Saga Apocalipse - parte 1 Era uma vez uma pandemia

A DOENÇA QUE ENGOLIU O MUNDO

Eu nasci em 2019, numa cidade já extinta chamada Diadema. Na época do meu nascimento as nações do mundo viviam, de certa forma, desfrutando de paz, sem grandes guerras ou fomes extremas. As pessoas podiam ir e vir por todos os lugares do mundo, claro, se tivessem dinheiro para isso. Andavam de país para país em um meio de transporte chamado avião, uma máquina que só vemos pela televisão ou em um museu, hoje em dia.

Os avanços tecnológicos estavam no seu auge, impressionando a todos por sua comodidade e conforto. Celulares, televisão, carros, computadores, todos os dias aquela civilização era presenteada com algo novo. Um produto moderno substituía o seu antecessor numa velocidade impressionante. Existiam coisas que hoje só seriam possíveis imaginar, como as escolas públicas, agora extintas. Hoje as pessoas não se reúnem mais em salas para ouvir um palestrante passar conhecimento horas a fio.

Tudo que temos são os conteúdos direcionados pelo governo, transmitidos vinte e quatro horas por dia pela televisão, a fim de nos preparar para as funções que iremos exercer ao longo da vida. Somos doutrinados desde de criança à importância de ser apenas uma engrenagem pequena nessa grande máquina de moer carne, chamada de São Paulo.

Outro pouco de conhecimento é extraído dos e-books, que ensinam métodos que podemos aplicar no cotidiano, como construção civil, segurança privada e agricultura. Os livros convencionais feitos de papel foram extintos pois seu custo é considerado altíssimo para o planeta. Nada que possa ser taxado de superficial e reconfortante é permitido. As confraternizações não são mais incentivadas. Os muito ricos, são os únicos que tem direito a educação em escolas.

Contam os anciões, que antigamente as pessoas se reuniam e festejavam quando bem entendessem. Comemoravam casamentos, passagens de ano e aniversários. Sempre regado a muita comida e bebida, algo impossível de se pensar na atualidade. Até os mais pobres podiam comer carne, hoje uma prática que apenas os bilionários desfrutam.

A água era um recurso abundante se pensar que hoje um copo vale mais que um mês de aluguel. Quando a Coca-Cola comprou todas as reservas de água do Brasil, depois da terceira guerra mundial, não imaginava o lucro altíssimo que teria no futuro. As pessoas do velho mundo eram abençoadas por poder tomar banho todos os dias. Bastava ter os encanamentos necessários e filiação a uma tal de Sabesp.

Claramente eles tinham muito mais do que precisavam, e desperdiçavam muito mais do que poderiam. Alguns estudiosos, especialistas na geração que se perdeu, dizem que essa falta de respeito aos recursos do planeta foram uma das causas do colapso daquele modo de vida. Os poucos que restaram daquela civilização, falam amargurados da boa vida que tinham na opulência. Sempre cheios de murmúrios por tudo aquilo que nunca mais poderão ter.

Coincidentemente com o ano do meu nascimento algo surgiu no mundo que viria depois a acabar com ele, a covid 19. Essa doença se espalhou com rapidez pelo globo, causando uma pandemia global nunca antes vista. Os isolamentos sociais que temos hoje começaram nessa época, quando o mundo parou para diminuir a contaminação que atingia níveis alarmantes. Após dois anos de doença o mundo tinha provado apenas um por cento do horror que aconteceria nos anos seguintes.

No ano de 2021 a população se maravilhou com a chegada em massa da vacina imunizante, que fez todos ficarem esperançosos com o futuro, já que as taxas de mortalidade da época começaram a cair conforme o avanço da vacinação nos países aumentava. O Brasil conseguiu números bem positivos frente à doença nesse período.

Aos poucos o mundo começou a voltar ao seu normal sem imaginar o terrível destino que estava por acontecer. Voltaram então, as confraternizações, os comércios, as igrejas e tudo parecia ter sido encaixado no seu devido lugar. Foram anos de tranquilidade e conforto, enquanto o mundo pensava ter superado a doença e jocoso de sua vitória, repousou em felicidade e paz.