Ojisan

Mata Kondo da

O lugar era escuro e a água batia nas canelas do garoto, o silêncio sendo quebrado pelos passos na água e um ronronar de um gato, ele caminhou em frente até parar numa grade, na verdade um portão com um selo em seu meio. Demorou alguns minutos até entender que estava em sua consciência, sentia um calor em seu peito, mas ele não atingia o resto de seu corpo, na verdade o frio que sentia nas pernas ia subindo, para as coxas e logo no ventre, ia se apossando do peito, devagar e diria até que dolorosamente. 

Estava morrendo, concluiu. 

Ao fundo do portão via dois olhos o encarando um amarelado e um verde, ambos fixos nele, mas isso não o assustava, estava com mais medo de morrer e sabia que uma das chances de permanecer vivo era se a besta que havia dentro dele o ajudasse. Mas como convencer um animal aprisionado a ajudá-lo? O fato dos dois morrerem deveria ser o suficiente, mas pelo jeito não. 

-Gato, vem aqui me ajudar! - Chamou de um modo meio desajustado, não sabia como puxar conversa com uma Bijuu, se perguntava como o Nanadaime fazia. 

- Eu tenho nome. - respondeu sem emoção, sem olhar para ele e percebendo que havia desespero no jeito que ele falava. Hideki sabia seu nome, mas não costumava chamá-lo assim, o chamava de gato, pensava nele como gato.

- Você é o Matatabi, não é? Pode me ajudar ? - pediu com dúvida da resposta. 

- Sou uma garota e não, não posso. 

- Ah qual é ? -  o desespero começava a influenciar suas atitudes e sua voz. -  Nós vamos morrer! -  o frio começava a ganhar do calor em seu peito. 

- Se você morrer eu vou ser livre de novo… - levantou a cabeça para encará-lo de cima. -  é, acho que eu não quero. 

- Por favor! -  implorou o garoto. 

- Tire o selo. - exigiu a Bijuu de duas caudas. 

- Não posso. - mentiu. 

- Então morre aí… - deitou exatamente como um gato preguiçoso enrolado, deixando o garoto desesperado do lado de fora do portão. 

- Eu dou um jeito de te libertar, igual a Kurama e Gyuki, mas por favor me ajuda, só preciso de um pouco de chakra. 

- Eles nem são livres…  - disse deitada na mesma posição. Ele choramingou. 

-  Mas não tem selo nenhum com eles, nem portão, nem grade, nem nada disso… - tentou pela última vez. Com um ronronar preguiçoso ela se levantou e se espreguiçou, exatamente como um gato, se aproximou das grades e chegando perto de Hideki, que se não fosse minimamente acostumado, teria assustado com o tamanho da Bijuu, o fogo azulado e os olhos um de cada cor. 

- Toque - Esticou a pata para ele, que tocou de leve, com medo de levar um choque ou algo assim. -  Você me deve essa. Não se esqueça.

- Eu vou dar um jeito, eu prometo.  -  disse antes de sentir a consciência voltar. 

Abriu os olhos e a sua volta via todos, Sarada chorosa, sua mãe irritada mas com os olhos molhados, seu irmão tentando arrancar os cabelos negros, seu pai e seu tio com uma feição aliviada. Estava cansado mas sorriu ao ver todos vivos, relaxou abaixo das mãos de sua mãe.

- Você voltou - disse aliviada uma Sakura de voz chorosa. 

- Se você morresse eu ia te matar -  disse Hiroshi, com a voz tão embargada quanto a da mãe. 

- Eu tô bem -  disse o garoto se levantando. Mas sua mãe o impediu. 

- Onde pensa que vai? Não senhor, pode ficar deitado ai. - O baque havia sido muito forte e Sakura tinha suas dúvidas de como ele havia recuperado a consciência tão rápido, já Sasuke assistiu a tudo, a interação, o pedido e o toque na pata que o trouxe de volta no último instante. 

- Mas mãe eu tô bem. - Sakura negou com a cabeça. Ele teria pelo menos uns três dias de cama sob supervisão da médica ninja.

Itachi sorriu para a cena, era prova de que seu irmão tinha uma vida maravilhosa, melhor do que sempre sonhou para ele. Tinha três filhos fortes e saudáveis, que se amavam e mesmo com as brigas e discussões, itachi sabia que um sempre poderia contar com outro, sem a sombra de uma vingança ou o que quer que fosse, havia também Sakura que era tão boa para Sasuke quanto Mikoto foi para Fugaku e os filho, de certo modo dava a Itachi uma força incomensurável de continuar sua árdua e triste missão de proteger a Folha sendo um espião. Mesmo em meio a tristeza de ter matado seu clã e seus pais, nesse momento Itachi encontrou um motivo a mais para continuar, e esse motivo eram seus sobrinhos. 

- Acho que essa é minha deixa -  disse baixo, mas chamou a atenção de todos - preciso partir antes que Deidara acorde.

- Não! Você ainda não tá totalmente recuperado - Hideki não havia dado alta para seu paciente e no fundo queria que o homem em pé ao seu lado ficasse para sempre. Sentiu nele uma conexão forte, mais forte que a de seus pais. 

- Eu vou ficar bem, não se preocupe. Mas eu preciso ir. antes que a minha linha do tempo seja alterada. - o garoto de cabelos rosados olhou para baixo triste. infelizmente ele tinha razão, pois até mesmo ele podia sumir se Itachi e os outros não voltassem. 

- Como você pretende fazer com Sasori ? - pela primeira vez Sasuke falou depois de Hideki ter acordado. E o garoto teve quase certeza de que ele estava com a voz embargada. 

- Vou tentar dar um jeito de manipular a mente de Deidara, fazer com que Sasori pense que foi uma ilusão, se Deidara disser que não passou de um genjutsu ninguém irá acreditar nele. Nem ele mesmo. 

- Acha que vai dar certo ?  - Hiroshi entre os três irmãos era o que mais dominava genjutsu, e sabia que seria difícil chegar a esse ponto. 

- Conto com isso. - ele sorriu para o sobrinho, um sorriso que Sasuke a muito não se lembrava, suas últimas memórias de seu irmão, ainda em Konoha, eram de um itachi triste e pensativo, absorto em suas atividades que Sasuke não fazia ideia de quais eram, tinha como base apenas o que sua mãe dizia e o toque na testa de Itachi acompanhado da frase “Talvez na próxima" que tanto irritava Sasuke. 

A tartaruga da viagem no tempo fora trazida por Sasuke, assim como a capa da Akatsuki que Itachi vestiu de volta, os gêmeos olhavam tristes para o homem, Sarada entendia que ele deveria voltar, mas se sentia triste pois nunca mais voltariam a ver o homem que protegeram de sua mãe, que estariam de castigo eterno (talvez). Sasuke sabia que ele devia voltar e se sentia grato por ter podido rever seu amado irmão e ter mostrado a ele que no fim, ele havia conseguido. 

- Eu preciso agradecer a vocês dois -  disse se abaixando e olhando para Hideki e Hiroshi, sentados no chão - Sem vocês eu estaria morto. 

- Queria poder fazer mais. -  Hideki baixou os olhos tristes.

- Você não tem noção do quanto fez por mim e sou grato a vocês, por tudo, pelos cuidados, a comida, as risadas e a confiança. 

- Ah que isso, não foi nada - disse Hiroshi sorrindo -  vamos ficar num castigo eterno mas valeu a pena - disse abanando a mão com se não fosse nada e logo olhou sua mãe de braços cruzados olhando para ele, um claro sinal de que seria algo sim. 

- Muito obrigado. - ele disse por fim - e obrigado Sarada, por não ter me matado, acima de tudo. - a mais velha dos sobrinhos sorriu terna. mesmo depois do susto foi gratificante conhecer o irmão de seu pai. 

- E, Sakura, Sasuke, obrigado tambem. - Sakura sorria com os olhos cheios de lágrimas, só ela sabia o quanto Itachi era importante para Sasuke, ele se levantou e abraçou o irmão - Não sabe o quanto estou feliz de saber que você conseguiu, depois de tudo, você conseguiu ser feliz. Mais feliz do que eu jamais sonhei. - sentiu o irmão lhe apertar as costelas no abraço.

- Eu quem devo agradecer. Mas não vou te dizer o porquê, no futuro você saberá. - Sasuke soltou o abraço e tocou a testa do irmão com dois dedos. -  Fica para a próxima. 

Itachi se virou e deu uma última saudação para entrar no portal com Deidara em seu ombro direito e o cilindro de Sasori embaixo do do braço esquerdo. Entrou e logo o portal se fechou, deixando apenas a paisagem à frente deles.

- Ele vai ficar bem ? - Hideki perguntou olhando para o pai.

- Sim, ele vai.