Querida S/n
Talvez esteja a ler esta carta anos depois de eu ter ido e talvez não se lembre mais de um dia específico em nossa vida. Sabe, desde que fui diagnosticado com essa doença minha memória foi a única coisa que melhorou – ou talvez, porque eu estou muito tempo em casa ou no hospital sem poder fazer muita coisa então essas memórias me recorrem –. E esse foi um dos principais motivos pelos quais eu comecei a escrever essas cartas, para, ao invés de você chorar lembrando desse momento triste, você irá rir e se lembrar dos momentos que realmente importam.
Era uma manhã de domingo e nós já ficavamos. Você ia para igreja com sua família, e eu andava pelas festas e viajens sem destino. Eu confesso que sempre fui louco por você e seu jeito certinho e errado ao mesmo tempo me fascinavam, me fascinava ver tamanho contraste entre você e você mesma e, nessa época eu era louco por você e louco de cabeça também – acho que sempre fui meio doido – então, às sete e meia da manhã bem no pico do verão; tendo direito a sorvete a noite, dormir sem coberta, guardar as blusas no fundo do guarda-roupa etc. Eu fui até sua casa – não do jeito formal é claro pois seus pais mal me conheciam –. Pulei a janela e apareci em seu quarto do nada. É meio psicopata? Sim, mas como eu disse, eu não sou muito normal.
Eu já sabia que você provavelmente estaria acordando pois sempre me dizia que ia a igreja as nove da manhã e sempre gosta de acordar uma hora e meia antes de sair – sim eu lembro de detalhes –. E eu estava certo, quando cheguei você estava saindo do banheiro com uma toalha enrolada ao corpo – estava no banho – e escovando os dentes. Fiquei paralisado sem saber o que fazer pois eu não esperava isso e pedia mentalmente para não estar ali ou para você não me ver, nos primeiros segundos realmente funcionou pois você deveria estar com muito sono e não tinha me notado, mas logo me viu e ficou paralisada assim como eu.
Ficamos nos olhando por muito tempo sem dizer uma palavra e sem mover um músculo se quer, na realidade, eu já tinha me esquecido o fato de a menina por quem eu era louco e estava me apaixonando estar na minha frente apenas com uma toalha escondendo seu corpo, eu estava viajando nos meus pensamentos; com vergonha, medo e uma mistura de emoções. Você estava paralisada em um nível onde a escova ainda estava sobre seus dentes mas seu braço não se movia para realmente limpa-los. Apenas fui retirado do surto de emoções e sentimentos quando escutamos a porta sendo aberta, era sua mãe. Pronto, agora eram três pessoas em um estado de choque.
Ela arregalou os olhos e deu um passo para trás como se estivesse se equilibrando então começou:
— O que está acontecendo aqui? – a voz saiu baixa no O e gritando no aqui.
Então começou uma bagunça com: sua mãe fazendo mil perguntas – inclusive perguntando quem eu era –, você sem saber e perguntando para mim e tentando acalmar sua mãe, e eu tentando explicar enquanto vocês duas falavam sem parar. Acabou que sua mãe soube que estávamos tendo um caso, eu tenho tendência a ser um psicopata e que você não sabia de nada. Você ficou de castigo por uma semana, sua família inteira soube que sua mãe pegou você só de toalha com um desconhecido sozinhos no quarto, falaram com meus pais, aprovaram a relação e tudo bem.
Mas no final você não foi na igreja pois perderam a hora com a discussão – lembrando que eu entrei no seu quarto as sete e meia e a igreja era as nove –. E nem eu consegui falar nem fazer o que eu queria quando subi a árvore e pulei a janela que era: me declarar. Eu não era só louco por você e nem estava me apaixonando eu já estava apaixonado, eu já te amava, queria te levar para algum lugar bonito e dizer essas poucas palavras esperando que você dissesse que sentia o mesmo e que vivessemos felizes para sempre... E olha só como a vida é, eu estou morto!
Sim, eu sempre vou achar a oportunidade de falar isso, mas não é para chorar!
Mas o destino da voltas até chegar ao seu destino – desculpa, não vou fazer mais piadas porque percebi que sou péssimo nisso –. E vários imprevistos ocorreram até eu finalmente poder dizer te amo. E me arrependo por esses imprevistos porque você melhor do que ninguém sabe que foram minha culpa...
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O que eu não fui para vocês (andamento)
FanfictionNoah Urrea, um garoto que apenas quis curtir a vida e acabou se apaixonando por S/n, ambos se amaram e construíram uma família ainda cedo, mas Noah foi diagnosticado com uma doença terminal e acabou morrendo, apenas deixando cartas para sua amada es...