Silêncio não é um problema

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Alec ficou apenas dois dias no hospital para desintoxicação do veneno e cuidados com seus ferimentos. No terceiro dia, Jace foi buscá-lo e o levou à cabana de Magnus.

A casa de madeira não era grande, mas tinha dois andares. No térreo ficavam a sala, a cozinha, um banheiro e a área de serviço. No alto ficavam dois quartos. Um deles era de Magnus e o outro seria ocupado por Alec.

_ Eu arrumei da melhor maneira possível. Ninguém nunca vem aqui, então era como um depósito, mas já tirei a bagunça _ Magnus riu, desconsertado. 

Mas o lugar estava bem arrumado. As paredes em tom creme, cortinas brancas e uma cama confortável, com cobertas grossas e aparentemente macias. O closet era pequeno, mas suficiente para receber as roupas de Alec, que não se importava com o espaço reduzido. Quem já havia passado pelo pior, não se importava com mais nada. Aquele quarto era como um palácio. 

_ Está perfeito! _ sorriu, os olhos brilhando.

Magnus tinha de admitir que, de barba feita, limpo e arrumado, Alec era uma visão dos deuses. Seu sorriso iluminava o lugar, seus olhos eram expressivos e ficava fácil ler o que sentia, através deles. 

Ele era animado e gesticulava muito, mas isso o asiático já tinha percebido. 

Quando desceram e foram até o quintal, Alec abriu os braços e respirou fundo o ar puro. _ Eu posso ser feliz aqui! _ disse, sincero, os olhos fechados e o rosto voltado para o sol.

Jace, Isabelle e Magnus trocaram olhares sorridentes. Era o que queriam…

Magnus não sabia quando passou a querer também que Alec fosse feliz. Talvez tenha sido o desabafo triste do irmão, que contou a ele, em grossas pinceladas, um pouco do que havia sido a vida do rapaz nos últimos oito anos. Primeiro os pais e depois o namorado. Todos o feriram e magoaram profundamente. Mas ele mantinha um sorriso no rosto e seguia em frente, ou tentava.

Depois de servir à sua pátria em missões confidenciais fora do país, ver e fazer coisas que nunca poderia contar, Magnus não ambicionava mais a felicidade, se conseguisse absolvição divina e paz de espírito, seria suficiente. Mas, se garantisse aquele sorriso no rosto de Alec até o fim de suas férias, já se sentiria muito melhor do que nos últimos tempos.

Sobre o balcão da cozinha Jace havia deixado várias sacolas. Antes de ir para a cabana, Alec quis passar no supermercado, para abastecer a geladeira com ingredientes para vários pratos que pensava em fazer. Ele estava radiante enquanto guardava tudo na geladeira, com ajuda de Isabelle. Magnus disse que poderia usar os armários como quisesse também e Alec arrumou tudo rapidamente.

Se antes, quando estava sozinho tinha planos, agora com alguém para alimentar, tudo seria melhor… Magnus não sabia o que o esperava.

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Magnus estava acostumado com quase nada. Desde que voltou da força, não fez questão de se aproximar muito das pessoas. Havia se tornado um cara retraído e pensativo. 

Passava muito tempo sentado no parapeito da varanda, olhando as folhagens se moverem ao longe. Aquele som era tranquilizador, não havia crianças gritando, mães chorando, pais desesperados com pedaços dos filhos em suas mãos, sem saber o que fazer. 

Ele não era um carniceiro. Não matava civis, tampouco fazia parte de um pelotão, não comandava homens. Magnus era uma máquina de guerra. Ele era único e sozinho, pronto para entrar em ação em casos ultra necessários. Ele matava os matadores. Era o sniper dos snipers. E tinha uma longa conta de acertos em seu currículo. Nenhum erro. Ele era calmo e acertivo. 

Quando se aposentou, a contragosto dos superiores, sentiu-se um pouco perdido. O que faria da sua vida a partir dali? Sequer lembrava o que fazia antes. 

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