comigo!
- Quieto. Só estou com sono.
- Então eu não fiz nada, né? Sabia. Você ama brigar comigo a toa. Acho que é um prazer quase que sexual.
Ela revirou os olhos, com cara de tédio.
- Criança.
- Sou engraçado.
- Infantil.
- Mas te faço rir!
Ela suspirou e não respondeu, sabendo que é inútil discutir com ele. Colocou seu pijama, apagou o abajur dos dois lados da cama e deitou-se, virando para o lado oposto dele.
- Larissa- ele a chama.
- Hm...
- Olha pra mim.
Ela olhou. Ele chega para o lado e bate na cama, com o olhar pidão:
- Vem aqui pertinho...
Ela balançou a cabeça em sinal de negativo.
- Estou bem aqui.
- Só vem, amor...
Ela se arrasta preguiçosamente na direção dele e se ajeita na cama deitando com a cabeça no seu peito e suas pernas entrelaçadas.
- Eu te amo, você sabia? Ele beija levemente sua testa e adormece. Enquanto Anitta passa horas pensando nos rumos que sua vida está tomando.

"Larissa,
Não posso deixar de comentar mais essa mudança. Há algum tempo ando percebendo que a sua indiferença está nos afastando, mas é claro que você não (ou finge que não). Ei amor, me perceba! Estou respirando também, sabia? Que inferno! Você nem parece estar nesse mundo, Larissa! E eu não faço ideia do que esteja acontecendo.
Deixei aquela minha camisa vermelha, a sua favorita, dentro da primeira gaveta do seu guarda-roupa e levei aquele seu lenço que você estava usando no jantar de ontem, espero que não se importe. Preciso de algo para sentir seu perfume. Bom, eu não menti quando prometi que te levaria para todos os lugares que fosse. A memória do coração também leva.
Estou indo para São Paulo hoje. Nos encontramos no seu show de sábado. Assim que chegar, avise-me porque eu já estou com saudades.

PS: Eu te amo, só não esquece que todo mundo precisa de alguém que também se importe.

Pedro
"
Existem momentos que a vida te surpreende e te golpeia forte e baixo. Eu tinha tudo que alguém podia desejar e de repente um furacão aparece e muda completamente o rumo que as coisas estavam tomando. "É informação demais para meu cérebro processar!" - pensava eu olhando meu reflexo na frente do espelho. E logo depois a imagem do sorriso dela me vinha a mente. Não que fosse algum ruim de se pensar, na verdade eu queria lembrar, mas aquilo era louco de se viver. A carta que meu namorado deixou sob a escrivaninha do lado da cama me causava turbilhões de sensações, deixava minha cabeça ainda mais confusa e meus os olhos cheios d'água. Enquanto desejava outra pessoa, ele lutava para superar o que para ele era apenas altos e baixos comuns em relacionamentos, principalmente como o nosso de anos. Eu estava perdida. Literalmente e pela primeira vez na vida eu não tinha um plano B. É foda é ter apenas duas alternativas e as duas serem terríveis. E sabe o que acontece pela milésima vez que esses pensamentos me invadem? Eu permaneço. Eu fico e me convenço que foi só mais uma de minhas crise internas, quando "meu querer" sofre um mal súbito. Fazer o que se eu não sei me enganar? É que me dói essas minhas mudanças. Minhas necessidades trocam o tempo todo. Talvez hoje eu a queira, mas amanhã não. Talvez eu sinta atração por outro cara assim que eu virar a esquina, ou talvez não. Talvez eu só precise de uns bons orgasmos, uma dose a mais de carinho, um pouco mais de aventura ou uma merda qualquer. Quando percebo, eu já me perdi. Ontem no jantar eu estava disposta a jogar tudo para o alto e dizer "olha só, não tá dando mais, Pedro. Acho que vou seguir um outro caminho e não importa o que você fale, eu já tomei minha decisão e não vou voltar atrás.". Eu me sinto suja por esse pensamento às vezes. Aliás, quase sempre. Na verdade, dês de que ela apareceu na minha vida. Não sei se estou certa, mas permanecer como está não é tão ruim assim, por isso fica sempre pra depois. Não vou dizer que é tudo mágico. Mas eu também não quero perder nada agora. Agora não. Não sei se é apego ou porque minha vontade de saber o que a vida vai me aprontar amanhã nunca cessa. Sempre acho que minha história com Pedro ainda não acabou e não suporto deixar nada inacabado. Ninguém tira meia fotografia, ninguém viaja até a metade do caminho, ninguém telefona por meia pizza. Um trabalho não finalizado não é um trabalho. Vai ter sempre algo. Uma roupa que ele deixa no meu guarda-roupa, uma viagem para visitar algum amigo em comum, um truque novo na cama. Sempre alguma coisa. De algo em algo, eu vou levando. Eu sempre tento virar a página sem grifar as partes importantes com alguma canetinha neon. Mesmo num amor de linhas tortas como o meu e de Pedro, o fim parece um erro, como um ponto final no meio da frase.

Sentei na beirada da cama e peguei meu celular embaixo do travesseiro e mandei a seguinte mensagem de texto para tentar me redimir com ele, afinal, no nossa última noite juntos eu estava em qualquer lugar do planeta, menos ali ao seu lado: "Você sabe que comigo é tudo meio que sem querer, não era minha intenção estar distante e quando eu percebi já estava longe.
Só não perde essa mania de me deixar cartas, ta?"
E enviei.
Deito na cama, respiro fundo, coloco meu aparelho no silencioso e fecho os olhos na intenção de enfim, conseguir um sono tranquilo. Era meu dia de folga e a única coisa que eu queria era não fazer nada. Se possível fugir de mim e dos meus pensamentos. Só pra variar.

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