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Jo desceu o último degrau da escada com cuidado. A casa estava escura, afinal, era madrugada. AshTray dormia serenamente em sua cama, como de costume.

Já haviam se acostumado a dividir a cama quando Cinzeiro passava a noite lá. Não tinha maldade alguma. Na verdade, em momentos como aquele Marjorie se sentia tão amada e era por isso que adorava estar com seu melhor amigo.

Melhor amigo...

Enquanto a morena acendia a luz da cozinha e caminhava em direção a geladeira, lembrou-se do motivo pelo qual havia brigado com Nate naquela manhã.

A verdade é que fazia algumas semanas que Marjorie estava de saco cheio da porra daquele relacionamento. Era simplesmente uma merda.

No início era divertido, até porquê a garota nunca havia tido um namorado. Nate era carinhoso e gentil, lhe tratava como uma princesa. Aquela merda toda era apenas um teatro para ter Marjorie na palma de sua mão.

E agora que já a possuía em suas mãos, a tratava como um nada as vezes. Queria mandar em cada ação da morena, o que era um problema, visto que Jo obtinha uma puta personalidade forte e odiava que lhe dessem ordens. Por isso discutiam.

Marjorie não se submetia a aceitar as ordens do Jacobs.

O garoto já havia até mandado Jo se afastar de AshTray. Ele odiava copiosamente a relação que sua namorada e o 'traficantezinho' tinham.

JJ sequer se deu ao trabalho de cogitar aquilo.

Se afastar da pessoa mais importante para si?

Preferia a morte.

— Desde quando você é sonâmbula? — Ouviu a voz rouca de Cinzeiro. Estava mais rouca do que o normal devido ao fato de que ele havia acabado de acordar.

Jo passou a língua entre os lábios e deu de ombros, observando o moreno se aproximando de si.

— Não consigo dormir. — Murmurou. — Estou pensando demais.

AshTray sabia exatamente o que causava insônia em sua garota. Ele tinha nome e sobrenome, e principalmente, era um cuzão do caralho.

O tatuado suspirou antes de puxar a mais nova para um abraço, no qual suas mãos pousaram na cintura dela, deixando seus corpos bem próximos. Depositou um selar na testa da garota, vendo-a sorrir minimamente pelo gesto carinhoso e acolhedor.

AshTray não era a pessoa mais carinhosa do mundo, mas quando se tratava de Marjorie, ele parecia virar outra pessoa.

E sinceramente? Jo amava os abraços e beijos que recebia de Cinzeiro, assim como amava toda a atenção que ele lhe dava.

— Eu juro que vou arrebentar a cara dele. — Ash quebrou o silêncio, mostrando que já sabia o porquê de Jo estar "pensando muito".

Conhecendo o quão encrenqueiro seu melhor amigo era, ela sabia que se tivesse oportunidade AshTray realmente arrebentaria Nate na porrada. A morena recordava-se bem do dia em que Nathan levantou a mão para si, e ela acabou contando para Cinzeiro — afinal, não escondiam nada um do outro —. No dia seguinte Ash apareceu na porta do colégio onde a garota estudava, e quando ela o abraçou pôde sentir a pistola que o moreno carregava no cós de sua calça.

Obviamente ficou furiosa. Sabia que Ash apenas queria lhe proteger, mas tinha medo de que em uma dessas tentativas de protegê-la, ele tivesse problemas.

— Nem pense nisso. — Ela se afastou parcialmente, pousando suas mãos nos ombros dele. — Nem tudo se resolve com violência, garoto.

Ela soltou uma risada ao ver o garoto revirar os olhos.

— É impossível resolver algo com esse fodido sem usar a violência. — Ele deu de ombros.

Uma coisa que Jo amava em Cinzeiro era a forma penetrante e intensa como ele a encarava. Ela gostava pra caralho.

— Não esquenta, eu sei me cuidar. — Foi a vez dela revirar os olhos.

— Eu sei, gatinha. — Ash suspirou. — Mas eu me preocupo contigo. Então promete que vai me contar qualquer coisa que ele te fizer.

Marjorie piscou algumas vezes antes de finalmente manear a cabeça em um "sim".

— Eu prometo.

Ela deixou um breve selar no maxilar dele, se afastando em seguida.

— Vem, 'vamo tentar dormir. — Ele estendeu a mão na direção dela, que não hesitou em segurá-la e entrelaçar seus dedos.

Sentia-se acolhida. Era um sentimento bom.

[...]

— Ainda não sei como eu sobrevivo à esse inferno sem você. — Marjorie murmurou com a expressão fechada.

Estava sentada no banco do passageiro no carro de modelo antigo que era de Fezco, apesar de que quem vivia usando era AshTray, este que estava levando a morena até a escola.

— Sabe que eu nunca vou pensar em estudar, não é? — Ele ergueu uma sobrancelha, desviando a atenção da direção para encarar Jo por breves segundos.

— Queria viver em um mundo paralelo onde meu melhor amigo não me abandona na escola.

Foi impossível Cinzeiro não gargalhar com o drama da garota.

— Não fode, rainha do drama.

O calhambeque foi estacionado em frente ao estabelecimento lotado de alunos. Algumas pessoas ainda estavam chegando, então significava que a Salvatore não estava atrasada.

— Te vejo mais tarde. — A morena disse, aproximando seu rosto do rosto de AshTray, deixando um selar em sua bochecha.

— Quer que eu te busque? — Por um breve segundo as orbes âmbar de Cinzeiro focaram nos lábios chamativos de Marjorie, desviando rapidamente em seguida.

— Quero. — Ela sorriu.

Uma das coisas que AshTray mais adorava em Jo, era o seu sorriso. Adorava vê-la sorrir, e adorava ainda mais ser o motivo de seu sorriso. Ele não admitiria isso em voz alta, apesar de não hesitar em ser afetuoso com a sua — praticamente — única amiga.

— Te vejo mais tarde, gatinha.


boyfriend. | ashtray. Onde histórias criam vida. Descubra agora