Saí do almoxarifado ainda muito frustrado, porém mais calmo. Decidi almoçar sozinho naquele dia, pois queria processar melhor a minha frustração e conseguir me preparar, porque já imaginava que o pior iria acontecer. Não obtive sucesso, creio eu. Só de pensar que ia perder meu filho e consequentemente toda a família que consegui formar ao longo desses nove anos meu coração se partia em mil pedaços. Voltei para o trabalho muito triste e abatido.
O tempo passou e quando percebi já era mais um final de expediente. Diferentemente de outras vezes eu fiquei exausto antes disso. Tudo o que queria era ir para casa. Porém meus planos foram por água abaixo porque quando já estava saindo do meu escritório, o seu Arnaldo apareceu.
— Marco, será que eu poderia dar uma palavrinha com você na minha sala? É um assunto muito importante, então seria bom se resolvêssemos a situação o mais rápido possível.
— Tudo bem, seu Arnaldo. — suspirei ansioso. Será que tinha feito mais alguma coisa errada? Eu sabia que meu rendimento nesse período era o pior de todo o tempo que passei naquela empresa, mas mesmo com toda aquela avalanche acontecendo na minha vida eu realmente estava me esforçando em ser produtivo.
Quando nós chegamos ao escritório do meu chefe, ele se sentou em sua cadeira e me pediu para sentar na frente dele. Eu peguei uma cadeira que estava disponível e assim o fiz.
— Eu fiz alguma coisa errada ultimamente? — Eu queria esclarecer minha dúvida de uma vez.
— O certo seria perguntar o que você não fez. — respondeu seu Arnaldo suspirando. — O que deu em você, Marco? Eu sei que as coisas na sua vida pessoal estão difíceis, mas você não parece ser o mesmo tipo de funcionário que você era depois que foi contratado.
— Estou fazendo o máximo que posso, chefe. — afirmei.
— Será mesmo? Você tem atrasado a entrega de muitas planilhas e documentações e quando não atrasa a sua tarefa você aponta as coisas de uma maneira bem superficial. Sério, Marco, o que está acontecendo? Eu já te autorizo a sair mais cedo por causa do seu filho no hospital, tolero as suas burradas, mas mesmo assim você não entrega o que é necessário na hora em que é necessário e nem na qualidade esperada pela equipe.
Eu engoli em seco e não consegui responder.
— Como eu disse anteriormente... — continuou seu Arnaldo — Eu sei que você está em um momento difícil, mas seu rendimento na empresa não pode continuar desse jeito, afinal sua falta de comprometimento tem nos prejudicado e muito. Aliás, você me prometeu que iria melhorar seu desempenho. Por que não está fazendo isso?
— Mas eu estou me esforçando para melhorar meu rendimento. — Me defendi
— Eu não creio nisso e sua performance de ultimamente prova o meu ponto. Marco, mesmo com o seu filho doente, eu podia sua dedicação antes, mas eu não vejo isso mais em você. Você vai continuar a negar que tem alguma coisa diferente acontecendo?
Aquilo que ele disse sobre meu desempenho de antigamente era um elogio? Porque fiquei surpreso ao ouvir essas palavras do meu chefe.
— Vai me responder ou não? — indagou seu Arnaldo impaciente.
— Eu peço desculpas pela queda do meu desempenho, mas não posso explicar o que está acontecendo comigo. O senhor não acreditaria em nada do que dissesse.
— Como tem tanta certeza?
— Eu estou tendo uma experiência muito louca ultimamente e é até bem difícil de explicar, mas prometo que...
— Não prometa o que não pode cumprir. — disse o meu chefe ríspido — Mas é bom mesmo que você melhore seu desempenho porque senão vai para o olho da rua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Porta
General FictionO que você faria se visse uma porta que nunca tinha notado e que ninguém parece se importar com ela e que na verdade sabe que não ela deveria estar ali? É com essa dúvida que Marco, um gestor de finanças tem que lidar. Imerso em um trabalho que ama...