Capítulo 2 - Amor de Um Dia

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   Eu esperei tanto por este dia. Na verdade, ele é o dia que eu mais espero, todos os anos. Por quê? Simples, é o único dia do ano em que eu posso ver minha namorada, Maria.
   Depois de alguns problemas com a família, ela teve que se mudar para um lugar bem longe daqui, e neste lugar, ela não consegue se comunicar com as pessoas da minha cidade, mas neste dia, em específico, ela volta e me conta novidades incríveis, coisas que eu nunca imaginei, e mesmo estando longe, nunca paramos de nos amar.
   É um dia de primavera, no começo de novembro. Meus pais e meu irmão mais novo sabem o quanto isso é importante para mim, então algumas horas antes de bater meia noite eles fazem as malas e vão dormir na casa da minha tia, deixando a casa só para mim e Maria.
   Minha namorada não tinha parentes na minha cidade, então quando ela vem para cá é exclusivamente para me visitar e passar o dia comigo. Só ela, só eu, apenas nós dois. E eu achava que isso seria perfeito se não fosse o fato de que isso só acontece uma vez no ano, e o tempo passa rápido quando estamos nos divertindo.
   Estava ansioso olhando o horário no meu celular, até que finalmente, bateu meia noite. Ouço a campainha tocar, o barulho desperta sentimentos profundos em mim, pois eu já sabia quem estava por vir.
   Abro a porta, e parece que minha vida inteira passa pelo meu rosto quando vejo seu rosto, e meus olhos não conseguem ficar secos.
–    Oi, meu amor. – Diz Maria, com o mesmo rosto de quando a vi pela última vez.
   A abraço forte, chorando em seu ombro. – Senti tanto sua falta, meu amor. – Digo.
–    Eu também senti a sua, meu amor. – Diz, também não escondendo sua felicidade por estar de volta, mesmo sendo apenas por um dia.
   A sensação de tocar os lábios de outra pessoa era praticamente esquecida por mim todos os anos, mas naquela hora, tive esse sentimento de novo, e foi muito bom.
–    Entra, amor. – Digo, segurando suas mãos frias.
Fiz um balde de pipoca para comermos enquanto tomávamos energético para ficarmos despertos enquanto contávamos as novidades. Ela chegou à meia noite, mas ficamos até meio dia acordados conversando sobre as novidades, era incrível olhar para seus olhos verdes contando tudo aquilo.
   Mesmo estando na hora do almoço, nós nos deitamos em minha cama de solteiro, mas não transamos. Para mim, sexo qualquer um pode fazer com quem quiser, então isso não é intimidade. Intimidade, no meu ponto de vista, foi fazer o que nós fizemos naquela cama – nós nos abraçamos, ficamos de baixo das cobertas, e falamos como nos sentíamos em relação ao outro, chorando.
–    Ainda dói, né? – Perguntei, enquanto lágrimas rolavam por minha face.
–    Sim. –  Ela respondeu. – E sempre vai doer. – Seu tom de voz ia mudando para choroso conforme ia falando.
–    Por... – Estava sendo difícil falar chorando daquele jeito. – Por que você nunca me contou que passava por isso? Eu queria ter te ajudado... – Soluçava.
–    Me desculpa, amor... – Olhei para seus olhos, que estavam fechados, mas encharcados. – Eu queria ter te contado, mas eu não queria te preocupar.
–    Eu sinto tanto sua falta... Você não sabe como é difícil ficar longe de você...
–    Você tem que seguir em frente, Vitor. Quero que você arranje outra pessoa, outra namorada. – Seu tom de voz deixava óbvio o quanto estava sendo difícil para ela dizer aquelas palavras.
   Naquele momento, levei um susto, achando que ela queria terminar o nosso namoro, então, a abracei mais forte.
–    Amor, você pode estar em outro universo, você pode ficar sem falar comigo por dez anos, mas o amor da minha vida sempre vai ser você, é você quem eu quero, não importa a distância, e eu nunca conseguiria ter sentimentos por alguém que não seja você. Algum dia, nós vamos poder nos ver todos os dias, sem precisar nos despedir, eu prometo. Por favor, me espere. – Falei, com um tom de voz menos choroso e mais firme. Maria sorriu, e me beijou.
   Depois disso, dormimos um pouco e após nos divertimos, aproveitamos o tempo que ela estava comigo, até que deu meia noite, e ela foi embora. Foi triste me despedir, mas eu sabia que iria vê-la de novo, mesmo demorando um ano.
   Alguns minutos depois, meus pais e meu irmão, Davi, chegam em casa.
–    Oi. – Disse, desanimado e triste por Maria ter ido embora.
–    Oi, filho. – Disse meu pai. – Como foi com a Maria?
–    Tudo certo? – Perguntou minha mãe.
–    Foi bem legal, só tô triste por ela ter ido embora.
–    Aff, mano... Você ainda tá com essa história de que sua namorada morta vem visitar você no dia dos mortos e é por isso que a gente tem que dormir na casa da tia Matilde toda vez?

Crônicas de KrauserOnde histórias criam vida. Descubra agora