Ajudando meu amigo a alugar um AP

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Fiquei muito feliz quando consegui passar para arquitetura. Eu mal conseguia respirar. Todos os meus amigos me deram parabéns. Eu estava tão consumida pela euphoria que esqueci completamente da minha situação.

A voz na minha cabeça fazia questão de me lembrar: a facu era em outra cidade e eu teria que acordar muito cedo e pegar dois ônibus para chegar. Sem falar que eu não tinha conhecidos nem parentes lá.

Não tenho a mínima ideia do que faria caso eu me metesse em apuros. Quem me socorreria? Meus pais? Eles estariam longe. Meus novos amigos que faria lá? Nem pensar, ninguém se importaria com alguém que acabou de conhecer. Sou estranha demais para cativar alguém em tão pouco tempo.

A solução parece óbvia: desistir.

Olho para o espelho, esquecendo minhas preocupações por um momento.

Tento amansar meu cabelo com a escova pela quarta vez, inútil. As vezes me pergunto o porquê dele não escolher apenas um gene para se basear. Por que teve que mistura a informação e me fazer ter um cabelo que nem é liso nem cacheado.

Quando consegui um resultado mais ou menos aceitável percebo que estou atrasada. Não acredito que isso consumiu tanto meu tempo! Pego meu celular e coloco na minha tiracolo rosa. Tenho certeza que ele vai rir muito quando vê que eu menti quando disse que tinha jogado ela fora.

Sorri quando lembro que estou indo encontrar o Eliot, um dos meus melhores amigos no mundo.

Fizemos amizade em um dia qualquer, no face*, meus posts propagando o ódio contra os homens tinham chamado sua atenção. Eu estava furiosa com os homens - em minha defesa eu havia acabado de ser iludida por alguém que achei ser minha alma gêmea e eu tinha 14 anos - Falamos sobre tudo um pouco naquele dia, mas eu com minha raiva sempre puxava o assunto para o tema: todos os homens são iguais. Com sua calmaria ele não tentou me corrigir ou me fazer mudar de ideia, muito menos se ofendeu.

Algo que sempre me chamou atenção nele, ele não fica com raiva fácil. Parece até que foi ontem e não a 4 anos atrás que nós conhecemos.

Fecho a porta e caminho conferindo a hora no celular. Ainda dá tempo de encontrá-lo na parada de ônibus se eu correr.

Felizmente nunca gostei de usar salto, sou uma eterna fã dos All-Star. Segurando minha bolsa corro desesperadamente pela calçada.

Não muito longe do meu destino já consigo vê-lo. Um garoto alto, cabelo preto bagunçado, uma pele pálida demais para o normal, moletom azul escuro, inconfundível. Parece até que ele nasceu com este moletom.

- Caramba hein - disse ele assim que cheguei.

- Calado...- digo ofegante.

- Você está acabada haha.

- Eu disse...pra - quase não consigo falar.

O Ignoro e sento no banco, atrás dele.
Impressionante, não achei que chegaria sem fôlego assim. Ele apenas me observa com um grande e estreito sorriso. Espero que não tenha se dado conta da pequena bolsa rosa ao meu lado. O ônibus não demora muito para chegar.

Dentro do ônibus percebo, pelo reflexo do vidro da janela, nossa diferença de altura. Me sinto até uma anã comparada a ele.
Eliot está olhando o celular e não me vê o admirando. Talvez seja até melhor, ele não hesitaria em fazer um piadinha.

Mariot - Um romance +18Onde histórias criam vida. Descubra agora