Antes de começar essa história, vocês precisam saber uma coisa de mim: eu sou muito boa em planejar eventos e antever situações. E guardar segredos. Eu sou ótima em guardar segredos. Dito isso, imagine dois turistas de muito longe, com inúmeros amigos em São Paulo e que "coincidentemente" estariam na cidade no mesmo dia. A ideia era sentar num bar e encontrar aqueles que aparecessem para matar as saudades. E muita gente apareceu. Amigos em comum e outros tantos que acabaram se misturando entre si. Chegaram e saíram durante toda a tarde sem saber que tal evento era uma grande fachada. Eu estava feliz, bebia e me divertia ao me inteirar da vida pós pandemia de cada um deles. E ele parecia em casa, à vontade, lindo, o sorriso sempre aberto no rosto que fazia os olhos ficarem miúdos e ainda mais encantadores. Mas a grande verdade era que eu mal podia olhar na direção do meu amigo coanfitrião. Eu apenas não resistia àquele homem. Ele sabia disso. Mais ninguém. E esse era o nosso segredo, um segredo que nasceu meses antes e atiçou um tesão absurdo, se transformando em horas e horas de sextings e áudios putos pelas madrugadas de ambos. Só estávamos ali porque nos queríamos. Todo o resto era fachada. Ou vocês acreditam mesmo em coincidências?
Ambos iríamos do aeroporto e da rodoviária direto para o bar. A ideia inicial era chegarmos antes de todos para conseguirmos ao menos nos tocar sem uma plateia inteira de conhecidos assistindo. Mas não conseguimos – droga, São Paulo! Isso fez com que nosso primeiro contato não fosse nada particular. Mas tivemos nosso momento: uma troca de olhares fulminante e um abraço demorado de sincera saudade que foi o suficiente para fazer minhas pernas derreterem. As mãos dele passearam rapidamente nas minhas costas e seus braços me envolveram com a pressão exata para me dizer que ele estava realmente ali e que a partir daquele momento eu tinha um dono. O cheiro daquele pescoço era muito melhor que eu havia imaginado e minha voz quase não saiu para dizer:
- Oi, delícia!
- Oi, gostosa! - Respondeu. E emendou sussurrando ainda mais baixonho: - Hoje eu vou te comer inteira -
Lá estava ele: o sotaque! Estremeci e quase coloquei tudo a perder, mas me recompus:
- Quero! E já estou te esperando: vim 'plugada' pra você.
Ele travou por um segundo, mas se recuperou rápida e elegantemente, rindo alto com um sonoro "filha da puta!" Quem olhava de fora nada percebeu, passou como uma das nossas galhofices. Quando nos afastamos, os mais atentos talvez o tenham visto fazendo um movimento gentil para me tocar o rosto – afinal éramos dois amigos que não se viam há muito tempo – mas nem eles perceberam que ele roçou as costas das mãos nos meus seios e fez com que meus mamilos já quisessem explodir para fora do decote do vestido já naquele instante.
Passei o tempo todo com aquele cheiro em mim. Sentia até o gosto daquela língua que eu sequer conhecia fora da minha imaginação. Foram muitos os olhares trocados, muita provocação das duas partes sempre seguidas de uma esquiva pública do tipo "com todo o respeito" ou "ah se me desse mole", e variações desse tema. Só nós dois sabíamos o quanto de verdade havia ali e só ele sabia que eu estava já ali - aquele tempo todo - bem puta, preparando meu rabo para ele. Num determinado momento, eu recebi no celular "não me provoca assim, eu não vou aguentar". Sorri boba para o telefone, digitei "me provoca mais que vou até aí e sento no teu colo" e enviei. Ele leu, plácido, e teclou de volta "se vier, eu puxo tua calcinha pro lado e te como na frente de todo mundo". Muitas mensagens depois, as mesas finalmente se esvaziaram, ficando apenas alguns que não queriam ir embora. Três queridos bêbados ingênuos, que insistiam em aproveitar todo minuto possível da nossa rara companhia na cidade. Eu seguia com a pose, minha persona pública, mas mal me aguentava mais. Eu queria aquele homem e o queria ali. Foi então que eu decidi colocar meu plano B em ação.