Prólogo

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Lágrimas frias de amargura deslizavam pelo rosto singelo de uma pobre mãe desalentada, ela colocou seu bebê, que pranteava de fome e desconforto, nos braços de sua filha mais velha para em seguida poder confrontar o homem nauseabundo que gritava no cômodo ao lado, o cheiro forte de rum alastrava-se rapidamente pelo casebre humilde, o homem desprezível erguia e lançava contra a parede as únicas tralhas que a família poderia chamar de mobília.
A mãe infeliz olhou para a sua pequena filha por uma última vez e, com remorso, ela deixou o cômodo para finalmente enfrentar o homem a qual tinha sido condenada a chamar de marido e pai dos seus filhos.

A menina pálida e magricela encolhia-se dentro de um grande baú de tecidos puídos, onde tentava abafar, vãmente, o choro do seu irmãozinho mais novo, que berrava incessantemente como um miúdo neonato.

A criança ouvia o pai esbravejar no outro cômodo, batendo contra a face da sua mãe, que chorava de dor e implorava por misericórdia, mas, a tempestade que caía fora ofuscava qualquer som que a mulher poderia entoar naquele momento.

A menina permanece com expressões apáticas, já estava habituada com aquela situação corriqueira, enquanto se mantinha dentro do caixote, ela costumara pensar no que uma criança de apenas dez anos poderia fazer para impedir que sua própria mãe se colocasse a sua frente a fim de protegê-los, ela e seu irmãozinho, dos maus-tratos de um homem repulsivo. A sua mãe sofria nas mãos do marido sempre que ele ingeria bebidas alcoólicas, e ele o fazia todos os dias.

Era possível ouvir as fibras da corda, a qual ele usava para açoite, colidir-se contra os móveis algumas vezes quando o homem pegava impulso para lança-lo em direção ao corpo de sua esposa, que em seu choro desolado, com a sua voz trêmula e falha, gritava e berrava para que cessasse sua tortura.
No entanto, o homem, que tinha um porte robusto, não tinha pena ou remorso, pois o álcool havia tomado as suas razões, o bêbado não media suas forças para agredir, sem piedade, a frágil mulher. Ele batia repetidas vezes, sem pudor, mesmo quando gotículas de sangue acabavam escapando da pele ferida da pobre infeliz.

Ela empurrou um pouco a tampa do baú e observou o ambiente pela abertura estreita, a garota começou a pensar em maneiras de escapar dali com o seu irmão, antes que fosse tarde demais.

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