Katherine Downey parou de funcionar

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Thursday — ou para os não-gringos quinta-feira —, o dia da semana em homenagem ao Thor. Sim, ao Thor, o deus do trovão na mitologia nórdica. Eu o amo demais! É um dos meus heróis favoritos e por esse motivo gosto bastante de quintas-feiras.

Nas quintas sempre saio de casa à noite e vou para o lugar sagrado: o fliperama do senhor George Clooney. Simplesmente um lugar perfeito para sair com os amigos, jogar — literalmente — conversa fora, comer besteira e rir, mas não venho com meus amigos sempre por dois motivos: primeiro que eles não podem parar de estudar e quando o fazem estão cansados demais para vir até aqui, e segundo, por mais que eu goste muito deles, às vezes ambos me fazem surtar e surtar no fliperama por motivos aleatórios — algo que não faz parte dos meus planos.

Quintas são sagradas, muito mais do que sábados já que, ao meu ver, eles são tristes e melancólicos. Aliás, se você está se perguntando porque eu não acho tão "incrível" esse dia da semana no qual você sai a noite com seus amigos para comer, conversar e dar amassos sem compromisso com outras pessoas, fique sabendo que eu tenho ótimos motivos e talvez mais adiante eu conte o porquê — ou talvez não.

Como o fliperama não é tão longe da minha casa, no centro da cidade, fui andando e no caminho passei no Starbucks, pedindo um novo tipo de chá gelado. Decidi sair do costume de comprar o mesmo tipo de café. Até o final do ano já vou ter experimentado todos os tipos de bebidas que há nessa cafeteria — tomando cuidado com a saúde, claro, pois não quero dar trabalho para minha mãe.

A noite estava fresca, o que era meio que uma surpresa já que em Toronto não há meio termo: ou estamos derretendo sob um sol escaldante ou tendo uma hipotermia em meio a neve — normalmente tendo uma hipotermia —, mas é bom morar aqui. Mesmo sendo uma cidade agitada de dia, é legal ver seu contraste com a noite quase pacífica: os letreiros brilhantes dos estabelecimentos e bares, as vitrines de lojas com coisas variadas, os casais em seus encontros à luz da Lua, as famílias em piqueniques e tudo mais... O outro lado de Toronto. Cenas realmente bonitas que merecem várias fotos e representações nas páginas de livros. Em minha opinião, tudo isso deveria ser transformado em poesia, uma que todos consigam ler.

Minha calça jeans com rasgos permitia que eu sentisse um pouco mais o frio noturno e meu cabelo esvoaçava graças aos ventos gélidos — algo ligeiramente irritante já que muitas vezes eu tinha que parar a fim de tirá-los da minha face.

Graças a Zeus o fliperama não fica tão cheio às quintas e fecha bem tarde, me deixando livre para jogar a vontade e ser feliz de verdade — me sinto até a própria Sailor Moon, mas não tenho ainda uma gatinha e todas as meninas para poder completar as sailor's —, então assim que cheguei fui direto para uma das máquinas já bem conhecidas por mim, colocando uma moeda e logo dando "play".

O clássico Mortal Kombat é um dos meus jogos favoritos e, deixando a humildade de lado, eu sou uma das melhores nele. É um costume checar o ranking e ver "KDown" nas melhores posições.

Só que, passados alguns minutos e ainda em meio ao jogo, uma voz soou atrás de mim e perigosamente próxima do meu ouvido:

— Ei, ei, tem alguma alma nesse corpo?

No meio do jogo. Perto demais. Era um garoto. "Tem uma voz gostosa de ouvir, na verdade, rouca e... Ok, o que eu 'tô pensando? Aliás, quem é que 'tá atrás de mim?"

Entrei no que chamamos de "bug do sistema". Completamente paralisada, sem saber como reagir. Era melhor me virar logo ou ignorar a pergunta e me concentrar na tela? Mas a pergunta tinha sido pra mim, certo? E se ele achasse mal-educada e viesse atrás de mim depois?! Eu definitivamente não fui preparada para lidar com esse tipo de situação — nem com seres humanos.

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