Parte 3

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ALERTA: Esse capítulo contém gatilho sobre suicídio, então caso se sinta desconfortável, não leia.


*****


"Onde é que a gente tá?" Patrick ri meio cambaleante e se apoia em Ivan para não tropeçar no caminho "Espera, deixa eu adivinhar, mais uma das propriedades do grande Cruz Carvalho."

Ivan nega com a cabeça ajudando o rapaz a entrar no apartamento. Patrick ainda está muito chapado, o que faz com que seus passos fiquem mais pesados e Ivan tenha um pouco mais de trabalho para trazê-lo para dentro.

Nada que ele já não tenha feito mil vezes antes, no entanto, quando seu pai voltava após longas noites de bebedeiras.

"É de um amigo meu" ele responde então "Ele tá viajando e deixou as chaves comigo. Às vezes eu fico aqui quando, sei lá, tô cansado de tudo."

"Amigo... aham, claro."

"Relaxa, você ainda é o número um." Ivan brinca de volta e beija a bochecha de Patrick o levando com ele para um dos quartos no final do corredor.

No fim das contas, é um bom apartamento , Patrick pensa consigo a medida em que observa o ambiente ao seu redor repleto de paletas escuras e enormes janelas que dão vista para toda a cidade lá fora. Não é tão grande quanto os lugares que já visitou, mas ainda assim, sofisticado e minimalista o bastante para valer uma nota.

Ele pode facilmente se imaginar morando num apartamento assim no futuro. Talvez ao lado de Ivan.

Quem sabe.

Uma vez que estão no quarto, Patrick suspira e desaba sobre a enorme cama, aliviado por finalmente ter algo macio para descansar as costas.

Ele sente as mãos de Ivan tirarem seus sapatos e calças, mas não se importa. Apenas deixa o outro despi-lo enquanto fica encarando o teto sem fazer nenhum esforço. Ele não conseguiria mesmo se tentasse, ainda há muita droga correndo por seu organismo. Drogas que deixam o quarto meio distorcido sob sua visão e drogas que logo precisará pôr para fora.

"Você tá legal? Quer um pouco de água?" Ivan pergunta e tudo que recebe é uma risada agridoce de Patrick.

"Você adora isso, não é?"

"Como assim?" Ele ri de leve "Isso o quê?"

"Isso..." o garoto aponta para nenhuma direção em particular "Me tirar do antro de perdição, cuidar de mim, bancar o herói, você adora esse... como é que chamam? Senso de responsabilidade. Faz você se sentir melhor do que eu, né?" ele tenta se erguer um pouco, mas está tonto então cai de volta na cama "Aposto que sei o que tá pensando agora: 'oh pobre Patrick, nem consegue se virar sozinho, o que ele vai fazer agora sem o pai?'"

O sorriso no rosto de Ivan some.

Não é preciso se esforçar para identificar que por debaixo de toda a risada divertida, a fala de Patrick está carregada de mágoa e irritação, como quando na última vez em que conversaram.

Aos poucos o efeito do álcool está sumindo, e juntamente com ele, está sumindo também o Patrick que minutos atrás dormiu sobre Ivan, sorriu para ele e o deixou transpassar os dedos em seus cabelos.

Esse aqui é o Patrick que o odeia, e está cheio de mágoa e cortes por dentro.

"Você tá bêbado." Ivan murmura não querendo estender muito a situação "Tenta dormir um pouco."

"Nunca te disseram que bêbados e crianças sempre falam a verdade han?"

"Ah é? Que verdade é essa?" Ivan se inclina para ele.

O Que Você e Eu TemosOnde histórias criam vida. Descubra agora