Severus reconhecia, porém, que ela jamais estivera realmente ao seu lado para deixá-lo. E ela não possuía nenhuma parcela de culpa; ela não era culpada pelas garras perversas que esmagavam o seu coração.
E, Merlin... Como doía!
Eles tornaram-se amigos em algum momento após a guerra. Hermione tentou uma carreira no Ministério da Magia antes de se desiludir com a vida política. McGonagall estava logo ali, pronta para lhe oferecer um cargo no corpo docente de Hogwarts. A insuportável Sabe-Tudo tornou-se professora de Transfiguração, sua amiga e, em poucos meses, a mulher que amava desesperadamente.
"Arrisque!", aconselhara Minerva durante um chá da tarde. "Convide-a para sair, surpreenda-a com um presente." E Severus fez o que raramente fazia: seguiu os conselhos de alguém. Ele e Hermione compartilharam momentos muito agradáveis, e até mesmo desenvolveram o hábito de trocarem livros e comentarem suas leituras.
Porém, ainda não era o bastante. Ele precisava dela, por completo. Decidiu tornar suas intenções mais claras, afinal, precisa ser honesto com ela e, principalmente, com ele mesmo. Um convite para um jantar num restaurante francês, sob o sereno noturno londrino, era menos impessoal e Hermione entendera isso, pois ele viu — ele viu! — certa hesitação quando ela aceitou o convite. Continuou enxergando incertezas na breve reluta em aceitar o braço que lhe oferecia, nos olhos baixos quando ele lhe entregou uma rosa branca e no forte e demorado beijo que ela depositou em sua bochecha magra, ao fim da noite — um beijo que dizia: "A noite foi agradável, você é uma boa pessoa, mas não posso lhe dar mais do que isso".
Ignorando mais de quarenta anos de racionalidade, Severus tentou manter suas esperanças. Preparava-se para convidá-la para um passeio pelo Lago Negro quando Hermione o chamou primeiro. O tom comedido da professora o deixou em alerta.
"Preciso que seja sincero sobre o que está sentindo, Severus", ela dissera. E ele foi. Não poderia — nunca — mentir para os olhos castanhos que o enquadravam numa expressão séria e nervosa. "Estou num momento estranho da minha vida, Severus. Meu relacionamento com Ronald terminou há alguns meses e a guerra me impediu de viver normalmente a minha adolescência. Estou organizando as coisas dentro de mim e... para ser franca, eu estou uma completa bagunça". O sorrido dela foi fraco e irreal. "E eu não suportaria a ideia de magoá-lo, Severus. Espero que entenda isso."
Ele entendia. É claro que entendia. Ninguém jamais ficaria por ele, convenceu-se. Quando acordou no dia seguinte, a resignação doía mais do que a dissolução das suas fantasias.
Agora, os dias pareciam mais frios.
A chuva não acalentava mais a sua alma.
As folhas amarronzadas, da cor dos cachos de Hermione, soltavam-se dos galhos, despencando lentamente. Cada uma pesava uma tonelada, contribuindo para o peso esmagador no seu peito.
Era outono quando ele a deixou ir.
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• notas finais •
Drabble melancólica para combinar com o cinza do céu do Rio de Janeiro e o cansaço dessa que vos escreve.
Opiniões? Bem, sempre são bem-vindas. Um beijo a todes!