único;; sempre com você

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" You're not alone. I'm by your side. My soul is always with you. "

— Eiji Okumura.

Assim que acabou de ler aquilo, finalmente se deu conta que seus pulmões queimavam, clamando por ar, só então notando que prendia a respiração.

Prontamente soltou ar, sentindo certo alívio ao passo que seus pensamentos estavam bagunçados, suas mãos trêmulas e seu coração praticamente surrava as próprias costelas.

Minha alma sempre estará com você.

Aquilo havia desestabilizado Ash mais do que podia imaginar, porque não estava preparado. Já havia se conformado com a realidade: Eiji era toda a liberdade que desejava para si, mas por outro lado, irônica e dolorosamente, sabia que era a perdição do japonês. Ele sempre estaria em perigo somente por ser alvo do apreço do loiro.

E Ash não conseguia, e nem queria, ser egoísta o bastante para mantê-lo na sua vida tendo aquilo em mente.

Porém aquelas palavras... Seria mesmo possível que ele estivesse certo? Lembrava de quando ele havia lhe dito que poderia escolher o seu próprio destino. Mas será que aquilo era verdade? Um demônio como ele poderia ter essa chance de redenção?

Não sabia ao certo, mas queria acreditar que sim. Queria mais que tudo estar ao lado de Eiji também. Conversar com ele durante madrugada a fio, fosse sobre seus medos bobos de criança ou qualquer outra banalidade comum de adolescente.

Era isso, queria ser um adolescente comum.

Queria poder se apaixonar livremente, ser amado e cuidado, ter discussões idiotas com direito a provocações, só para que fim acabassem rindo e grudados num abraço que dizia que tudo ficaria bem. Porque era o que sentia quando tinha o japonês perto de si em momentos assim, que tudo ficaria bem.

Ele tinha esse direito, não é? Ainda mais depois de tudo que lhe havia sido tirado tão cruelmente. Sua inocência, sua liberdade, pessoas que amava.

Queria acreditar que sim, ou talvez fosse só o seu lado mais egoísta tentando justificar o porquê de naquele momento estar correndo desesperadamente rumo ao aeroporto, enquanto agarrava firme a carta e a passagem que haviam lhe sido entregues.

Cerrou mais um pouco os punhos, apressando mais o passo e por um momento arregalando os olhos ao ver a figura encapuzada brotando de repente em sua frente. Mas mal teve tempo de refletir sobre e num reflexo o empurrou com o braço para o lado.

— Olha por onde anda!

Teve o ímpeto de gritar, olhando por cima do próprio ombro, mas sequer conseguindo mais ter o vislumbre da pessoa que havia derrubado. E sinceramente não conseguia se preocupar demais com aquilo.

Tudo em que conseguia pensar e que nublou sua mente, era que havia se decidido, iria correr atrás do seu destino. E ninguém mudaria aquilo.

Mesmo dentro do táxi, aguardando ansiosamente que chegassem ao aeroporto enquanto sua perna se movimentava de forma inquieta e o olhar não se desgrudava da janela, continuava da mesma forma.

Praticamente podia sentir cada célula sanguínea correndo pelo seu interior e fazendo seu coração bombear cada vez mais e mais rápido. Nem mesmo todas as vezes em que traçou e executou planos perigosos, que poderiam pôr fim de vez em sua vida, sentiu tamanha adrenalina.

Na verdade era o contrário, sua tranquilidade costumeira vinha do fato que já havia aceitado a possibilidade da morte e de fato nunca a temeu.

Passou a vida inteira achando que seria ela a libertá-lo. Porém, agora, mais do que nunca queria viver. Viver a vida que sempre quis, ao lado de alguém por quem tanto tinha apreço, aquilo seria sua verdadeira liberdade.

Seu grito de independência.

Resfolegou, aturdido, quando o carro de repente parou, só então notando que haviam chegado ao seu destino. E mal teve tempo de pensar em como o tempo parecia que havia simplesmente voado ou até de se importar se havia dado ao motorista mais do que havia valido aquela corrida quando simplesmente enfiou a mão livre no bolso do sobretudo e lançou o punhado de notas e moedas que tinha no banco da frente do carro.

Pôde ouvir o resmungo do motorista que logo se tornou baixo demais quando novamente voltou a correr, agora para dentro do grande e monumental prédio.

Correu, e correu mais ainda por dentro todas aquelas pessoas que iam e vinham, enquanto olhava para os lados a procura da cabeleira negra com seus olhos afiados, nem ligando se parecia estar dentro da porra de um clichê romântico dos anos 90'.

Clichês românticos geralmente tinham finais felizes, então que fosse.

E de repente o viu, ao parar no meio da passarela: do outro lado do aeroporto, numa cadeira de rodas, um semblante tristonho e abatido, mas exatamente como se lembrava, quietinho na fila de embarque enquanto aguardava sua vez ao lado de Ibe-san.

— Eiji!

Conseguiu ouvir a própria voz gritar a plenos pulmões, se sobressaindo as vozes presentes no local, enquanto torcia para ser ouvido, porque naquele momento sentia seus joelhos trêmulos demais para que conseguisse correr.

Estava nervoso, inquieto e ansioso, como praticamente nunca ficava. De repente parecia que não passava de um garotinho indefeso.

A respiração falhou no instante em que teve o olhar dele em si. Profundo e escuro, mas não como o escuro que o assustava quando era garotinho. Não, era acolhedor e carregava tanta gentileza que o amolecia por dentro. E se iluminou assim que viu Ash.

O loiro sorriu, antes de então rir abertamente, finalmente conseguindo reunir forças o suficiente nas pernas antes de correr até o japonês, ainda mais rápido ao vê-lo se agitar e, mesmo sem estar nas devidas condições, levantar da cadeira de rodas.

— Ash!

Ele também sorria, o rosto iluminado pelo contentamento em vê-lo enquanto, mais lento só que gostaria, também vinha ao seu encontro.

Quando Ash finalmente o alcançou e abraçou, foi como respirar ar puro. Como se estivesse se afogando esse tempo todo e só então conseguisse aquele sopro de ar fresco que colocou tudo em seu devido lugar.

Foi cuidadoso para não apertá-lo demais, mas ao mesmo tempo também tinha medo que ele lhe escapasse por entre os dedos e aquele fosse apenas um sonho bom demais embora tampouco real.

— Achei que não viesse...

A voz suave que trazia um sotaque carregado interrompeu seus pensamentos, tão baixa e sensível que só conseguiu ouvir por estar próximo. E por sua vez o asiático agarrou suas roupas, o apertando sem se importar se aquilo o machucava fisicamente.

— O seu convite ainda está valendo? - respondeu com uma pergunta, enquanto fechava os olhos por um momento. Se permitiu relaxar.

Eiji sorriu mais uma vez, só notando os próprios olhos úmidos quando sentiu a quentura da lágrima escorrer pelas bochechas, de repente toda angústia de outrora sumindo.

Sempre.

O Lynx escondeu o rosto na curvatura do pescoço alheio, satisfeito com o que ouvia, sem que nada mais precisasse ser dito. Ao menos não naquele momento.

Tudo que precisavam entender estava implícito ali, no calor daquele abraço confortável e familiar.

Contanto que estivessem juntos, ficaria tudo bem.

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𝐇𝐎𝐏𝐄 𝐈𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐏𝐄𝐋𝐄𝐒𝐒 • 𝚊𝚜𝚑𝚎𝚒𝚓𝚒Onde histórias criam vida. Descubra agora