Mesmo que o choramingo de Lucy não chegasse, no momento, aos ouvidos de Peter, ele ainda os escutava, ecoando como um ciclo que nunca chegaria ao fim.
Porque nunca chegava, de fato.
Porque Lucy chorava todas as noites em seu sono.
Porque ela sentia falta de Nárnia.
Porque era um balde de água fria achar que você está em seus aposentos em Cair Paravel, e ao abrir os olhos, ouvir sua mãe te chamar para ir à escola.Essa era a parte mais reconfortante, não sobre ir à escola, mas ouvir a voz de sua mãe. Por 15 anos, Peter nem se lembrava dela, e seus irmãos também não, então a sensação esmagadora que ela sempre esteve ali, há um guarda-roupa de distância, o fazia se sentir pequeno, porém grato.
Mas o peso de compartilhar sua experiência e seus anseios, ele guardava para si mesmo.
Pior que Lucy, era Edmund. Seu irmão mais novo estava estressado, não sabia como lidar com sua nova-antiga vida; enquanto Lucy descontava em lágrimas, Edmund descontava em si mesmo, se punindo ao brigar com outros garotos na escola e se metendo em confusões que terminava nas costas de Peter, tanto para defendê-lo, quanto para arcar com consequências. E Susan...
Susan se fechou para tão dentro dela que parecia não querer se abrir mais, mesmo que você batesse na porta, sua irmã não abria porque estava procurando se envolver com coisas novas, para esquecer. Esquecer era mais fácil do que enfrentar o luto da perda, porque ele era cruel demais. Peter sabia que cada um deles tinha uma forma diferente de lidar com o afastamento abrupto de Nárnia, e doía muito, à sua maneira.
Peter Pevensie era uma mistura dos três naquele momento, guardava para si mesmo a raiva e a sensação de que poderia ter feito algo mais. Algo melhor.
O garoto de 14 anos encarou seu reflexo no espelho quebrado da escola. Seus olhos estavam cansados e havia olheiras por noites mal dormidas, enquanto nelas tentava se convencer que Aslan fizera a coisa certa, afinal, Londres era sua casa, seu lugar.
Mas Nárnia era seu lar, e o fato de não estar lá fisicamente, o tentava convencer que sua "missão" havia chegado ao fim. Convencimento esse, carregado de angústia e um quê de negação.
Uma batida contínua na porta do banheiro masculino e chamados incessantes arrancou Peter de seus devaneios, o fazendo lavar suas lágrimas com a água fria que escorria da pia, afastando temporariamente a expressão exausta. O rei jogou sua mochila nas costas e saiu.
Havia muito peso nos ombros de um garoto que carregava uma coroa de responsabilidade muito custosa. Esse peso ecoou infinitamente durante os últimos meses. E ecoaria durante os próximos.
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Notas: roi 👀
*some por meses*
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eco
FanficPeter Pevensie com 14 anos, encarando o próprio reflexo em um banheiro escolar, cansado, com olheiras, porque as preocupações de um rei insistem em cair sobre ele, mesmo que o rapaz não governe Nárnia há um bom tempo. • personagens de c.s. lewis