Capítulo único

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18 de junho de 1818

Mesmo que vivesse até os cem anos, Michael Stirling tinha certeza de que nunca esqueceria a primeira vez que viu Francesca Bridgerton.

Ele estava em um baile que celebrava os três anos da Batalha de Waterloo e a derrota final de Napoleão no campo de batalha e, como alguém que realmente esteve lá, Michael não estava impressionado. O resto da alta sociedade certamente parecia se divertir com as bandeiras francesas sujas de terra e "sangue" (que ele acreditava ser suco de tomate) em exibição, mas ele não achava aquilo nada divertido. Ele estava lá naquele dia. Não havia nada naquela festa que lembrasse minimamente a cruel realidade de um campo de batalha. Não. Aquela festa dourada era apenas um ato político, uma forma de fazer parecer que eles se importavam com seu povo. Como se eles realmente se importassem com os milhares de homens que deram suas vidas pelo país e que agora estavam enterrados em uma terra estrangeira, sem nada além de uma pilha de pedras para marcar seu túmulo coletivo.

E o pior é que definitivamente não estava surpreso por estar entediado na festa, porque sabia desde que tinha recebido o convite como aquela noite seguiria.

Todos os oficiais que haviam lutado em Waterloo e nas batalhas anteriores contra Napoleão deviam comparecer usando seus uniformes completos, o que significava que seria uma noite em que ele ouviria apenas as frases "obrigado por seu serviço. Foi horrível lá fora, hein?" e absolutamente nada mais. Se não fosse pelos apelos da mãe e da tia, ele nunca teria saído de casa naquela noite, mas, como elas fizeram questão de dizer várias vezes, não era todo dia que alguém recebia um convite da própria Rainha Charlotte, muito menos um informando que receberia uma medalha por (acidentalmente, ele sempre acrescentava) tropeçar em Wellington e tirá-lo do caminho de um tiro de mosquete potencialmente fatal.

Os músicos começaram a se aquecer e a batida dos tambores encheu o ar. Esse foi o momento em que Michael pediu licença à sua família e saiu para tomar um ar. A ideia de alguém pedir para a banda fazer o aquecimento com a mesma marcha que foi tocada naquela manhã era simplesmente perturbadora. Sinceramente, por quê?

Ele acreditava ter saído da guerra menos marcado do que a maioria dos homens, com todas as partes do corpo intactas (exceto por uma discreta cicatriz no braço direito) e com a cabeça quase no lugar, mas o som dos tambores ainda tinha o poder de perturbá-lo. Nada muito sério, apenas alguns momentos de desconforto no início de alguns bailes e apresentações musicais, e, nos dois anos e meio desde seu retorno à sociedade, tinha se acostumado com isso. Não era mais transportado de volta às terríveis batalhas, mas ter que permanecer composto enquanto ouvia aquilo vestindo um uniforme durante um baile comemorando os três anos desde o fim dos conflitos era pedir demais.

Só preciso de alguns minutos sozinho e ficarei bem, ele pensou enquanto parava perto de um pilar no terraço, escondido de qualquer um que estivesse saindo do salão por uma pequena árvore. Ele gostaria de poder fumar naquele momento, mas acidentalmente deixou o cachimbo na carruagem. Começou a se perguntar se poderia ir discretamente à carruagem para pegá-lo e, caso pudesse, qual seria o caminho que usaria para chegar à frente do palácio enquanto evitava retornar ao salão de baile. Quando finalmente decidiu que daria a volta por toda a propriedade, ouviu as portas do terraço serem abertas e, logo em seguida, fechadas.

- Eu não posso acreditar que alguém realmente pensou que isso era uma boa ideia. Não acho que qualquer um que realmente esteve naquele campo de batalha teria aprovado qualquer parte dessa festa. - uma voz feminina levemente frustrada e irritada disse, e Michael se virou para ver a mulher que disse o que provavelmente era o primeiro pensamento coerente que ele ouviu a noite toda.

Ela estava parcialmente nas sombras, então ele não sabia dizer se o cabelo dela era castanho ou loiro, se seus olhos eram azuis ou verdes, mas, de alguma forma, ele sabia que aquela era a mulher mais bonita que ele já tinha visto. Durante seus anos servindo o exército no continente, ele tinha visto mulheres de todo o mundo, até mesmo uma princesa estrangeira ou duas, e ainda assim, mesmo antes de poder vê-la com mais clareza, sabia que nenhuma delas se comparava a ela.

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