Capítulo 1 - Krauser, o Suicida

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  Meu nome é Krauser. Bom, era Krauser, ainda seria se eu estivesse vivo. Sim, eu estou morto. Eu tirei minha própria vida.
   Krauser é um nome estranho, eu sempre o odiei, porque as pessoas ficavam tirando sarro de mim, e eu sofria muito com isso. Por que eu não pude ter um nome normal? Por que eu? O que eu fiz para ser tão diferente? Eu fui amaldiçoado? Seria karma de uma vida passada? Nunca entendi.
   Meu pai só pensava em trabalhar, nunca teve tempo para mim e minha mãe. Às vezes, eu não o via por dias, e ele chegava bêbado em casa e nos espancava, eu e minha mãe, que era uma drogada que me tratava feito lixo. Eu odiava meus pais, eles me faziam sofrer muito.
   Em um certo dia, minha mãe havia saído de casa, provavelmente para se prostituir e comprar drogas, como ela sempre fazia, então, por curiosidade, peguei um pouco de cocaína que ela guardava em uma caixa, e cheirei. Foi nesse dia, que eu fiquei dependente de drogas. Eu me tornei aquilo que eu mais odiava, eu me odeio por isso, você é um imbecil, Krauser.
   Na escola, eu não tinha nenhum amigo. Quem seria amigo de um esquisito como eu? Eu andava de preto, tinha cabelo grande, cortes nos pulsos, não conversava com ninguém, era drogado e ainda era feio, era óbvio que ninguém seria idiota de andar com um emo gótico como eu, todos reconheciam o lixo que eu era, e, sinceramente, não culpo eles, porque nem eu seria amigo de alguém igual a mim.
   Eu era bissexual, sentia atração sexual por homens ou mulheres, mas minha preferência era por homens, ou seja, eu era mais gay do que hétero, e eu gostava de um garoto. O nome dele era Inácio, e embora ele não sendo nada parecido comigo e a gente não tendo quase nada parecido um com o outro, além de ele ser um babaca, tinha algo nele que me atraia, talvez seu rosto e sua personalidade arrogante, eu amava aquilo, era ele que me fazia ficar de pé. Eu o perseguia secretamente enquanto ele voltava andando para a casa depois da aula de manhã, olhava suas fotos nas redes sociais e me masturbava pensando nele, mas, um dia, ele descobriu essa minha obsessão. Eu não me importaria se ele só tivesse descoberto e não tivesse feito nada, mas ele me chamou de “viado” e falou que nunca pegaria uma bichinha esquisita como eu. Isso me machucou muito.
   A única pessoa que eu realmente poderia contar para algumas coisas era minha amiga Thaís, que eu conheci na internet, mas ela morava em outro estado e normalmente estava ocupada estudando, mas eu contava tudo o que me acontecia para ela, meus desejos violentos, sexuais, suicidas, sociopatas, dependentes químicos e psicóticos para ela. Ela não me julgava, porque ela me entendia, e eu a entendia. Mas, bom, se duas pessoas com problemas tentam se ajudar, esses problemas não se resolvem. Me lembro de nossa última conversa antes de ela se jogar de uma ponte, era sobre ela vir me visitar no aniversário de dezoito anos dela. Droga, Thaís, por que você fez isso?
   Chegou um ponto que nenhum jogo, nenhuma música, nenhum filme, nenhuma série, nenhum desenho e nenhum livro conseguiam me fazer ter pelo menos um pouco mais de vontade de viver. A única coisa que me vinha na cabeça, além de lágrimas nos olhos, era a vontade de acabar com todo meu sofrimento, e encontrar Thaís no inferno, que com certeza era melhor do que o lugar em que vivi na Terra. Pai, mãe, Inácio, todas as pessoas que algum dia me fizeram mal, eu amaldiçoo vocês, eu odeio vocês. Eu me odeio. Odeio meu nome. Odeio como sou fraco. Odeio meu cabelo, meu estilo, as vozes que eu escuto em minha cabeça falando para eu desistir. Mas, dessa vez, talvez as vozes estivessem certas, eu realmente poderia desistir. Seria tudo mais fácil. E foi o que eu fiz.
   Enquanto minha mãe dormia, decidi pegar todos seus remédios, que ela conseguiu com receitas falsas. Alprazolam, lítio, clonazepam, diazepam, olanzapina, depakote, e alguns outros remédios, tomei todos. Me deitei, e agora escrevo este relato, para todos saberem que vocês foram os responsáveis pela minha morte. Eu odeio este mundo, ele está podre, as pessoas são podres. Vejo vocês no inferno. Espero que sofram o que sofri. Adeus, babacas. Me espere, Thaís, eu não vou demorar para chegar onde você está.

Crônicas de KrauserOnde histórias criam vida. Descubra agora