Duke
Cheguei a conclusão que tenho tolerado muita coisa que não devia. Agora tudo se torna mais lúcido e é nesses momentos que sinto que me torno mais sábio e que chegou o tempo de mudar o rumo. Se não consigo o que quero é porque essa coisa nunca me pertenceu, que devia insistir num caminho diferente.
As pessoas cansam.
Eu estou cansado.
Tenho apenas uma última tentativa. Ou talvez eu já a tive, deu errado e tenho que aceitar. Minha história com Natalie é complexa, quer dizer, nós a tornamos assim. Ela ficou com Theodore por vingança, porque eu a tinha deixado, e eu fiquei com ciúmes e a quis de volta, vingando-me de meu detestável tio também. Tinha tudo para dar certo, mas houve muita imaturidade da nossa parte, poderíamos ter conversado, ela não teria casado, e não estaríamos nessa situação.
Se eu achava que a amava, agora percebo que usei uma palavra muito forte para descrever os meus sentimentos, diria até que fui exacerbado. Quando erramos brutalmente, as coisas demoram para se acertar. Não estou arrependido por causa do meu tio, eu o odeio, estou arrependido por mim mesmo, e Natalie nunca sabe o que realmente quer. Ela não sabe o que quer, contudo eu sei o que ela não quer: eu.
Visto as minhas cuecas e encaro a mulher deitada na cama a olhar para mim, um pouco sonolenta. Seu corpo, sem se importar em ser coberto, chamando por mim mais uma vez. Desejo é diferente de amor, confesso que a desejei — e ainda desejo — mas onde fica o amor? É isso que eu quero para mim? É assim que serei feliz?
— Fica mais um pouco, amor. — Natalie pede e bate na cama para que eu deite ao seu lado e mais uma vez perca.
Agora percebo que perco sempre que estou com ela.
— Devia ir para casa. Seu marido vai ficar desconfiado. — Só de pensar nele fico mal disposto.
— Eu sempre quis saber porquê você o odeia tanto. O que ele fez?
Ela sempre quer saber o que ele fez, o porquê desse sentimento, mas nunca quer saber de como eu me sinto, de como dói estar perto dele, de como é difícil para mim encarar aquele homem. Ela sabe, mas não se importa.
— Uma das piores coisas que um ser humano poderia fazer.
— Isso não me diz nada. — Ela brinca com seus cachos extremamente volumosos.
— Nunca vou contar.
Natalie levanta com os lençóis à volta de si. — Está bem. Mas eu sei que de alguma forma, ele te machucou. — Toca o meu peito. — Deixou uma ferida bem aqui.
— Seria menos mau se fosse só isso.
— Às vezes, fico com medo do jeito que fala ou olha para ele.
Fica com medo por dele.
Não por mim.
— Fique tranquila. Não vou fazer nada contra o seu querido marido. — Quer dizer, além de foder a esposa dele, mas também já estou cansado disso.
— Não é isso que eu quis...
— Então, eu te deixo assustada?
— Algumas vezes.
— Sinto muito, mas você não sabe nem metade daquilo que eu sou.
Ela vem me abraçar. — Eu fiz com que as coisas pioressem quando casei com ele. A culpa é minha.
— Não, baby. — toco o seu rosto. — Apenas esqueça isso. Vai para casa. Amanhã falamos. — beijo seus lábios carnudos. Adoro beijá-la, tocá-la, ouvi-la gritar o meu nome quando a enlouqueço, mas isso já não é suficiente.
— Vamos fugir juntos? Mesmo que seja só um final de semana? — sussurra contra os meus lábios. Natalie sempre tenta, ou esforça-se para parecer que tenta. Agora eu percebo que tudo era coisa da minha cabeça.
— Temos que ser discretos, Nat.
— Está bem. Mas... se Theodore me desse o divórcio, você ficaria comigo?
— Já disse um milhão de vezes. Você é que não quer se divorciar.
— Duke, eu... Eu não posso. Não agora.
Sempre a mesma resposta: que não pode agora. E se realmente estivesse envolvido até aos cabelos, isso me deixaria extremamente furioso, ciumento, doeria, mas há certa discrepância entre os sentimentos que antes me rondavam e o que sinto agora que tudo se tornou mais claro. É como eu tinha dito, há coisas que apenas tolero.
Para quê implorar se ela não quer o divórcio? Eu já fiz demasiado, já suportei demasiado e é tão estranho que agora a ideia de desistir parece um alívio para mim. Sinto que estou preso há muito tempo e que agora uma porta se abriu à espera que eu saia, e embora eu caminhe em passos lentos até ela, pretende alcancá-la.
— Nosso filho não seria motivo suficiente para você desistir desse casamento e ficar comigo?
É apenas uma pergunta agora. O que Natalie quer de mim nunca será suficiente para preencher o vazio que eu criei. Eu tenho que ser suficiente para preenchê-lo, e apenas farei isso quando seguir pelo escuro, que é o lugar que tanto tento evitar. Eu não devia ter medo dele. Eu devia aceitar que essa é a única opção.
Tive esperança quando soube que Natalie estava grávida de mim, fiquei feliz, porém tudo se desmoronou quando ela perdeu o nosso bebé. Aquilo foi doloroso porque eu já fazia planos, inclusive fiquei deprimido por semanas. Jasmim ficou preocupada comigo, mas eu nunca cheguei a dizer o que realmente aconteceu. Ainda é um assunto que prefiro que ninguém saiba.
Ainda doí.
Eu sou sensível, só não deixo transparecer. Natalie também ficou triste, ela chorou bastante, mas conseguiu disfarçar na frente do marido e agora parece bem. E eu continuo a perder. Perco-me a mim mesmo.
— Claro que sim, mas não agora. E isso não é tão fácil quanto parece.
Tão cansado!
— Como você quiser. Eu tenho que ir embora agora. — Não estou triste ou desiludido. E esse é o sinal que eu precisava.
— Ficou bravo comigo?
— Não, apenas estou cansado. — Sou sincero. Termino de vestir as minhas roupas e saio do hotel com vontade de desaparecer por algum tempo. E é isso que eu preciso desesperadamente.
Tempo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas seu [COMPLETO NA AMAZON]
RomanceKarol não se importava com o que as pessoas diziam, não depois de tudo o que passou e de todas coisas ruins que diziam sobre ela. Ela tinha um passado que não se orgulhava, mas apenas queria mantê-lo escondido para não atrair seus demónios de volta...