III

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Demoro cerca de cinco segundos até me mover para as escadas para tentar encontrá-lo na saída. Amaldiçoo o dia que decidi que seria legal morar no oitavo andar, mas não há nada de divertido em descer oito vãos de escada, principalmente quando você leva uma vida sedentária.

Não penso no que vou falar para ele, mas se ele fizer com que esse esforço não valha a pena, eu vou matá-lo.

Quando finalmente chego ao térreo o elevador está aberto e não há sinal dele, então corro até o estacionamento e me orgulho de conseguir alcançá-lo antes que ele saia de carro.

— Serkan! — uso o último vestígio de fôlego que me resta para chamá-lo.

— Porra, que susto — ela se vira pra me olhar — o que você está fazendo aqui?

Coloco a mão no meu peito, sentindo tudo queimar e Serkan percebe meu estado deprimente e me arrasta até o banco mais próximo.

— Você está péssima — ele observa o óbvio, mas acaricia minhas costas e de repente eu sinto as cervejas que tomei se revoltarem no meu estômago.

— Eu vou... — mas não consigo terminar de avisar, no segundo seguinte todo meu vômito está no sapato dele.

— Eu não acredito — olho pra cima e vejo Serkan fechar os olhos e eu já me arrependo de ter nascido.

— Desculpe, eu corri por toda a escada e a cerveja acabou mexendo por dentro e... ah, quer saber, isso é culpa sua, se você não tivesse saído às pressas e sem nenhuma explicação, nada disso estaria acontecendo.

— Você vomita em mim e a culpa é minha?

— Claro, se você não tivesse sido um idiota frio comigo desde que nos conhecemos, nada disso teria acontecido, nós poderíamos ser amigos de verdade.

— Puff... nós nunca poderíamos ser só amigos.

— Eu sou uma pessoa legal, qualquer um adoraria ser meu amigo — eu insisto.

— Qualquer um, exceto eu — ele fala sério e eu sinto meu corpo arrepiar.

Maldito arrogante, ele não pensou sobre isso quando estava com a língua na minha boca.

— Eu não entendo você, Serkan. E Deus sabe o quanto eu sou boa em atender as pessoas — eu sinto que no fundo ele também se sente atraído por mim, mas porque foge de mim é algo que não sei.

— Eu não sou um estudo de caso, Eda, não venha com o seu eu antropólogo pra cima de mim — ihh, lá vem a mesma birra com a ciência...

Por que ele tinha que ser tão lindo?

— Seu namorado deve estar te esperando — ele diz de repente.

Espera, o que?

— Do que você está falando? — Ele não está falando de Seyfi, está?

— Do cara que quase me pegou beijando a namorada dele.

Ah, ele está sim falando de Seyfi.
E eu não vou deixar ele esquecer disso nunca.

— Você me fez descer oito lances de escadas porque pensou ter beijado alguém comprometida? Serkan, eu vou te matar, eu juro. 

— Ele te chamou de bebê! — ele tenta se explicar, como se não fosse vergonha o suficiente.

— E isso é provavelmente a coisa mais gay que existe! Ele é meu amigo há muito tempo, provavelmente teria adorado estar no meu lugar se tivesse nos pegado juntos!

— Gay? — sua ficha parece finalmente cair.

— Você reclama de minhas leituras das pessoas, mas deve ser porque você é péssimo com isso — eu estou gargalhando, meu enjôo esquecido — Eww, eu já depilei a bunda dele, sem chances de rolar algo entre nós.

— Então você não tem namorado? — eu aceno com a cabeça, negando — Bem, entendi — ele parece sem graça agora.

— Mas isso continua sem explicar porque você tem esse comportamento frio comigo desde que entrei na universidade...

— Eu não vou contar, depois de hoje esse segredo vai morrer comigo — ele parece irredutível.

— Serkan... — tento insistir, mas sinto outra onda de náusea me dominar — Merda, eu nunca mais vou beber.

— Vem — ele pega minha mão, querendo me levantar.

— Seu tênis... — me sinto culpada.

— Não sujou muito, nada que levar na lavanderia não ajude — ele puxa minha mão e me levanta — Agora vamos, vou te deixar em casa... de novo.

Quando chegamos no meu andar, Seyfi está na porta esperando.

— Os pombinhos se acertaram? — ele agora está usando o seu roupão e touca rosa bebê, deixando Serkan vermelho com vergonha do que supôs, e eu não posso deixar de sorrir.

— Meu amigo Serkan, Seyfi, pensou que você fosse meu namorado — eu não escondo.

— Eu pareço ser hétero? Eu nunca fui tão ofendido em toda minha vida — Seyfi realmente parece chocado.

— Ele saiu correndo daqui, não sei, talvez estivesse com medo de você aparecer com uma arma e lutar pela minha honra ou algo do tipo.

— Será que vocês poderiam parar de falar como se eu não estivesse aqui? — ele realmente parece sem jeito — Aliás — ele começa a tirar o tênis — Isso aqui está sob sua responsabilidade, os quero limpos.

E lá vem o brutamontes.

— Você não tem pena do pobre salário de uma professora? Levar isso pra lavanderia vai custar caro.

— Pensasse nisso antes de vomitar em mim — ele é cruel — Aliás, eu também sou professor igual a você.

— Você vomitou nele? Jesus, Eda, você é péssima flertando, não é atoa que está solteira até hoje.

— Cale-se — eu peço e Serkan sorri.

— Eu devo entrar ou preciso ficar aqui para defender a sua honra mais uma vez? — Seyfi me pergunta, mas antes que eu responda, Serkan se adianta.

— Com esse hálito de vômito? Sem chances de acontecer alguma coisa, hoje a honra dela está segura.

Seyfi gargalha com a resposta dele.
Droga, Serkan é ainda mais lindo quando está se divertindo... mesmo que seja as minhas custas.

— Só hoje? — claro que eu não posso deixar de provocá-lo.

E ele me olha malicioso e eu gostaria de levá-lo para o meu quarto.

— Ai Deus me livre, estou saindo daqui agora mesmo, olhar pra vocês é como ler a introdução de um sexo quente em um livro erótico — Seyfi sai de perto de nós murmurando.

Serkan ri, muito diferente de quando fechava sua expressão quando via Seyfi. Ainda não consigo crer que ele pensou que meu amigo era meu namorado.

— Boa noite, Eda Yildiz — ele deixa dois de seus dedos tocarem a minha bochecha e eu sinto esse toque nos meus ossos — Nos vemos na universidade?

— Claro — minha voz sai quase como um gemido, e ele gosta do efeito que causa em mim.

Ele me dá as costas e caminha em direção ao elevador.

— Serkan... — o chamo  — Aposto que você vai sonhar comigo.

Eu quero brincar com ele uma última vez.

— É você que vai sonhar comigo — ele sorri — bons sonhos molhados para você, Eda Yildiz.

Eu não poderia imaginar o quão certo ele estava sobre isso.

xxx

Atualização bem rapidinha só pra lembrar que eu não esqueci que preciso dar continuidade na história (embora eu realmente tenha me desconectado dela hihihi). Pretendo voltar a atualizá-la com mais frequência esse mês.

Obrigada por não desistirem de mim 💌

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