Capítulo 6

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Fui pra casa aquela noite chateada, naqueles momentos em que todas suas esperanças caem por terra. Ver a intensidade entre Terrare e Wollinger me deixou abalada. E, além disso, até agora eu não havia percebido nada que pudesse me dizer que minha relação com Carmem poderia dar em algo. Bom, não estava nos meus planos me apaixonar, e agora esse sentimento era muito claro pra mim. Mas a loira não parecia corresponder nada além de uma amizade muito íntima e cúmplice.

Demorei a pegar no sono. Lá pelas 3h da madrugada ainda estava imaginando se Paula e Carmem não estariam juntas a essa hora. E pior, o que estariam fazendo. Eu estava definitivamente morta de ciúmes. Tentei fixar meus pensamentos nos olhares, toques e sorrisos de felicidade que aquela loira por quem me apaixonei me distribuía quando estávamos juntas, procurando me convencer de que eu ainda tinha uma chance. E aí, depois de pensar muito, apaguei.

Tive um sonho que prosseguia a cena do escritório, quando Carmem desabotoou sua blusa branca e deixou um decote à mostra. Ela percebia meus olhares sobre seus seios e se virava para mim. "Talvez eu devesse tirar tudo. Vamos ficar mais confortáveis, que tal?". Eu assentia, impressionada com o que acabara de ouvir. Carmem tinha o olhar malicioso, e eu ficava quente. Ela tirou sua camisa ficando apenas de sutiã preto, com detalhes de renda, sem tirar de mim os olhos que me comiam por completo. Notando minha entrega, ela me puxou pela cintura, subiu as mãos pelas minhas costas e me encarou, a poucos centímetros de distância, e disse. "Eu acho que eu vou pedir a Paula em casamento".

Meu cérebro bugou e eu despertei de saco cheio. Não bastava a tortura psicológica que essa mulher fazia comigo enquanto estava acordada, ela agora me perseguia também nos sonhos? Bom, mesmo quando acordada não era culpa dela, já que ela nem fazia ideia do que eu sentia. Mas agora eu já não sabia por quanto tempo poderia aguentar aquilo. O segredo, e talvez até a amizade. Eu adorava Carmem, com seus defeitos e qualidades, mas me doía a vontade de ser sua. Ignorei meu drama por um momento, constatando que era tudo uma "ressaca" das emoções da noite anterior. Me levantei e segui para a empresa determinada com o plano de não me encantar por Carmem Wollinger hoje.

Cheguei ao escritório e prossegui concentrada em minhas tarefas (ou mais ou menos concentrada), até que recebi uma mensagem do grupo da família. Começou uma discussão sobre uma reunião que sempre acontecia no meio do ano, querendo marcar a data exata e onde seria dessa vez. Era um daqueles encontros quase que obrigatórios, onde todos os parentes apareciam, e eu pensei que estava realmente precisando disso. Eu tinha acabado de me mudar de cidade para trabalhar na Wollinger e meus amigos se resumiam aos assistentes com quem eu trabalhava (se é que eu poderia chamá-los assim) e, bom, à Carmem, é lógico. Confirmei minha presença, pensando que seria uma boa oportunidade de tirar a loira da minha cabeça por algumas horas.

Naquele dia não aconteceu nenhuma reunião e a Wollinger não havia me mandado nem um sinal de fumaça, o que me deixava ainda mais triste. Não é como se eu fosse ao seu escritório todos os dias, mas hoje não havíamos nem nos esbarrado pelos corredores (sendo eu a mais culpada, por tentar evitá-la avidamente) e eu estava sensível a qualquer coisa que se tratasse de Carmem. Meu celular vibrou novamente, sendo provavelmente a centésima vez do dia por causa das mensagens do grupo da família, mas dessa vez não era nenhum parente. Era Carmem. Meu corpo gelou por alguns segundos.

- Ei, mein schatz, tudo bem? Estava pensando em assistirmos aquele filme novo alemão que eu estou muito interessada no final da semana. Vamos marcar às 18h? - A forma como ela falava já considerava meu "sim" para todas oportunidades.

- Ah, Carmem, dessa vez eu não posso. Tenho uma viagem de compromisso durante o fim de semana inteiro. Vou deixar passar. - Eu respondi o que deveria, mas estava me martirizando por ter confirmado presença naquela maldita reunião familiar.

Ela me deixou sem resposta. Bom, de qualquer jeito era melhor assim, eu acho. Apesar disso, me derreti totalmente sobre a empolgação da loira, pensando em mim como acompanhante para ver o filme que tanto queria. Apesar da luta interna, meu rosto terminou a noite com um sorriso nos lábios. E não teve outra. Meu plano de não me encantar pela Wollinger hoje foi por água abaixo.

Paula Terrare? Eu quero é que a Carmem Wollinger fique comigo! - CarrareOnde histórias criam vida. Descubra agora