Capítulo XII

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Com as mãos em punho aguardaram apreensivos até que uma matilha de cães parou diante deles. Eram grandes, maiores do que lobos e todos brancos como a neve. Logo atrás surgiu um homem misterioso, já adiantado de anos e vestido a maneira de pastor: coberto por manto de lã vermelho e com pesado cinturão de couro. Ao se aproximar cumprimentou os magos.

­― Acalmem-se meus amigos, esses cães são meus companheiros e não os farão qualquer mal por que são pessoas de bem. ― disse o velho. Enquanto falava fez um sinal com a mão e os cachorros o rodearam, sentando a sua volta como soldados guardando um rei.

─ Certamente bom homem que somos pessoas de bem. Como se chama e o que faz por esses cantos do mundo com tantos cachorros... Confesso que nunca vi cães tão grandes e brancos, me parece uma raça de gigantes! Posso tocá-los? ─ Disse Erian já adiantando as mãos para alcançar o mais próximo que, adiantando a cabeça, pareceu entender o que o mago queria e, de bom grado, aceitou o carinho. Elõn, discretamente, tentou se comunicar com algum deles, contudo, para sua surpresa, percebeu que não respondiam aos seus poderes. Achou estranho.

─ Me chamo Enias e sou um eremita que anda por essas terras, sem destino e sem morada, tendo a compania desses amigos animais que vão para onde eu for sem reclamar ou lamentar a minha sorte, como fazem os homens. ─ Respondeu o velho.

─ E pelo que vi possui muita autoridade sobre os cães. Percebo não ser homem de senso comum, ao contrário, posso até dizer que é um dos nossos ou possui sangue do povo ao qual pertencemos. ─ Disse Elõn em tom suspeito.

─ E de que povo são? Pois eu ignoro minha origem, cresci sem pai nem mãe e fui criado por uns aldeões pobres que disseram terem me encontrado abandonado ainda bebê perto de onde moravam. Quando morreram eu tinha onze anos e, desde então fugi para a floresta de Anamor, no norte e lá encontrei a cadela branca e seus filhotes e desde então vivo com seus descendentes que são esses todos que veem aqui. Eles me protegem e caçam para mim, são a minha família. ─ Disse o velho mexendo na barba e levantando os olhos na direção de Elõn.

─ Somos Efhemor e magos, na graça de Deus. ─ Respondeu Elõn.

─ Magos!? É a primeira vez que vejo um... ou melhor três! Até o dia de hoje só conhecia suas histórias que dos ermos de onde venho e vivo raramente via gente quanto mais magos...

Os companheiros e o velho permaneceram boa parte da noite conversando com o eremita, em especial depois que Elõn não percebeu no homem qualquer mal. Depois de contarem da jornada que estavam trilhando, o velho lhes deu preciosos avisos e, após pedir a Erian que lhe mostrasse o mapa, indicou com os dedos, como se conhecesse de cor todos os caminhos do mundo, os cuidados que deveriam tomar.

─ Graças aos céus por tê-los encontrado que nada na vida e por acaso, tenho certeza que os poupei de muitos males embora não de todos. Tomo agora meu rumo e sigo o meu caminho e os que habitam os céus estejam convosco, nessa e nas muitas outras jornadas que devem empreender na vida. Sou muito velho e mais vivido, não sei se sou digno de aconselhar, no entanto o farei: Nada temam, que o medo é inimigo da perseverança. Qualquer que seja o obstáculo com o qual se depararem, não recuem. Se for daqueles grandes demais para atravessar, dêem a volta. Mantenham se retos nos propósitos e firmes nas ações. Acima de todas as coisas, mantenham a crença no que está nas alturas do céu, Naquele que foi desde o início, é e sempre será. Observando o que vos disse, nada há sobre a face do mundo que os impeça de chegar onde desejam ou força que lhes construa barreira. Perseverança, sagacidade e confiança, eis as chaves! ─ Disse o velho e se foi, despedindo-se de cada um dos magos, tomando a estrada com seus cachorros, todos serenos até que desapareceram em meio aos campos.

― Eu acredito que esse eremita era algum anjo, por que não consegui me comunicar com os cães. Algo bloqueou meu poder. Estranho um eremita vir nos encontrar e nos dar tantos alertas a noite. Os anjos costumam tomar essa forma e a história de nosso povo esta cheia de relatos desses encontros imprevistos, mas providenciais. ― Observou Elõn se enrolando em seu manto.

A Torre do Destino: A saga de Elõn - Primeira parteOnde histórias criam vida. Descubra agora