Sonho inapropriado

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Ludmilla on

Sai da casa do Fernando tão distraída que nem notei Rebecca se aproximando de mim quando tava chegando em casa.

- Aonde você tava? - Perguntou entrando na minha frente me assustando.

- Precisava dar uma volta - Menti a abraçando - Minha cabeça tá muito cheia esses dias - Essa parte não era mentira.

- Você tá bem? - Perguntou preocupada me olhando, apenas concordei dando um sorriso fraco.

- Vai ficar - Me abaixei a beijando, sentindo que ela tava tensa - Dorme comigo hoje? - Pedi com o queixo apoiado em sua cabeça.

- Sua mãe vai dormir no hospital hoje? - Perguntou me abraçando de lado para que voltássemos a andar entrando na minha rua.

- Eu dormi ontem lá, hoje ela disse que ficava com Marcos - Disse triste lembrando que já se passava 4 meses com o menino no hospital.

- Não fica assim, ele vai acordar logo - Falou me apertando mais junto do seu corpo.

Apesar de no dia que tudo aconteceu Rebacca não estar no meu lado, nos dias que se seguiu ela não saiu do meu lado e sempre acabava brigando com a Brunna que sempre que podia ia visitar a gente, ela e minha mãe se deram muito bem logo de cara, ainda mais depois de saber que graças a Brunna meu irmão ainda estava vivo, que se demorasse um pouco mais talvez as coisas fossem diferentes.
Brunna sempre tentava relevar as provocações de Rebecca, mas a baixinha quando pegava pra revidar eu tinha que intervir prevenindo uma morte entre as duas, a Bru como eu carinhosamente a apelidei acabou virando uma amiga, tanto minha quanto dos meus amigos o que irritou Rebecca já que alguns dos meus amigos não se davam muito bem com ela, mas amavam Brunna.

Mas ela devia confiar mais em mim certo?

- Amor - Chamou enquanto a gente entrava em casa, a olhei esperando ela continuar - O que você acha de eu pedir pro Fernando me ajudar a dar uma força pra gravar aquela música? - Perguntou animada, me fazendo pensar, não era uma boa pedir ajuda prós chefões do morro, eles ajudavam mais você meio que ficava com uma "dívida" com eles, todo mundo sabe que ninguém faz nada de graça pra ninguém.

Desde o começo do nosso namoro Rebecca sempre teve vontade de ser cantora de funk, mas só depois de terminar o ensino médio que ela tava levando aquela história a sério, aparentemente as coisas estavam começando a tomar um rumo e eu tentava apoiar ao máximo mesmo com tudo que tava acontecendo.

- Você quer ficar devendo o chefe do morro amor? Tem certeza? - Perguntei me jogando no sofá, fechando os olhos lembrando da besteira que eu tinha acabado de fazer.

- Mas pensa comigo, se não for com a ajuda de alguém eu não vou conseguir levantar a grana pra pagar o EP - Falou simples sentando no sofá colocando minha cabeça em seu colo, começando um cafuné.

- Eu vou tá do seu lado em qualquer decisão que você tomar, mas não acho uma boa ideia - Disse ainda de olhos fechados fazendo um carinho em sua coxa.

- Eu sei que você tá com a cabeça cheia - Disse me dando um selinho - Mas se você continuar com essa mão na minha coxa eu não vou poder prometer me comportar - Falou me fazendo soltar uma risada tirando minha mão dali, hoje eu só conseguia pensar no que eu tinha me metido mais cedo.

Foi quando que para eu me distrair comecei a vê a música que ela queria gravar, eu sempre fui muito fresca, com livros, filmes e séries, com músicas eu conseguia ser ainda mais enjoada, aquela música que ela queria não faria sucesso nem dentro da comunidade.
Foi quando eu sem dizer nada levantei, voltando com caderno e caneta.

- Me fala o estilo de música que faz sucesso nos bailes? - Perguntei a olhando, vendo ela pensar.

- A batida boa, algumas letras com palavrão ou aqueles funk consciente, outras com as letras só com rima - Assim a gente passou quase uma hora conversando nos detalhes que a música precisava, até que eu me distrai enquanto ela falava e parei de anotar o que ela falava e comecei a escrever palavras soltas no papel.

Rainha da favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora