Sua Ausência - Sonhos de Lan Zhan

Coelhos

Alguns dias se passaram e a extensão de sua punição foi melhor compreendida, pois Lan Qiren 'deu a entender' que seria melhor para WangJi se ele passasse um tempo recluso na Caverna da Nascente Gélida, o que as duas Jades entenderam que não era um pedido.

Todas as manhãs Lan Zhan era acordado por seu irmão, que vinha lhe trocar os curativos e ajudar a se alimentar. XiChen também mantinha seu irmão informado sobre as condições de saúde de Lan SiZhui.

- WangJi. - Zewu-Jun chegava em mais uma manhã, para trocar-lhe os curativos.

- Xiong-Zhang... Você deveria parar de vir... Não quero que seja punido por minha causa.

- Eu ainda sou o Líder deste clã, WangJi! Se minha posição não me permitir ao menos cuidar de meu Didi, então eu não a quero! Eu já me sinto muito culpado de não ter conseguido intervir para que sua punição fosse outra... - O coração do mais velho doía muito por isso.

- Não tem problema, Xiong-Zhang... Essa dor nem me incomoda mais tanto assim. Na verdade... Ela é melhor que... A outra.

Lan Huan não fez nenhum comentário. Sabia exatamente a que seu irmão se referia, e apesar de não saber ao certo como essa dor seria - pois nunca a sentiu por si mesmo - ele tinha certeza de que era algo devastador. Levou seu pai à reclusão até o fim da vida, e agora estava levando o brilho dos olhos dourados de seu irmão.

Hanguang-Jun pode ser inexpressivo para todas as outras pessoas, mas não para Zewu-Jun. Este sempre conseguiu lê-lo, e mesmo quando a dor da perda de sua mãe o dominava e o fazia muito triste, ainda assim existia um resquício de brilho no fundo de seus olhos. Frágil e quase inexistente, mas estava lá.

Porém agora não restava mais nada. O dourado parecia agora muito apagado, quase um tom castanho claro. A agonia que eles transmitiam faziam o Líder Lan querer pegar o chicote disciplinar e golpear-se a si mesmo, se a dor que ele sentisse pudesse tirar a dor do irmão, mas isso era impossível.

- Eu sinto muito, WangJi... Eu não sou capaz de lhe ajudar... Não me impeça de vir aqui, é o máximo que eu posso fazer... Eu realmente queria poder fazer mais, mas... mas eu não posso...

- Xiong-Zhang... - Lan Zhan sentia a dor na voz do irmão. Ele não sabia muito bem como confortá-lo, nunca soube na verdade, e agora era pior ainda: ele não conseguia confortar-se a si mesmo, como confortaria outra pessoa? Sentia-se mal ainda mais por causar tamanha dor na pessoa que mais amava no mundo... A única que restava viva.

- Eu tenho que te dizer, WangJi - XiChen interrompeu, secando a lágrima que teimou em rolar - o pequeno A-Yuan é muito inteligente e forte. Ele está se recuperando bem, a febre já está bem mais baixa, e ele é muito sorridente também.

- Eu lembro quando o conheci... Ele agarrou-se à minha perna no mercado de Yiling e começou a chorar. Todos achavam que eu era o pai. Eu disse que não era, e um homem refutou, dizendo que tínhamos o mesmo nariz, e então ele começou a... - WangJi se interrompeu novamente.

Lan Huan ficava sempre muito feliz quando seu irmãozinho contava-lhe coisas, gostava de ouví-lo se abrir, e ficava triste quando o percebia voltando a se refrear.

- O que ele fez? Eu fiquei curioso, WangJi - Dizia Zewu-Jun, enquanto passava um pano úmido nas feridas.

- Ele... Começou a me chamar de papai.

A Primeira Jade olhou-o estático por um instante, então riu levemente, o que fez a Segunda Jade virar-se abruptamente.

- Ah, desculpe, WangJi... Não quis ofendê-lo ao rir, mas realmente achei engraçado.

- Não... Não foi isso... É que... É que... Ele também riu disso...

"Ele?" XiChen pensou. Ele seria a-Yuan? E então entendeu quem era 'Ele',