Capítulo I

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Em Turdel vivia Elõn, jovem aprendiz mago. A vila de Turdel era definitivamente um lugar tranquilo para viver, simples aldeia de clima ameno e povo humilde. Suas casas pequenas, mas muito bem construídas com tijolos firmes e boa madeira cintilavam caiadas de branco com seus telhados amarelos e janelas quadradas.

Embora pequena, a vila não era nenhum pouco desconfortável, nem tinha ruas lamacentas, ao contrario, suas vielas eram todas calçadas. Lá não morava muita gente e segundo o último senso, os habitantes chegavam a três mil pessoas. Todos tinham por ocupação a agricultura já que a volta amplos campos de trigo se espalhavam até onde a vista alcançava e um pouco depois. Também cresciam pomares frondosos cujas frutas tinham fama de serem as melhores de toda região.

A grande diversão da vila de Turdel era seu riacho veloz, que formava um pequeno lago com bons peixes. Nas suas margens ouviam-se muitas histórias dos velhos que passavam várias horas do dia pescando sem qualquer compromisso. Ao Norte assomavam as montanhas da Cordilheira da Lua, enormes, sempre com seus cumes nebulosos. Ao leste crescia um bosque muito belo, onde os ceifeiros costumavam descansar após as horas de trabalho. Nesse pequeno mundo a vida seguia sempre calma, sem sobressaltos. As pessoas acordavam com a aurora e dormiam pouco depois do anoitecer. Nos dias de comemorações festejavam alegres, com muito vinho e cerveja, além de diversas comidas boas. Musica? Sim! Sempre muita música, principalmente a "Guesta", dança de par muito divertida em que os moços saltavam ao redor de uma fogueira ao som das flautas e as damas rodopiavam quase ate ficarem tontas.

Porém, apesar de tão edificante tranqüilidade, alguns havia, especialmente entre os jovens, que por sua natureza agitada, maldiziam morar ali, num lugar onde nada novo ocorria, estando tudo sempre na mesma. Um desses era Elõn, o aprendiz, que passava os dias atrás de novidades com os mercadores que ora ou outra andavam por ali, ou corria pelos campos na direção do emaranhado bosque, no encalço de alguma fera selvagem para caçar, só que estas também raramente apareciam e Elõn, enfadado da vida amena, sempre resmungava: "Ora! Para que minhas habilidades se nada há que fazer com elas? Melhor seria sair sem destino para fazer como os antigos da minha raça: lutar contra o mal que anda tumultuando esse mundo!" Para depois, com grande afinco e inabalável crença continuar "Mas, um dia ei de fazer grandes coisas!". E como era fervoroso nas suas palavras, quando menos esperava, como sempre ocorre, o destino lhe deu o que insistentemente pediu no que se conta agora, por que quem pede, Deus houve.

Era o dia da grande celebração do equinócio da primavera comemorado por muitos e data mais celebrada depois do solstício de verão. O equinócio marcava o fim das privações do inverno implacável com a chegada dos tempos quentes e, por sua vez, abundantes. Esse tempo dava inicio a preparação do solo para o plantio e a natureza revelava sua alegria. Turdel ficava toda enfeitada com bandeiras e lanternas coloridas, fogueiras acesas e muita comida preparada pelas matronas de mãos habilidosas. Havia danças e cantorias de fertilidade e uma animada confraternização dos agricultores que trocavam planos para o preparo de seus campos e falavam sobre novos cultivos.

Elõn admirava tudo com certa indiferença, jovem alto, imponente e de cabelos longos, destacavam-se seus olhos penetrantes e vivos, possuía sem duvida uma bela figura. Sentado num tronco ao lado de alguns amigos, nem sequer percebeu que as moças o fitavam e cochichavam sobre ele. Entretanto ele sabia que seria um mago e os magos não se casavam nunca, dedicavam sua vida a Ordem e a luta contra o poder do Mal. Por isso, fez que não viu e não deu qualquer importância.

Tudo o que desejava estranhamente era partir. Para onde? Não sabia, não tinha a mínima idéia, e nesse dia sentia, embora confuso, que novos ventos lhe sopravam a face, desde manhã era como se tivesse um bom presságio, como quando nós antevemos o ganho de algum presente, ou o acontecimento de algo bom.

A Torre do Destino: A saga de Elõn - Primeira parteOnde histórias criam vida. Descubra agora