Metavida

3 0 0
                                    


Jhon O'Shea era um senhor de 60 anos que morava em Birmingham e acabara de jogar as cinzas da sua esposa no canal. Local onde se conheceram e se apaixonaram. Joana O'Shean foi seu grande amor por 30 anos.

Ao virar as costas para o canal e andar em direção a sua casa, Jhon começou a pensar em sua vida. Não tinha ninguém. Joana nunca lhe deu filhos, pois teve câncer uterino e teve de retirar o órgão. Ele nunca a cobrou, porque ela a amava, mas se sente ressentido por isso. Agora, esse pensamento começava a assombrá-lo. Ele não tinha mais ninguém. Ia morrer só. Ele preferia ter morrido antes de Joana.

Deprimido, ele não tinha mais motivação para trabalhar. A depressão tomou conta de Jhon e por dois meses ele chorava até dormir. 

Um dia ao acordar ele decidiu usar o dinheiro que ele e Joana tinham guardado para fazer uma viagem. Não suportava mais ficar em casa. Sentia o cheiro de Joana nos lençóis e lembrava dela em cada canto que olhasse.

Assombrado pelas lembranças, enfiou algumas mudas de roupas com tanta ansiedade para sair que nem percebera que esqueceu cuecas e meias. Joana que fazia as malas quando iam viajar.

Jhon entrou no carro e saiu deixando a chave na porta pelo lado de fora. Ele nem sabia pra onde ir, apenas dirigiu até o anoitecer. Parou e simplesmente dormiu no acostamento.

Jhon sonhou a noite toda. Sonhou com ele mesmo, enquanto criança. Ele estava na escola e lá via uma menina linda. Ela não era Joana, mas o sentimento que ele tinha por ela era o mesmo que tinha por sua Joana. Ela tinha o sorriso lindo e os olhos brilhantes. Só dava atenções a Jhon. Eles brincavam no parquinho, bebiam água juntos, corriam pelo pátio da escola sorrindo. Jhon foi mais feliz naquele sonho do que 40 anos da sua vida. Quando acordou, Jhon queria muito viver naquele sonho e tentou dormir de novo para tentar sentir novamente aquele sentimento tão intenso, mas não conseguiu. Frustrado, ligou o carro e continuou sua viagem para o desconhecido.

Sem perceber, Jhon chegou à London. 

Dirigiu um pouco pelas ruas até sentir fome. Parou o carro e por algum tempo contemplou a pressa das pessoas.

Ao entrar num pub, sentou-se e demorou a escolher algo no cardápio. Chamou a garçonete, fez seu pedido e enquanto esperava, assistiu uma mulher de uns 50 anos falar sobre sua experiência com um programa, algo sobre tecnologia. A mulher falava que não saía do programa e seus parentes estavam na tv reclamando que ela havia perdido seu emprego e colocado toda família numa situação financeira complicada, pois ela não queria se desconectar do tal programa. Em sua defesa a mulher falava que estava feliz e que não estava disposta a mudar sua rotina, já que estava mais feliz do que jamais fora em toda sua vida.
Quando a comida chegou, Jhon perguntou à moça do que se tratava o assunto da tv. A moça sentou-se empolgada falando que também se conectava vez ou outra naquele programa e dizia que era algo viciante, porque o algoritmo mostrava apenas conteúdo que a pessoa queria ver, coisas que faziam bem à ela, que aquela realidade era mais leve que a vida real. Jhon entendeu porquê aquela senhora não queria se deligar da felicidade. "E como eu consigo usar esse programa", perguntou ele. A garçonete respondeu: "Basta baixar o aplicativo e comprar um headset de realidade aumentada."
Jhon não entendeu muito bem e se limitou a agradecer a ajuda da moça que se levantou sorrindo para atender um grupo que estava sentado ali perto.
Jhon continuou assistindo ao programa na televisão, enquanto comia. A senhora da tv estava irredutível da sua ideia de ser feliz e reviver seu passado numa realidade paralela. Aparentemente, ela tinha depressão por questões mal resolvidas e o programa a ajudava a lidar com aquilo. Os filhos dela pareciam mais interessados em saber quem iria pagar as contas. 
Jhon ficou curioso com aquilo e assim que pagou a conta, decidiu sair em Londres procurando onde teria aqueles headsets para vender.
Ele andava sem rumo e por isso andava devagar, enquanto as pessoas passavam impacientes com sua atitude letárgica. Ele percebia, mas não se importava com mais ninguém. Por que se importaria com desconhecidos na rua?! O ritmo da sua vida após a morte de Joana era aleatório. Seu sentimento variava entre a depressão, apatia e anestesia. A aleatoriedade o levou a procurar um headset que viu na tv. Sua apatia o fazia não se importar com ninguém, pois não tinha ninguém no mundo. A depressão por sua vez, o fazia lembrar de Joana. 

Jhon entra quase sem perceber em um shopping. Anda alguns metros e vê uma loja de informática. Ele entra e começa a olhar vários periféricos e computadores com cores estimulantes e texturas emborrachadas. Um funcionário da loja se aproxima, se apresenta e pergunta se pode ajudar. Jhon conta a história que viu na tv e o rapaz lhe passa uma variedade de headsets. Ele escolhe um e o rapaz o ajuda a baixar um aplicativo que roda o Metaverso. Jhon lê na descrição do programa:"Metavida é um aplicativo de imersão no metaverso".
Jhon sai da loja, olha para um lado e para o outro, totalmente sem rumo. Ele olha pra sacola com o produto novo e dá um passo totalmente a esmo.

Jhon andou pela cidade olhando as pessoas fazendo as coisas que faziam todos os dias. Crianças e cachorros nos parques, casais à beira do Tâmisa. Nada tocava Jhon. Ele andou por horas. Nem lembrava mais onde seu carro estava. De repente, parado com o olhar perdido ele repara que há um hotel ali perto. Estava cansado. Pensou em dormir um pouco. Ele entrou no hotel, se dirigiu até a recepção e reservou um quarto. Chegando ao quarto ele ligou a tv e deitou na cama. Pegou o headset, pegou o celular e iniciou o programa com o headset no rosto. Jhon começou a ver a simulação e a lembrar do sonho da noite passada. Ele projetou a menina do sonho. Ela a imaginou com a idade de Joana quando eles se conheceram.









Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 07, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

MetavidaOnde histórias criam vida. Descubra agora