Saio da pequena loja de variedades no centro da cidade de San Diego, observando o movimento de todos os dias desse horário de pique. Moro aqui desde dos meus dez anos, já sou acostumada com a língua e com as pessoas, hoje nós meus vinte e três anos moro em um apartamento perto da praia com minha tia. Chego em casa mas sei que hoje ela vai demorar então faço uma janta e tomo banho, já deitada na minha cama, sinto meu celular tocar e é um número desconhecido do Brasil- A pessoa é rica para conseguir fazer uma chamada internacional- Penso.
Eu: Oi?
Desconhecido: Filha, quero que você volte- Não acredito de imediato, mas por um longo tempo consigo reconhecer a voz da única pessoa que eu sentia falta- Sthefany?
Eu: Vovó, como conseguiu meu número?- Pergunto chocada
Vovó: Fui na boca escondido- Sei que ela está rindo de lado agora pelo seu jeito traveso de falar- Filha, eu sinto que estou perto de ir, e queria te ver antes. Matias e Matheus não dão a mínima para minha existência, agora eles só pensam na boca, seu pai está resolvendo umas cargas internacionais e anda estresado, Sua mãe só anda triste e fico com medo da energia ruim dela passar para me, e a cobra lá, quer dizer Jhenifer, só quer saber de beber e festejar. Ela tá gastando o dinheiro do seu pai todinho. Eu quero te ter aqui- Esculto um soluço, acho que todo mundo sabe que a única pessoa que eu me importo é minha avó paterna. Infelizmente eu não consegui me despedir dela, na época em que vim morar aqui, ela não aceitou muito bem e não quis ir ao aeroporto. Então eu somente esqueci.
As vezes é necessário esquecer coisas e pessoas boas, como ela. Eu por outro lado, sou completamente o oposto.
- Não fala para ninguém, chego aí amanhã a tarde, vou pegar o voo de meia noite e chego aí 13:00 hora.Desligo meu celular depois de falar mais um monte com ela, minha tia chega e já vou arrumando minhas coisas, já mandei mensagem para o trabalho e falei que ia embora- Meu patrão ficou triste mas não posso fazer nada- minha tia surtou, chorou e tremeu mas depois se alegrou e falou que também iria viajar mas não para o Brasil- Já que quando eu me mudei para cá, ela arrumou briga com meus pais- " Só vocês mesmo, entendo que mais uma criança em casa é ótimo, mas abandonar a filha? Já é de mais, por mim vocês nunca mais verão Sthefany".
Aeroporto........
- Tia não chora- Falo tentado parecer uma pessoa com coração.
- Eu sei que você não se importa mas eu me apeguei a você- Fala não querendo me soltar- Eu te amo e nada de voltar para a casa dos seus pais, você tem dinheiro e pode comprar uma casinha para você.
- Te amo tia- Falo pela primeira vez em treze anos, ela se afasta sorrindo e depois de ver que era cincero começa a chorar mais.
"Pasageiros do voo 581, com destino ao Brasil, por favor vão para a área de embarque".
Dou um último sorriso e vou.... começo a andar e novamente vejo as coisas ficarem para trás, merda o que estou fazendo? Não era para isso acontecer de novo. Apenas vou- É tudo que penso me sentado no acento da primeira classe.
Brasil............ 13:37
Respiro o novo ar e olho para o céu azulado forte, vejo um táxi se aproximando e chamo, o caminho é tranquilo e tentei treinar o meu português com o moço mas não deu muito certo porque perdi o sotaque. Como se esperado, tive que descer logo no início do morro, já que eles não deixam o taxi subir. Olho para os homens que estão na barreira e vejo Matias, me aproximo indo passar mas ele me barra.