Ghost | muke

02

A noite estava clara.

Sim, era um tanto estranho falar essa frase, mas nada poderia definir melhor o estado em que se encontravam. Nenhuma nuvem no céu, os 3 se banhavam com a luz clara da lua e um milhão de estrelas sobre eles.

Era uma noite bonita, Luke agradeceu mentalmente a qualquer divindade que pudesse estar ouvindo. "Pelo menos não está chovendo ou fazendo uma neblina esquisita".

Mesmo assim, continuava sendo madrugada. Continuava sendo de noite. E os 3 estavam no meio da rua completamente deserta, de frente para um casarão abandonado. A noite poderia estar clara, limpa, ou o que for; mesmo assim ainda tinha um resquício de medo dentro deles.

Afinal, eram humanos. E humanos sentem medo.

— O quê? Calum, você está ouvindo isso? – Ash disse, colocando a mão ao redor do próprio ouvido. Calum e Luke o encararam, o único fazendo algum som ali era ele. — Não está ouvindo? Preste atenção!

O silêncio era mortal, porém logo foi quebrado com a voz e risada de Ashton.

— Por Deus! Tudo que eu consigo ouvir é o franguinho do Luke e suas pernas tremendo de medo! – Ele se esbaldou em risadas — Pó pó pó pó póooo!!!

— Ah vai se fuder, Irwin.

Calum se juntou a Ashton em um tom ainda mais provocativo, Luke só faltou explodir de raiva. O medo que antes ele sentia tinha acabado de ir embora, pelo menos era isso que ele achava.

— Vou entrar logo nessa merda de casa e mostrar pra vocês quem é que está com medo.

Luke começou a andar em direção das grades de ferro que cercavam a grande casa, não era tão difícil de invadir.

Bastava ter força de vontade suficiente.

— Não se esqueça de nos trazer algo como prova!

— Prova?! – Gritou Luke já em cima da grade.

— Ora claro! Como vamos saber se você não deu apenas uma volta no quintal e esperou uns minutinhos?

Calum estava achando aquilo o ponto alto de sua noite, não parava se achar o máximo só de ter tido a ideia de chamar Ashton para movimentar Luke.

— Vamos lá Luke, entre nessa merda e prove seu potencial pra gente! – Ele gritou, Ashton também gritou em apoio.

Os gritos foram o que o fizeram ir para o outro lado da grade, mas quando seus pés finalmente tocaram o chão ele começou a repensar tudo de novo.

A grama estava alta, devia fazer anos que nenhum cortador de grama chegava perto daquilo. Fora a grama alta, havia uma grande árvore na fachada que estava quase sem folha alguma – afinal, era outono. Grande parte das folhas estavam secas e caídas sobre a grama, deixando-a com um aspecto "crocante" a cada passo que Luke dava.

O garoto se aproximava cada vez mais da entrada do casarão, e quanto mais fazia isso, mais escuro ficava. A luz dos postes na rua não tinha um alcance tão bom assim, deixando uma penumbra assombrosa que dava arrepios na nuca de Luke.

Ele tentou a porta da frente. Mas estava trancada.

Lógico! Era claro que iria estar trancada!

Ele olhou para trás e viu Calum e Ashton erguer seus polegares para cima, em uma tentativa de o encorajá-lo. Luke sabia que se voltasse agora seria pior ainda, iria ouvir Ash imitando uma galinha pelo resto da noite e Calum resmungar alegando que ele teria conseguido esse feito.

Desistiu de tentar forçar a porta da frente e começou a contornar a casa, na esperança de encontrar uma porta lateral ou a dos fundos. Essa casa era absurdamente grande, não era possível que só tivesse um meio de entrada.

Quando chegou ao oitão do terreno, sentiu seu corpo tremer e seu estômago embrulhar. Era ainda pior ali, como se atrás da casa fosse um campo completamente inexplorado pelo ser humano. Ele se se perguntava se algum tipo de animal tinha morrido ali, pois o cheio era insuportável. Deixou na mente que o cadáver poderia estar escondido na grama ainda mais alta e que a qualquer momento ele iria pisar em uma carcaça a muito tempo esquecida.

— Puta que pariu – Ele exclamou, enquanto tampava seu nariz com uma das mãos. A escuridão já tomava conta do oitão, por isso com a outra mão ele tateava por qualquer meio de entrada, já estava considerando quebrar uma janela e entrar desse jeito.

Quem iria ligar, não é? A casa estava vazia de qualquer jeito.

Quando chegou no quintal, seu campo de visão se expandiu. Era uma área grande, comparado ao quintal de sua casa, e nesse ainda tinha uma piscina! Ou era isso que ele achava que era.

De qualquer modo, lá estava o alvo de Luke: a porta dos fundos. Ele não perdeu tempo e tentou girar a maçaneta, mas para seu azar, também estava trancada.

Dar as costas para o quintal espaçoso e escuro estava realmente o incomodando, e o nervosismo de não abrir a maldita porta estava subindo-lhe a cabeça, então ele fez o que qualquer ser humano faria em sua situação..

Ele tentou arrombar a porta... e conseguiu.

A porta se abriu com um barulho esquisito e lento, que fez um eco maior do que deveria. Luke não queria perder mais tempo e entrou na casa, deixando para trás o quintal grande e assustador, onde ele não conseguia nem ver os cantos de tão escuro que estava.