Eu estava ansiosa para aquele acampamento. A ideia de sair de uma completa solidão após a morte dos meus pais era boa. Eu não aguentava mais ser sugada por aquele sofrimento, era fato que eu mudara de opinião. Eu odeio aquele acampamento.
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O calor percorria minha pele, quem dera fosse apenas o sol, tremedeira, inquietação, uma mistura de sentimentos e sensações dais quais eu não sou a favor de sentir, tudo parecia estranho, novo, eu estava pronta para dar meia volta, me contrariando...Eu sempre fui aberta para mudanças, mas, a algo nesse lugar que arrepia cada fio da minha nuca. Não posso mentir, tinha um ar muito bom, tinha cheiro de lavanda e me lembrava o velho campo de flores que eu percorria quando era pequena e não órfã, paisagem bonita, diversas flores cobrindo um imenso jardim, árvores grandes e em formatos ironicamente artísticos como se fora feito a mão de um escultor, havia lagos onde pássaros pousavam vez ou outra e patos mergulhavam em conjunto, era realmente lindo, as cabanas bem reformadas, não havia um traço sequer que me fizesse achar aquilo estranho, porém, meu pai sempre me ensinou que "por trás de um rosto bonito, sempre haverá uma alma podre". Observei cada canto daquele lugar procurando por alguém que me ajudasse. Senti meu corpo colidir com o chão, e imediatamente me veio a ardência no joelho. Nada de bancar a boa samaritana.
-Olha por onde anda!-Fui completamente ignorada e ele permaneceu correndo com um outro garoto. Era com essas coisas que eu passaria o próximo mês? Pois eu já estava arrependida. Diferente daqueles dois um outro garoto me estendeu a mão. Sua pele era bronzeada e seu cabelo caia sobre o rosto, não pude deixar de notar o quão forte era seu braço, ele era alguns centímetros mais alto do que eu.
-Não ligue para eles, garanto que você se acostuma.- Gentilmente me levantou analisando a escoriação em meu joelho.- Isso vai ficar feio, vamos até a enfermaria.- Tem isso aqui? Talvez eu realmente estivesse errada sobre aquele lugar.- A propósito, meu nome é Jackson.- Eu estava verdadeiramente enganada sobre o acampamento, mas, minhas dúvidas voltaram quando vi uma garota rodando um estilete entre os dedos, ela estava parada na porta da enfermaria, o que não me era nem um pouco surpreendente. Era notório que seu cabelo havia sido cortado recentemente, as mechas encaracoladas caiam vagamente sobre parte de seu rosto, isso a deixava estranhamente atraente. Ela piscou para mim, só então me toquei que estava encarando muito e desviei o olhar envergonhada. Observei a enfermaria minunciosamente, o lugar era bem limpo e organizado, me passou uma leve confiança. A enfermeira de meia idade foi gentil ao me tratar, me sentira como uma criança nos braços da vó, era reconfortante, uma sensação que eu não sentira a muito tempo, mediante ao fato de que eu não tinha ninguém para chamar de família. Ao sair de lá um som estridente tomou conta de meus ouvidos, era demasiado extenso, e tampouco agradável. Então parou, sendo substituído por uma voz robotizada. Que dizia;
-Todos por favor se dirijam até a cabana principal, os monitores explicaram as regras e todos os eventos que aconteceram daqui em diante.
Andei até o lugar como havia sido dito, era grande, bem maior do que a outra cabana onde dormiríamos todos juntos, era bem decorada e fria, um frio inexplicável que lá fora não tinha, um calafrio percorreu cada centímetro de minha espinha quando o monitor chefe tocou meu ombro.
-Sinto pela sua perda.- Como? Como ele poderia saber algo que não foi mencionado em lugar nenhum? Jornal, inscrições, qualquer evidência estava encoberta, isso...isso era loucura! Engoli a seco sentindo uma gota de suor descer de minha testa até o alinhamento de meu queixo. Frio. Eu surtaria em menos de 24 horas.- Não se preocupe, garanto que com o tempo você vai gostar.- Novamente me lançou aquele sorriso amarelo de orelha a orelha. Tremi o corpo involuntariamente e ele se afastou andando com uma postura impecável.
