I - Dono das minhas fantasias

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Boa leitura
Perdoem os erros de escrita

Entrei no elevador carregando duas sacolas de feira abarrotadas de compras, distraída como sempre no meu próprio mundo, nem percebi quando o albino entrou. Na verdade, estava em um daqueles dias que realmente não me importava com a aparência ou a presença de quem quer que fosse, prova disso era meu cabelo mal penteado, o moletom surrado, e a minha cara amassada, com a mente em outro universo. Ter a companhia de um vizinho qualquer no elevador nem me importava, muito menos interessava, se começasse a conversar eu responderia monossilábica para mostrar meu desinteresse e a pessoa certamente se calaria. 

Ainda dentro da minha cabeça, percebi pela visão periférica o terno bem cortado, os sapatos lustrosos, as mãos enfiadas no bolso, mas o que mais chamou a atenção era aquele perfume inebriante, eu sabia de quem pertencia, contudo, não me atreveria a olhar para o homem parado na minha frente. Se olhasse, provavelmente ele descobriria todos os meus delírios, aquilo que a minha mente de imaginação fértil criou com apenas uma troca de olhares distantes. Ah kami! Por que faz isso  comigo? Ele preso nesse cubículo comigo é pedir para me matar de tesão, criar as mais insanas posições, os mais sujos e promíscuos desejos, os quais não conto nem para meus amigos mais confiáveis. 

Mordi o interior do meu lábio rezando para continuar com minha cara de paisagem, era como se de alguma forma meus músculos quisessem ganhar autonomia e fazer tudo o que a consciência censurava, esqueci como esse negócio de coordenação motora funciona. Como gostaria de poder evaporar.

Contudo, nem tive a possibilidade de fazer nada pelo riso frouxo que o homem deu me olhando de canto, como se dissesse "Eu sei o que está pensando". 

Minha boca secou sob o efeito das íris em um estranho tom arroxeado me encarando com uma sombra maliciosa. O que era aquilo? 

Prendi a respiração sem nem perceber, o oxigênio não passava para chegar aos pulmões de forma alguma. Desde quando um estranho possuía tanto poder sobre mim? 

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A estação mais fria do ano certamente não era a minha favorita, o inverno e suas temperaturas abaixo de zero não eram compatíveis comigo, minha pele pedia pelo calor do verão e a ponta do nariz faltava criar estalactites de gelo na ponta, além dos dedos ficarem congelados. Realmente aquele frio destrutivo não combinava comigo.

Contudo, foi exatamente naquela estação que precisei me mudar para Tóquio, ganhando uma bolsa na universidade acabei indo morar na casa de uma tia a qual não via desde uns dez anos. Graças a minha mãe.

Ela me recebeu em sua casa num complexo de prédios denominados por letras, morávamos no prédio c no apartamento 203, posso dizer que o lugar era bem agradável, com suas ressalvas, algumas pessoas desagradáveis como em qualquer outro lugar existia. 

Nossas vidas eram tão monótonas, o que eu poderia dizer de conviver com um uma mulher de 53 anos viciada em fofocas de famosos e chás suspeitos da Internet? Além de cuidar de um poodle insuportável chamada de Docinho, de doce aquele demônio não tem nada. Me perseguiu pela casa latindo na minha canela com seus lacinhos rosas, e não posso nem chegar perto da comida dela para colocar mais ou trocar, às vezes a tranquei de propósito na varanda para ela gritar com os pombos e encher o saco dos vizinhos. Ou eu mesma me trancava lá, mesmo que tivesse um vento terrivelmente frio, gostava de olhar as luzes na cidade para fugir daquela  bola de pelos… e também, observada quando um certo alguém chegava no conjunto de prédios.

Em dias frios  (Izana Kurokawa)Onde histórias criam vida. Descubra agora