O batismo

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— Estamos quase lá, vamos — Gregório aponta para o céu, raios dourados tingiam as nuvens brancas, o entardecer estava próximo.

Seus últimos cinco minutos de caminhada foram os mais árduos de sua jornada. Saíram da trilha de Lorenzo buscando uma entrada para as ruínas e encontraram um atalho que poderia os levar a escadaria.

Gregório impulsiona-se para frente, pula em uma das árvores e usa as trepadeiras para subir até os degraus da escadaria. Niro e Geni dão alguns passos para trás, estavam suados e ofegantes. Ambos seguem o exemplo de Gregório, com uma certa dificuldade. Ao chegaram na escadaria, caem ao chão e recuperam o folego. Um amontoado de panos nas costas de Gregório começa a se mexer e barulhos de choro podem ser ouvidos. Gina olha para sua filha, envergonhada. Sentia-se mal por deixar um Idoso carrega-la, Infelizmente, Niro era desastrado e ela estava exausta. Não conseguiria manter seu ritmo a carregando, só lhe restava pedir ajuda a Gregório.

— Sua filha dorme como um anjo, Geni. Se os meus fossem desse jeito, minha barba não estaria infestada de fios brancos — Niro aponta para suas costeletas, com um semblante triste — Deveria ter educado eles melhor.

— Dorme como uma pedra, igual o pai. Ela está acostumada ao barulho, só acorda com o estômago vazio.

— Não trouxemos suprimentos, como você planeja o alimentar — Niro buscava algo em seus pertences, mas não conseguira encontrar nada comestível. Gregório não os permitira ingerir nada da floresta, então ele estava faminto após uma longa jornada.
Geni retira seu filho do emaranhado de tecidos nas costas de Gregório, ignorando a pergunta imbecil de Niro.
O trio começa a subir a escadaria, pouco a pouco chegam próximo do topo. Ao Gregório balançar os arbustos bloqueando sua passagem, seu campo de visão pode atingir o horizonte das ruínas.
Todas suas conjecturas e deduções se provaram falhas, diante da imensidão dos grandes campos a sua frente.

Era um local de construções colossais, templos com pilares maiores que montes e estátuas de criaturas gigantes. Tudo era coberto por um mármore cintilante que durante o pôr do sol, refletia o brilho prateado das estrelas. A luz criava um invólucro sagrado, engolfando as ruínas e adentrando as profundezas da floresta, onde a visão sua visão debilitada não poderia alcançar.
A floresta, no que lhe concerne, invadia cada parte das ruínas, somente ela poderia se atrever a questionar sua autoridade. Raízes de árvores perfuravam o solo e edifícios, manchando as estruturas com o verde de sua vitalidade. O aroma das ruínas era indistinguível, impregnava seus corpos e suas almas, mesmo sem permissão.

Gregório sai de seu estupor após longos minutos. Não acreditava que nem mesmo uma rocha daquelas ruínas poderia ser concretizada por mortais, algo tão belo não poderia ser criado por mãos dos homens. Ele entra em uma das casas no topo das ruínas. Os móveis eram lapidados em mármore e eram proporcionais para cada um dos cômodos, tinha uma ampla sala de estar, uma cozinha com uma varanda ao seu lado e tantos outros cômodos aos quais ele não se atrevia a distinguir a função. Gregório duvidada do conforto de suas camas, mas algo fisgou sua atenção. O chão empoeirado estava coberto de pegadas. Embaixo de cadeiras, encontrou algumas embalagens de produtos industrializados e sacolas.
Gregório foi até a porta buscar seus companheiros. 

Geni entrara em outra casa e estava ocupada alimentando sua filha. Niro escuta os barulhos de Gregório e o auxilia a vasculhar a casa. Em um dos móveis de pedra, quadrados e com gavetas rígidas, Niro encontra vasos de cerâmica com inscrições geométricas. Gregório os destampa e a leva até o nariz. Tinha o odor doce dos favos de mel e um cheiro leve do álcool, Gregório já ouviu falar de uma bebida como esta.

— Deve ser hidromel, já experimentei algumas vezes. — ele entrega o vaso para Niro — O cheiro está excelente, mas a cor está esbranquiçada, não fermentaram direito.

O conto da trindadeOnde histórias criam vida. Descubra agora