Capítulo 02

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MELISSA

Ver as fotografias de Lucius Martins não me ajudará em nada. Não me ajudará a tirá-lo de mim.

Um olhar foi o suficiente para fazer todas as borboletas revoarem na minha barriga. Borboletas que sempre estiveram adormecidas.

E começou por um encantamento por sua aparência física.

Moreno. Lindo.

Com um corpo de dar inveja a qualquer rato de academia. Olhos esverdeados, barba por fazer e um sorriso tão belo que é capaz de levar até uma freira à perdição.

Imagine a mim. Apenas 19 anos, inexperiente e sempre tendo convenções sociais demais para seguir.

O tiro foi certeiro, desde o dia em que o vi no primeiro evento social em que esteve presente.

Ter muito dinheiro é a condição para ser convidado a participar de tais eventos e ter sua beleza é o que garante a legião de mulheres em sua cama.

Sim, Lucius é um deus grego da luxúria. Um depravado, que não esconde o que apronta entre quatro paredes.

As redes sociais são sempre ávidas por notícias dele. Sua beleza e poder garantem que tudo que o envolve vire notícia.

E eu como uma boba me alimento de tudo que sai sobre ele. Invejo aquelas que tem a chance de estarem ao seu lado, mesmo que, aparentemente, seja uma chance única.

Ao mesmo tempo que as invejo, morro de ciúmes por saber que estão em um lugar que jamais estarei.

Ao seu lado. Em seus braços. Em sua cama.  

Sou uma boba. Certamente a pessoa mais inadequada para ter esse tipo de ilusão. Certamente a última a ser digna de um segundo olhar por parte dele. Uma virgem que vive presa em uma gaiola dourada, que divide o tempo entre a faculdade e os livros de romance.

Faculdade de letras para o desespero de meu pai, que sabe que jamais ocuparei um cargo dentro do banco da família.

Sabe que jamais me envolverei nos assuntos do Banco Lacerda, pois nunca trocarei meus livros por números.

Mesmo que eles me façam sonhadora, romântica e que estejam sempre roubando todo e qualquer tempo que tenha disponível.

Mesmo que me distraiam ao ponto de sequer ver graça em festas e noitadas. Mesmo que os homens da vida real pareçam sempre sem graça perto dos mocinhos que os livros trazem.

A exceção é ele. É Lucius Martins.

Que tem na sua aparência a descrição perfeita dos meus crushes literários. Que após sua primeira aparição, sua imagem vem funcionando como avatar para aproximar ainda mais a ficção da realidade.

Ah, realmente estou ferrada!

Sonhando acordada com um homem que sequer me dará um segundo olhar, idealizando castelos e príncipes enquanto ele se envolve em todo tipo de escândalos.

Nudez, orgias, bebidas e mulheres.

Na vida real ele está longe de ser um mocinho, distante do que uma mulher sonha de um príncipe.

Talvez por isso tenho lido cada vez mais.

A cada dia que passa tenho fantasiado ainda mais.

— Fico tão feliz em vê-la animada para participar deste evento beneficente!

Minha mãe diz.

Talvez a alegria em saber que provavelmente estarei no mesmo ambiente que ele, foi demais. Talvez tenha mostrado mais animação do que é recomendado entre os meus.

O silêncio pode ser minha única arma neste momento.

— Quem sabe você não se envolve em causas sociais? Quem sabe você não descobre alguma aptidão com as coisas do nosso meio?

Amo minha família. Meu pai, minha mãe e minha irmã são tudo para mim.

Apesar da nossa incompatibilidade latente. Apesar da fixação deles em poder e dinheiro. Ainda mais, sempre muito mais.

— Quem sabe Melissa e eu não arrumamos um bom partido por lá? Sempre tanto CEO lindo dando bobeira nestes eventos, mas nunca consigo nada além de cantadas sem graça dos tipos que estão longe do meu ideal de homem.

Gisele diz. Adoro a minha irmã, mas sei que é parecida demais com os meus progenitores. Sempre um partido, nunca um companheiro.

Coloca expectativas em alguém com base em sua carteira, sua conta bancária.

Não a culpo totalmente. Nossa sociedade prega isso. Espera que herdeiras como nós, busquem um par com o mesmo poder econômico, busquem sempre uma união vantajosa.

Pregam sempre um casamento por amor, mas esperam fatalmente o divórcio. O contrato nupcial não deixa dúvida alguma sobre isso.

— Espero que vocês lembrem que estes partidos têm que gostar de negócios, pois penso que talvez os genros possam assumir minha cadeira no futuro, pois sei que minhas filhas não têm interesse nenhum em ocupá-la.

Joaquim Lacerda não perde uma chance de tocar neste assunto.

Fala tanto em aposentadoria, quando sei que ele sequer pensa em largar o osso.

Papai adora o que faz e tem o conselho do seu lado. Com executivos competentes e de confiança que o substituiria se assim fosse o caso.

Mas ele quer uma de nós. Ou um futuro genro.

Resigno-me ao silêncio. Certamente é a melhor resposta.

Sempre as mesmas caras, os mesmos convidados. Mas jamais os mesmos trajes.

Ninguém seria capaz de repetir um vestido, quando a competição entre o mais caro e o mais bonito acontece, não de forma explícita, mas é de conhecimento de todos que acontece.

Não gosto deste tipo de comportamento e muito menos da conversa e da interação com o povo que aqui está. Então, como em todos os outros eventos, permaneço na mesa da minha família, mesmo que deixe meus pais irritados por jamais tentar me enturmar ou até mesmo flertar com algum ricaço.

Nem me incomodo, pois tenho coisas mais importantes com que me preocupar.

Lucius.

Se virá, se estará sozinho. Se meu coração retumbará no peito apenas por olhá-lo.

Paro minhas reflexões para me atentar à realidade. Pois melhor que sonhar com ele, é deleitar-me com sua imagem.

Fala-se muito de beleza de parar o trânsito, mas a cena que se apresenta aos meus olhos é mais que isso.

Não se limita à beleza. É mais, muito mais!

É presença, é poder. É conseguir chamar a atenção até das idosas. É ter sobre si todos os olhares.

E o banquete é de encher os olhos. Chacoalha tudo dentro de mim.

Mas ao observá-lo de forma mais minuciosa, percebo que tem algo diferente.

Parece que procura algo e que está longe de querer beldades ao seu lado nesta noite.

Sei pela forma como se livra delas. Como parece procurar por alguém.

Olho para ele de forma tão insistente, que consigo assimilar tudo isso.

Nossos olhares se cruzam. E um arrepio me toma por inteiro.

Lucius parece encontrar o que procura. Parece encontrar sua presa.

Um sorriso desponta em seu rosto, como se estivesse feliz com minha presença aqui.

Um calafrio me toma, pois por mais que eu sempre fixe meu olhar nele, não sei se estou pronta para realmente ter a sua atenção sobre mim.






Conheçam nossa mocinha. Eis aí Melissa Lacerda!


Bjo grande!

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