14| Tira-Teima

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Acho que o diretor desse programa quer mesmo me ver infartando, só pode. Eu não fui colocada na lista como a última participante a cantar no dia à toa. Deve ser um plano para me ver colapsar de ansiedade. 

Desisto de ensaiar antes do início do programa e saio do estúdio para espairecer um pouco. Vou até a área externa para olhar as vitrines das lojas que haviam no local e quem sabe tomar um açaí antes de voltar para dentro quando me deparo com algo estranho, mas muito mais interessante do que olhar lojinhas. 

Maria e Felix estavam sentados em uma das mesas da praça de alimentação, conversando como se fossem velhos amigos. Por um momento duvidei de minha própria visão, mas em seguida me convenci de que aquilo era real. Cheguei mais perto sem que me notassem para ouvir sobre o que os dois falavam. 

— ... aí seu irmão partiu pra cima do Seungyoun e socou a cara dele como se não houvesse amanhã, você tinha que ver — ela dizia, contando em detalhes a fofoca. 

— O que?! — Felix a olhava boquiaberto — Tem certeza disso? 

— Eu vi com meus próprios olhos — ela levou seu milkshake à boca antes de continuar. — Até ajudei a separar os dois. 

— Você só pode estar de brincadeira — o platinado continuava cético. — Chris nunca bateu em ninguém. 

— Nunca ouviu dizer que pra tudo tem uma primeira vez? Tô te dizendo, ele estraçalhou a cara do garoto. 

Felix estava chocado, seus olhos tão arregalados que pareciam que iam saltar de seu rosto. Bom, sendo sincera, se fosse eu no lugar dele, teria a mesma reação. 

Resolvo interromper antes que Maria o fizesse ter uma síncope de tanto espanto. 

Pigarreio enquanto caminho até mais perto, chamando a atenção dos dois.

—O que estão fazendo aí? O programa já vai começar, deviam estar sentados na plateia. 

— Maya! — o garoto me chama desesperado — Me diz que não é verdade o que sua irmã me falou sobre o Chris e o Seung. 

Me surpreendo com tamanha aflição do garoto. É a primeira vez que vejo Felix tão preocupado com o irmão. 

— Parece que a Maria Fifi já te atualizou sobre as fofocas — rio nasal, tentando aliviar o ambiente pesado. — Não se preocupa, Lix. Já tá tudo bem. 

— Então é verdade? — levantou da cadeira, ainda perturbado — Maya, não pode ser. Christopher nunca faria isso, deve ter acontecido algo com ele — ele pausa. — E eu vou descobrir o quê. 

Suspiro derrotada. Não vou mesmo conseguir convencê-lo de que esse assunto já está resolvido. Então, como diz o ditado, "se não pode vencê-los, junte-se à eles". 

— Tudo bem, Lix. Me avise se descobrir algo, então. 

Maria nos olhava estranha e senti como se estivéssemos sendo julgados fervorosamente pela garota. 

— Mas por que vocês estão preocupados com isso agora? Isso não vai dessocar a cara do menino que o Chan socou. 

— Maria! — digo em tom de repreensão. 

— O que? Eu falei alguma mentira? — responde desaforada. 

Puxo o ar para retrucar o desaforo e iniciar uma discussão, mas sou interrompida por Felix, que nos chama para entrar, alegando que estava na hora do programa. Preciso agradecê-lo depois por ter nos impedido de protagonizar esse momento que provavelmente seria muito constrangedor para nós duas. 

Volto para a sala de onde eu não deveria ter saído em hipótese alguma. Se o tivesse feito, poderia ter evitado diversos incidentes. Rio de mim mesma lembrando de minha fuga para dentro do banheiro feminino quando vi Chan mais cedo. E por falar no garoto, seu nome havia acabado de ser anunciado por Tiago Leitfer na tela da sala de ensaio que eu ocupava. 

Me ajeito em um puff ali presente e espero sua apresentação começar. 

Dessa vez eu não faço a menor ideia do que Christopher vai cantar. Também, eu praticamente o anulei de minha vida nesses últimos dias, queria o quê? Que ele me contasse o repertório dessa rodada por telepatia? 

Por sorte sua apresentação já estava prestes a começar, ou eu morreria de curiosidade. Eu só não sabia que isso causaria a maior alucinação que já tive na minha vida.

Ele cantava uma música de amor, dessas que são praticamente uma declaração para a outra pessoa. O nome da canção foi colocada na legenda da tela. Eu Juro, do Ferrugem.

Espera, será que isso é... 

Pra mim? 

De todas as loucuras que já passaram pela sua cabeça, essa com certeza é a maior de todas. Pelo amor de Deus, Maya. Não viaja. Ele apenas gosta de pagode. Apesar de nunca ter mencionado isso pra você. 

A voz de Chan brilhava aos meus ouvidos e meu corpo tremia vendo sua imagem na televisão à minha frente. Ok, isso é tudo pelo nervosismo. Não tem nada a ver com o efeito que Christopher produz sobre mim. Não mesmo. 

Mas sério, como pude pensar por um momento que Chan estaria cantando essa música para mim? Não tem absolutamente nada a ver. 

Bufo e balanço a cabeça em reprovação a mim mesma. Devo estar ficando maluca por ter pensamentos tão absurdos. 

— Maya, você é a próxima — a produtora chega, me arrancando do mundo irreal que criei em minha mente. 

— Hum? — olho confusa — Ah, certo. Obrigada. 

Saio da sala e vou direto aos bastidores onde testo meu microfone uma última vez e ajeito o retorno na orelha. Toda vez que subo nesse palco eu imagino que pode ser a última vez. Mas isso não me deixa triste, de forma alguma, só me faz ter mais vontade de aproveitar cada segundo como se não fosse fazer isso nunca mais. 

E foi isso que eu fiz. Cantei Você Sempre Será da Marjorie Estiano e aproveitei o máximo que podia a sensação de estar me apresentando e colocando para fora tudo o que sinto em forma de música. 

Sempre acreditei no poder que a arte tem de levar alegria e conforto para as pessoas. E eu adoro isso. Mesmo quando decidi estudar gastronomia era nisso que eu pensava. Compartilhar felicidade através do que faço, seja na cozinha ou no palco. 

Termino minha apresentação sem saber se fiz o suficiente para me manter na competição. Apesar disso, tenho dentro de mim a certeza de que dei o meu melhor. Se for minha vez de sair, eu saio feliz, sabendo que cumpri minha missão da melhor forma que pude. 

Somos chamados de volta ao palco para o anúncio dos resultados. Dos seis membros de cada equipe, hoje ficarão apenas quatro. O funil está realmente se fechando, eu posso sentir isso só de respirar o ar tenso que se instalou no estúdio. 

Eu ainda estava presa na confusão mental causada pela música que Chan cantou mais cedo, então me mantive afastada dele no momento da revelação dos competidores escolhidos, mas confesso que explodi por dentro de felicidade quando Tiago anunciou Chan como um deles. Fechei os olhos por alguns instantes e respirei bem fundo... 

Eu também estou entre eles. 

Meus companheiros de equipe me abraçavam e me parabenizavam enquanto eu tentava acreditar que aquilo era, de fato, real. 

Estou entre os quatro melhores do Time Teló. 

Olho para o lado e vejo Christopher me aplaudindo sorridente e sorrio de volta como resposta. 

Nós conseguimos juntos outra vez, mesmo quando estávamos separados.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora