His blue Eyes

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"Hoje uma lágrima caiu depois de tantos anos de imersão, você não pode entender como é viver acorrentado ás paredes do abismo, o vazio é muito maior do que é possível medir."

"Minhas lágrimas são acidas, elas corroem minha carne até expor quem eu sou, a chuva cai lá fora, mas eu não posso ver, meu mundo se resume as sombras."

Inglaterra – 1854 Porto de Londres.

O Porto era um lugar perigoso para se estar, os ladrões corriam por aquelas docas todos os dias, os enjeitados da Inglaterra costumavam buscar abrigo naquele lugar, esperando os nobres que chegavam de viagem para pedir esmolas.

Mas aquele lugar não era apenas um lugar para criminosos, também havia os desafortunados, jovens que haviam se perdido e eram deixadas ali por seus pais para serem prostitutas de rua, ou pobres órfãos que não tinham ninguém por eles, essa era a realidade da bela cidade de Londres.

Um navio negro surgiu no horizonte, ele carregava um brasão nobre, algo que lembrava um dragão vermelho, todos nas docas pararam para ver quem seria o nobre que estava chegando.

Um Conde. Eles disseram, e a palavra fez brilhar os olhos da maioria ali, das damas que procuravam casamento, dos homens que procuravam por negócios e até mesmo daqueles que procuravam por emprego, mas principalmente de uma jovem que precisava de comida, Kimberly, uma garota de 16 anos que havia perdido os pais cedo demais, o pai ela nunca conheceu e a mãe havia morrido de Tuberculose a mais de 8 anos, a Tuberculose era uma doença traiçoeira que vinha quando menos se esperava e levava aqueles que amava sem pedir permissão.

Com isso Kim como era conhecida foi levada ao orfanato, mas por sorte conseguiu fugir em uma noite quando o guarda se descuidou e acabou pegando no sono, os orfanatos de Londres nem de longe eram o melhor lugar para se viver, eles eram feios, mal cheirosos e cheios de ratos, as crianças não tinham muito o que comer e havia boatos de que as garotas eram vendidas a homens com gostos diferenciados, e alguns eram torturados por prazer dos nobres, homens cruéis que gostavam de sujar as mãos.

O navio ancorou e alguns marinheiros desceram rápido para prender as cordas de segurança e colocar a passarela de madeira para que o nobre pudesse descer, e lá do alto ele surgiu, usando roupas negras, diferente das roupas Inglesas, parecia mais rústico, mais assustador, tinha uma capa pesada, e uma cartola de lado.

–Senhor deseja que eu chame um cocheiro? – Disse Josep, o criado mais antigo do Conde, mas o nobre apenas sorriu.

–Não meu caro amigo, apenas peça para que os carregadores levem a minha bagagem, eu pretendo conhecer melhor esse lugar. – Disse o nobre de forma confiante.

–Mas senhor, o lugar é perigoso, não acho que seja uma boa idéia andar por aqui sozinho, seria melhor que alguém ficasse com o senhor ou que fosse direto para sua propriedade. – O homem parecia sinceramente preocupado o que deixou Vlad tocado, nos dias de hoje encontrar pessoas leais era algo complicado.

–Não se preocupe amigo, eu vou estar em casa na hora do jantar, pode ir com as minhas coisas e garanta que tudo vai estar pronto quando eu chegar. – Vlad sorriu para o amigo e saiu caminhando entre as pessoas que o olhavam de forma admirada, era obvio que ele se tratava de um homem muito rico.

Kimberly observava aquele novo integrante da sociedade andando entre as pessoas sem se importar muito com elas, aquilo mexeu com a jovem, dificilmente um nobre ignorava outro, ela riu quando ele passou por um grupo de damas sem ao menos prestar atenção nas tentativas ridículas das mesmas de chamar sua atenção, para Kim, prostitutas e damas desesperadas por casamento estavam na mesma linha.

Desde que perdeu sua mãe e fugiu do orfanato ela passou a viver nas docas, mas ao contrário do que a maioria das jovens ali faziam para viver, ela não quis se prostituir, não queria sujar seu corpo ou a memória do que sua mãe havia lhe ensinado, ela ainda sonhava com um casamento bonito e para isso precisava guardar sua pureza, e não iria permitir que ninguém tirasse esse sonho dela, porém ela precisava comer e ninguém ali era muito caridoso, então ela fez o que podia fazer.

Era uma ladra.

Quando Vlad passou perto do local onde Kim estava espreitando ela viu que ele carregava uma bolsa de couro que parecia estar cheia de moedas de ouro, aquilo podia lhe garantir alimento por mais de um mês sem precisar roubar.

A jovem surgiu do nada correndo com muita velocidade, devia ser por seu tamanho e magreza, ela tinha cabelos negros compridos e um olhar cor do céu que podia hipnotizar qualquer um se ela soubesse usa-los para isso.

–Cristo. – Disse o Conde ao sentir um impacto em seu corpo, mas sem perder tempo ele segurou a jovem que tentava rouba-lo, e a puxou com força, uma força que a jovem ladra jamais imaginaria que um nobre pudesse possuir, ele a travou junto de seu corpo de forma intima o que deixou Kim rubra, ela sempre evitava contato com quaisquer que fosse a situação.

–Me solte. – Disse a jovem quase sem fôlego procurando os guardas do local com os olhos, tudo o que ela não precisava era ser levada para as prisões de Londres, eles diziam que as celas eram tão asquerosas que os vermes subiam pelas paredes, que as pessoas morriam nas masmorras e eles nem ao menos perdiam tempo para lhes darem um enterro digno.

–Você é uma ladra, deve ir para onde todos eles vão. – Vlad falou se divertindo com o pavor nos olhos da jovem, mas ao mesmo tempo era ele quem tremia sentindo uma energia viva brilhando daquele olhar tão jovem e tão desesperado.

–Não tenho tempo para isso. – Kim tentou se soltar o que apenas os aproximou ainda mais, ela podia sentir o cheiro amadeirado dele e ficou constrangida ao perceber que aquilo a deixava bem, era como se seu corpo reconhecesse aquele corpo como parte do seu. Como era possível um homem tão desconhecido lhe transmitir uma sensação de proteção tão forte?

–Temos todo o tempo do mundo. – Vlad falou se lembrando de uma poesia do passado, uma poesia de antes das sombras assumirem sua vida. Ele sempre se sentiu melancólico quando o assunto era o tempo e o amor.

–Só para os amantes ele é eterno. – Kim falou sem saber o porquê de estar dizendo aquelas palavras que doeram tanto seu coração, aquilo lembrava um poema antigo que sua mãe apreciava.

Ela percebeu que o Conde fraquejou por alguns segundos aliviando o peso em seu braço, por fim ela aproveitou o momento para puxar uma adaga presa em seu vestido e com um golpe rápido acertou a mão do homem que com o susto a soltou, rapidamente a jovem sumiu feito o vento no meio das pessoas e ele ficou ali encarando a mão que cicatrizou rapidamente sem que ninguém percebesse.

–O senhor está bem, Lorde? – Disse um guarda se aproximando.

–Estou sim, ela não conseguiu me roubar. – Disse ainda atordoado.

–Quer que mandemos uma patrulha atrás da jovem? – O guarda se propôs solicito pensando que ao ajudar um nobre talvez sua carreira fosse reconhecida.

–Quero apenas o nome da pobre criatura. – O Conde falou encarando o homem que pareceu incomodado por um tempo.

–Kimberly Jones, ela sempre está por essas docas, todos a conhecem por Kim, ela é apenas uma ladra, perdeu a mãe a muitos anos, o pai ninguém conhece de verdade, a maioria acha que era um vagabundo de rua ou algo assim, mas antes de ir embora ele ao menos reconheceu a menina, eu ainda acho que ela daria uma ótima prostituta. – O soldado riu, mas ao ver a expressão furiosa do Conde achou melhor ficar em silencio.

Vlad sabia que precisava encontrar aquela jovem novamente, e sabia que o destino iria conspirar ao seu favor.

There is always hope for LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora