O Acaso.

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Camila não queria pensar no que Brenda havia vomitado sobre ela, mas era quase impossível. Começou a diluir todas aquelas palavras enquanto engolia o maço de cigarro, fumando um atrás do outro e observando a rua deserta da varanda da sua casa. Pegou a chave do carro, desceu, e dirigiu como se fosse uma bala.
Já no portão da casa de Anitta e aproveitou que a senhora da limpeza estava chegando, e subiu para o quarto, aonde encontrou Anitta ainda dormindo tranquila.
Foi até a cama sob a ponta dos pés, deitou-se ao seu lado tentando fazer o mínimo de barulho e ficou ali, sentindo a respiração dela próximo ao seu rosto por alguns segundos, enquanto admirava seu rosto. Gostava da paz que sentia quando estava perto dela e queria aproveitar seus últimos segundos.
- Pensei que você já tinha me deixado... Sussurra Anitta, com a voz ainda marcada pelo sono, sorrindo, ainda de olhos fechados.
Camila respira, senta-se na cama e diz rispidamente - Eu não quero que você me procure mais.
- O que você ta dizendo? Pergunta meio sonolenta, coçando os olhos e sentando-se na cama.
- O que aconteceu com a gente, foi o que tinha pra acontecer. Não vai ter nada além disso.
Anitta abraça Camila por trás, dizendo - Deixa de ser boba... Nossa história só ta começando...
Camila se levanta da cama, acende um cigarro e começa a andar pelo quarto para lá e para cá dizendo inquieta - Você nem me conhece!
- Mas eu quero conhecer. - Interrompe Anitta enquanto Camila balança a cabeça fazendo gesto negativo.
- Sabe da verdade? Eu parei pra pensar no que eu queria para você... Desejei que você tivesse ao seu lado alguém que se importe, e percebi que você já tinha. Desejei alguém que te deixasse recadinhos e fizesse piadas para te fazer rir, e percebi que você também já tinha. Desejei alguém que pudesse ser seu porto seguro, que lhe trouxesse paz... E olha, você tem tudo isso. A esquerda sou eu, o problema sou eu. E eu não quero isso. Paramos por aqui. - Diz Camila se dirigindo até a porta.
- Você me acorda, despeja toda essa merda, deixa tudo uma bagunça e vai, simplesmente embora? - Pergunta Anitta levantando o tom de voz, meio trêmula e sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Camila para na porta e responde sem olhar para trás - Você vai conseguir organizar tudo. Do mesmo jeito que estava antes de eu aparecer. - E vai embora.

Já no carro de volta para casa, Camila começou a sentir-se enjoada. Encostou próximo do meio fio, puxou o freio de mão e ficou ali por alguns segundos. Não tinha a menor condição de dirigir naquele estado. Seu corpo fervia, tremia. Estava em febre, e decidiu-se lhe dar o luxo de chorar, já que ninguém estava ali para ver. E então ela chorou. Não pelo fato dos enjoos ou por estar passando mal, e sim pelas inúmeras contradições que existia dentro dela. Chorou. Procurando soluções, saída rápida e quis expulsar tudo que havia plantado em seu coração em tão pouco tempo. Convenceu-se que realmente, não podia ser diferente, tinha tomado a decisão mais coerente e não queria ser o furacão da destruição mais uma vez na vida de alguém, principalmente se esse alguém fosse Anitta. Resolveu que a partir daquele momento, ela poderia derreter, mas seu interior voltará a ser frio, congelado, inabitável. Decidiu depois de chorar muito, voltar a agir como se nada mais tivesse importância. E já que realmente gostava dela, a melhor opção era deixá-la seguir e com o tempo, tudo voltaria ao seu lugar. Naquele momento ela acreditava que era melhor Anitta tendo qualquer felicidade do que felicidade nenhuma.

Depois de alguns minutos, dirigiu até o bar mais próximo e sentou-se em uma mesa aleatória e pediu uma tequila.

- Você quer um cigarro?
Ouve uma voz feminina perguntando enquanto olha para um ponto fixo qualquer.
- Eu parei de fumar. Fumar é coisa de gente descontrolada. - Responde Camila ironicamente não se importando com a presença da desconhecida.
- É falta de educação não convidar para sentar uma dama, principiante quando ela lhe faz uma gentileza. - Disse uma voz rouca e sensual.
- Tanto faz, não sou uma boa companhia. - Responde Camila, sem ao menos olhar.
- O que uma moça tão linda faz em um bar às seis da manhã se afogando em tequilas? Provavelmente.. tentando esquecer alguém.
- Não lhe convém e eu não quero conversar. Desculpa. - Vira a bebida e pede mais uma para o garçom.
Camila não sentia vontade alguma em ser simpática. E se tinha algo que não estava interessada naquele momento era em relacionar-se, por mais fútil que fosse o envolvimento.
A moça aproveita a vinda do garçom para trazer mais uma bebida e pega sua caneta e anota seu telefone em um guardanapo colocando na mesa de Camila e diz: - Se você quiser, eu posso te ajudar... E deixa que eu digo se sua companhia é boa ou não. - Sorri maliciosamente e da de ombros.
Camila enfim olha para a desconhecida e decide então guardar o papel como uma forma de educação para encerrar aquele papo. Naquele momento ela só queria um tempo com ela mesma. Ela e seus devaneios, e só.

Anitta no seu quarto, fica sem saber diluir tudo que acabou de acontecer ali, seu estômago estava a dar voltas. Ela senta, encolhida no cantinho da cama repassando tudo o que foi dito a algumas horas atrás, afinal, não era a coisa mais normal do mundo Camila despejar tudo aquilo de uma hora para a outra. Anitta estava completamente perdida. Não sabia o que pensar, não sabia o que fazer muito menos o que falar. Seus planos em poucos segundos passaram a ser nada. "Mas e agora? Continuar tentando ou parar?" Refletia. Ficou ali, engolindo o choro, repassando as palavras duras que tinha ouvido. Acabou pegando no sono e acordou com a música no seu celular. Desligou, olhou para cima e "Nada?" Perguntou-se. Virou para o lado e se respondeu - Nada. Então que seja nada.

A porta do quarto se abre lentamente e Anitta senta-se na cama.
- PEDRO?
Pedro se assusta e sorri, tirando os sapatos e arrastando a mala para o canto.
- Eu queria te fazer uma surpresa... Mas não queria te acordar.

Anitta sorri de lado, levanta-se e vai andando preguiçosamente até sua direção, pega sua mão e o guia até a cama.
Ela o senta, e se ajeita no colo de Pedro, de pernas abertas, e depois de se arrumar o abraça forte enquanto as mãos de Pedro estavam em suas coxas. Ela então o beijou, movendo o corpo mais pra cima do meu conforme a intensidade do beijo aumentava. Pedro apertava sua coxa, enquanto ela puxava seu cabelo. Então Anitta parou de beijá-lo, mas manteve suas bocas próximas, a respiração pesada batendo contra seus lábios.
- Me desculpa por ser tão dura com você.
Pedro apertou a coxa dela com um pouco mais de força e depois sorriu dizendo:
- Eu te amo.
E volta a pressionar as coxas de Anitta sob seu colo.
As mãos de Pedro deslizavam por baixo do pijama de Larissa, até que ele começou a despir seus trajes. Sem pressa. Beijando cada centímetro do seu corpo. Anitta permanecia de olhos fechados, levava as mãos por entre os cabelos de Pedro e beijava seu pescoço. Mas Anitta tinha pressa, como se aquilo fosse um exorcismo de Camila dentro dela. Ela desabotoou a bermuda de Pedro, segurou seu sexo e a colocou dentro dela. Cavalgava feito louca numa tentativa de esquecer aqueles dois dias. Em vão. Começou a lembrar de tudo, e o sexo de Pedro dentro dela, começou a incomodar e doer. Ela então foi diminuindo o ritmo. Quando Pedro foi lhe beijar a face, percebeu que Anitta estava chorando. Parou na hora, a segurou pelo braço - Amor?!
Anitta diz - Ta tudo bem! - E tenta o beijar, mas Pedro desvia, dizendo: - Você quer conversar? Anitta enxuga os olhos e diz - Amor, eu só estava com saudade... Só isso. - Pedro a beija na testa. - Eu também senti muita saudade am...
O telefone de Pedro toca interrompendo o que iria dizer, ele joga o aparelho para debaixo do travesseiro, dizendo - Não vou atender... - E volta a beijar Anitta, que o empurra e sussurra: - Pode ser importante... - Já saindo do seu colo, enquanto ele atendia a ligação.
Anitta não estava com menor vontade terminar com o que ela mesma tinha começado, foi um erro achar que daquele jeito tudo iria voltar a ser como era antes, então, respira aliviada com a ligação que Pedro recebia e vê ali a oportunidade de virar-se para o canto e fingir que pegou no sono.

Anitta e Camila se gostavam. Meses poderiam se passar, mas elas ainda vão se gostar. Com todos seus defeitos, esse era o fato. Estava escancarado no jeito em que Anitta e Camila se olhavam, porém, ninguém acreditava. Não conseguiriam ficar juntas. Simples. Complexo. Quase impossível. Anitta iria continuar vivendo sua vidinha idealizada e Camila continuar idealizando sua vidinha e com a certeza que aquilo jamais daria certo. Porém, elas sabiam que sentiam era forte, parecendo até que foram feitas uma para a outra.
Optaram por não dizer mais nada. Enterraram o assunto e ficaram por isso mesmo, simplesmente, por milhares de coisas não ditas.
Todas as noites Camila pensava em Anitta. E em todas as manhãs Anitta pensava em Camila. E assim iam levando. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada uma tem um pedaço da outra. E mesmo sorrindo por ai, cada uma sabe a falta que a outra faz. Decidiram por não mais se ver, nunca mais se tocaram, nem trocaram olhares, telefonemas ou coisas do tipo. Nunca mais foram as mesmas. Faziam o impossível para não se esbarrarem e estavam conseguindo. Afinal, pertenciam a mundos diferentes e para se esbarrarem só do jeito que aconteceu, ao acaso.
E iam seguindo nesse mais ou menos. Sem se ver era fácil, porque os dias passavam rápidos demais. O difícil era porque o sentimento existia, e ia permanecendo dentro delas, enquanto elas se perguntavam o que fazer e fingiam nem lembrar uma da outra, desviando o assunto quando tocavam em seu nome.
Mas mais uma vez o destino se encarregou de trazer o passado à tona, com mais um desses "a caso". Elas tinham um casamento para ir, aonde eram madrinhas e seriam obrigadas a se suportarem por algumas horas. O dia da festa ia se aproximando, e a ansiedade misturada com nervosismo deixavam ambas próximo a loucura, até que o grande dia chega...

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⏰ Última atualização: May 06, 2015 ⏰

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